Atitudes negativas dos agentes da PNA: CORTAM VÍNCULO DE CONFIANÇA COM CIDADÃOS

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Em uma reportagem realizada por este jornal, em alguns bairros de Viana, Cazenga, Calemba 2, Dangerreux, Rangel e Urbanização Nova Vida, os populares foram unânimes em afirmar que os actos dos efectivos, ao matarem cidadãos indefesos, violarem menores de idade, entre outros, levaram-nos a perder a tímida confiança que preservavam pela Polícia Nacional de Angola (PNA).

Por: Jaime Tabo

A ronda iniciou no município do Cazenga, concretamente na Petrangol, onde encontramos Frederico Justino, 24 anos, que representa a voz de centenas dos seus concidadãos que afirmam não mais confiarem no trabalho da Polícia Nacional.

Para justificar a sua posição, Frederico diz: “não confio no trabalho da Polícia, aliás, como confiarei se o que eles fazem é questionável?”, questionou, para depois denunciar “neste bairro, bandidos perigosos vão presos e não demoram, em menos de uma semana estão soltos novamente, basta pagarem”.

Insatisfeito com o desempenho dos homens da Ordem, este cidadão apela ao órgão “a parar de explorar as pessoas inocentes e a passar a prender os gatunos”, pois, fundamenta, “cenas de assaltos nos arredores do posto policial têm ocorrido ante o olhar mórbido deles”.  Ademais, queixa-se da acção entorpecente dos agentes “eles atrasam muito quando são chamados, e olha que bem perto da minha rua tem uma esquadra”.

“As queixas são sempre as mesmas, visto que a delinquência está cada vez mais notável e a Polícia não faz nada visível”, afirma destemidamente, Suzana Matuvanga, 23 anos, também munícipe da Petrangol.

Questionada se confia na Polícia que a serve, Suzana retorquiu, “nem um pouco! Claro que não! Não confio neles, porque têm provado, a cada dia, que não são dignos de confiança”. Na visão desta jovem estudante, “o Ministério de tutela tem de estudar bem cada área e saber fazer a distribuição das unidades móveis, pois, se a Polícia estiver perto da população e não haver atrasos quando precisamos, julgo que melhoraria muito”, sugeriu.

Além de mais, conta que “um jovem vizinho foi agredido, no mês passado, por marginais e teve sequelas graves na cabeça, chegando mesmo a perder a memória. Mas graças a Deus está a melhorar. Fez-se a participação à Polícia e esta continua inerte”.

Bairro Tala Hady, Cazenga, é a zona da capital onde Vânia Kivota reside há mais de 10 anos. Ela conta que a intervenção da Polícia Nacional, no seu bairro, é muito vagarosa, devido à falta de uma esquadra no local. “Nesta periferia, há locais de aglomeração de pessoas que tem culminado com violência e perturbação da zona”, disse.

“Tenho estado muito insatisfeita com o trabalho da Polícia, por falta de segurança no meu bairro, perderam o hábito de interpelar um indivíduo que anda fora de hora, aliás, há muita ausência de Polícia nas ruas”, reivindicou a munícipe, que acha que a Polícia Nacional devia ser mais vigilante e actuante, tudo para minimizar o índice de delinquência nos municípios.

Pela negativa, Sónia dos Anjos, 26 anos, destacou a falta de policiamento na zona e o atraso ao se dar resposta às ocorrências criminais. Residente no bairro Calemba 2, diz que “são inúmeras as queixas que a leva a não mais confiar nos agentes da PNA”, pelo que questiona “quem nos há de proteger?”.

“Na zona, os bandidos mais perigosos são os filhos de policias e de FAA. Eles roubam, matam, violam, porém não são presos e, se acaso forem, não fazem mais de dois meses”, queixou-se, referindo, depois, que “a própria Polícia tem medo dos bandidos, porque são esses que comandam o bairro. Se tu és assaltado, não adianta ir à Polícia, é perda de tempo, talvez seguir o exemplo dos outros bairros seria uma boa solução: queimar os gatunos”.

