Transportes da PNA: EM OFICINAS CLANDESTINAS ‘DESTAPAM-SE’ SUPOSTOS NEGÓCIOS DE ALTAS PATENTES

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Altas patentes da Polícia Nacional podem estar envolvidos em negócios com oficinas privadas, em funcionamento clandestino, num esquema fraudulento que tem como base a reparação dos meios rolantes daquela corporação. Na ânsia do lucro, ignoram os riscos para a Segurança pública.

Por: Dumilde Fuxi

De acordo com dados obtidos numa investigação com selo “O CRIME”, dezenas de patrulheiros, carros e motorizadas são colocadas em oficinas privadas, espalhadas pela província de Luanda, para serviços de manutenção e reparação de avarias, apesar de a corporação possuir os seus técnicos e meios.

A concessionária de automóveis Motolivre Angola, localizada no Lar do Patriota, distrito do Benfica, que se dedica também à reparação de motorizadas de alta cilindragem e venda de acessórios, armazenava, até 28 de Julho último, terça-feira, cinco meios da Polícia de Trânsito nas suas instalações.

São as motorizadas com matrículas LD-54-37-FB, a LD-54-44-FB, a LD-54-32-FB e outras duas, cuja identificação não conseguimos apurar, todas da marca Yamaha, modelo FJR 1300, uma linha que a fabricante japonesa produziu especificamente para os órgãos policiais. A cilindrada é de 1.298, sendo que a potência máxima está nos 105.5 kw (143.4 CV).

Confrontado pela nossa reportagem, o sócio-gerente, bastante cordial no atendimento, adiantou que os meios foram reparados e estão prontos para os entregar à Polícia.

Rui Caiate referiu, ainda, que a relação com o órgão do Ministério do Interior se arrasta há já alguns anos e aquelas são apenas algumas das várias motorizadas que chegam à sua empresa para reparação, “porque as oficinas da Polícia não têm capacidade para o fazer, pois são meios de alta cilindragem”.

Esta afirmação, salienta-se, é contrária a que foi passada por uma fonte da Polícia, que não quis ser identificada, ao avançar que a instituição “tem capacidade técnica para acudir as várias situações que possam afectar os seus meios rolantes”. Dito de outro modo, descarta-se a possibilidade de não haver recursos humanos e materiais para a reparação das motorizadas nas suas instalações.

Vale referir que as motorizadas Yamaha FJR 1300, da Polícia de Trânsito, foram adquiridas pela empresa Motolivre Angola. Parte delas está com a equipa de batedores da Presidência da República.

Existem também os modelos usados pela Polícia de Intervenção Rápida (PIR) e pelos patrulheiros, vulgarmente conhecidos por “Pin e Puk”.

Outra oficina “visitada”, no quadro da reportagem, está localizada na periferia do bairro Nova Vida. Trata-se de um espaço quase clandestino e aparentemente habitado, com uma estrutura de um andar e sem qualquer letreiro que indique o nome da empresa, algo que, um tempo depois, viria a ser descoberto pelos rastos da investigação.

Na Jofal, as árvores, ao longo da parede, cobrem, parcialmente, a vista para os carros patrulheiros do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, recentemente adquiridos pelo Estado, para incrementar o patrulhamento e mitigar a criminalidade.

Segundo apurámos, as três viaturas estacionadas no quintal daquela oficina, duas delas com a matrícula LD-93-33-EO e LD-99-75-EY, já estavam prontas para a entrega, mas até à data, 28 de Julho, encontravam-se condicionadas ao pagamento da prestação de serviços.

Além daquelas, explica um funcionário da referida empresa, existem outras dezenas num estaleiro localizado na zona do Kilamba, adjacente ao Instituto Superior Politécnico Privado do Kilamba (ISPPK), na rua que acolhe a maior superfície comercial daquela urbanização.

No Morro Bento, rua do Centro Materno-Infantil Santa Maria, nas proximidades da Universidade Independente de Angola, funciona outra oficina clandestina, no quintal de uma residência, onde são reparadas viaturas da Polícia.

De acordo com a fonte contactada pelo ‘O Crime’, isto acontece com a finalidade única de os responsáveis pelos transportes da Polícia lucrarem com a reparação dos meios em oficinas privadas, alegando incapacidade técnica do órgão.

Portanto, continua, enquanto a Direcção de Finanças não disponibilizar as verbas para o pagamento do serviço, as viaturas continuarão ali, quando deviam estar à inteira disposição das forças, para atender a demanda de crimes na sociedade.

Um estaleiro “inexistente”

De acordo com um dos funcionários da empresa Jofal, o estaleiro, localizado no Kilamba, é reservado a viaturas com avaria no motor e em reparação na oficina do Nova Vida. Neste estado, confirma, estão vários meios da Polícia Nacional.

Entretanto, nos contactos que mantiveram com a nossa equipa, aqueles responsáveis recusaram-se a indicar a localização exacta da superfície.

Porém, em interacção com um repórter, que até simulou ser potencial cliente, um dos interlocutores, filho do proprietário da empresa, cuja identificação ocultamos por respeito ao seu nome, limitou-se a dizer que esta questão teria de ser tratada “com o meu pai, porque eu vou para lá poucas vezes, não conheço bem e distraio-me sempre pelo caminho”.

O mesmo adiantou ainda que, quando o remetente levasse a viatura para a manutenção, na oficina do Nova Vida, podia fazer acertos sobre o dia em que conheceria o estaleiro. Este, de acordo com um morador do bairro Povoado, no Kilamba, funcionava no mesmo espaço em que está, actualmente, instalada uma fábrica de blocos de empresários chineses.

O residente confirma ter visto várias viaturas da Polícia que ali eram armazenadas. Portanto, e uma vez que não existe nenhum letreiro da empresa ao longo daquela via, não foi possível localizar o estaleiro, desconhecido pela maioria dos moradores e técnicos mecânicos em exercício na circunscrição.

Apesar de várias consultas, inclusive via Internet, não foi possível encontrar qualquer empresa de direito angolano denominada Jofal e que presta serviços de mecânica.

Outrossim, “a julgar pela postura da empresa em ocultar a localização das suas instalações, não há dúvidas de que estejam a omitir alguma coisa às pessoas, pois, as outras oficinas colocaram letreiros à entrada das ruas em que funcionam”, declarou um morador do bairro Povoado, que nos acompanhou durante as mais de cinco horas em que tentámos localizar o estaleiro da empresa Jofal, onde estão, alegadamente, parqueadas várias viaturas da Polícia Nacional.

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