Do Calemba 2, rumamos para Talatona, Dangereux, onde reside Marta Salongole, estudante do terceiro ano no curso de Comunicação Social. Com olhar preocupado devido a noite que se aproximava, ela delata “não temos a protecção da Polícia. Este bairro é muito melindroso e temos verificado pouca participação dos efectivos, no sentido de devolver-nos a ordem e a tranquilidade”.

De modo pertinaz, reforçou que “a Polícia, ao invés de fazer aquilo que, realmente, beneficia os cidadãos, empenha-se, arduamente, a infernizar a vida dos motoqueiros e taxistas, fazendo cobranças de dinheiro que não lhes diz respeito, a famosa mixa.

A jovem confidenciou-nos que, no passado dia 22, os populares verificaram a fuga de um dos assaltantes, devido à negligência da Polícia, o que a leva a concluir que a Polícia não está a fazer correctamente o seu trabalho.

Rangel, há alguns anos, foi tido como um dos municípios mais perigos da capital. De lá, no bairro Terra Nova, ouvimos Luduvina Caso, que considera o nome do bairro uma ironia, pois, diz, de novo o bairro só tem as técnicas de alavancar a criminalidade.

Afinal, para ela a queixa acerca do desempenho da Polícia no bairro é relativa à inactividade do órgão ante os muitos assaltos na zona, pelo que chama de “comportamentos inadequados” a posição e função social da Polícia, as mortes de cidadãos inocentes, provocadas por agentes, os abusos sexuais, entre outros crimes perpetrados pelos efectivos. Por estas e outras razões, esta cidadã angolana diz já não crer no órgão vocacionado para garantir a segurança e a tranquilidade públicas. Assim, é mais uma na estatística dos populares que se sentem insatisfeitos com o trabalho deste órgão do MININT.

No município do Kilamba Kiaxi, nem o nome tradicional “Kilamba”, do primeiro Presidente da República, é respeitado pela criminalidade. Na Urbanização Nova Vida, fomos recebidos por Adalberto Francisco que, mal estendemos o gravador, começou a apresentar as queixas: “os assaltos e roubos estão em demasia. Não confio nessa Polícia, há imensa incompetência.

O trabalho da Polícia, à luz desse morador, é apenas agredir as vendedoras de rua, zungueiras, os jovens que vendem bens nas ruas, como roupas e carteiras, pelo que diz: “não estou satisfeito com isso”.

No também conhecido município satélite, Viana, terminamos a reportagem. Tatiana Francisco, vive no bairro Caop A e afirma que “a Polícia tem desempenhado um papel vergonhoso e triste, visto que não tem salvaguardado a segurança do povo, que devia ser a sua vocação. As mortes, envolvendo polícias, são uma vergonha, isso é triste e descredibiliza o órgão”.

Tatiana acredita existir, ainda, efectivos com bom carácter, que mostram o real apanágio da organização. No entanto, não se contenta com o trabalho que a Polícia tem feito ultimamente.

Agora estamos no bairro Belo Horizonte, de onde Francisco Miguel assevera que o desempenho da Polícia é muito débil, pelo facto de não ter nenhuma esquadra nos arredores.

Diferente de muitos, Francisco diz não encontrar motivos para não confiar no órgão, uma vez que “ existe para garantir a tranquilidade e a segurança, apesar de que, ao cumprir a sua missão, tem havido algumas falhas”.

Sheilla Neves vive no Distrito Urbano da Baia e aponta a falta de profissionalismo como um dos itens que retira a sua confiança nos homens da farda azul. O abuso do puder que se tem verificado nos últimos tempos, diz, não satisfazer a qualquer cidadão, de tal sorte que o recente caso da morte do médico, Sílvio Dala, foi o acto que consumou a quebra da sua confiança na Polícia Nacional de Angola.

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