Sob pena de serem assaltados ou mortos: POPULARES SÃO IMPEDIDOS À LIVRE CIRCULAÇÃO

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No bairro Cawango, em Cacuaco, onde, recentemente, duas crianças apareceram sem vida, os assaltos à luz do dia, com recurso à arma de fogo, são, dentre outros crimes, os mais frequentes.

Jaime Tabo

Durante o percurso Cacuaco Vila-Cawango, cerca de dois quilómetros de estrada degradada, no interior da viatura, sente-se os fatigantes saltos que podem ocasionar complicações à saúde.

No local, os moradores começaram por concordar com o coordenador do bairro: “mesmo à luz do sol, há assaltos”.

Os RB e UCP são citados como os grupos que, com recurso a armas brancas (principalmente do tipo faca), roubam das pessoas. “Normalmente, não se pode andar expondo um smartphone ou dinheiro, poderás ser assaltado”, disse um morador, que revela a tática dos assaltantes: primeiro perguntam onde vive, se for de outro bairro, então efectivam o assalto, sendo que os bens subtraídos de residências ou de pessoas são comercializados no mercado do Sabadão, sito no bairro Kaop, em Cacuaco.

Os populares alertam que circular de noite é bastante melindroso, pois a falta de iluminação e policiamento, facilita que os marginais façam das suas, por isso, “há casos de assaltos que terminam em mortes”.

Com populares maioritariamente humildes, onde, até, par de chinelos também são roubados, os salteadores desejam mais os motoqueiros, causa que leva muitos a largarem cedo da labuta, para protegerem os seus bens, sobretudo a vida.

Félix Diniz é motoqueiro e vive no Mayombe, bairro vizinho. Com tristeza no olhar, narra que, em Outubro último, marginais, em posse de arma de fogo, espancaram e levaram a motorizada do seu colega, pelas 5 horas, ao sair de casa, para mais uma jornada.

Os comerciantes estrangeiros, há algum tempo, foram os mais vitimados, porém, actualmente, esta realidade tende a abrandar, não sabe de quem é o mérito, mas “da Polícia não”, diz José João, morador que assegura que a “Polícia aqui não trabalha conforme deve, se fores assaltado agora e ligares, vão atrasar cinco ou seis horas ou não aparecem”.

Outro morador, Eurico Vieira, afirma que a luta entre gangues é um elemento que atormenta os moradores e faz com que haja limitações para circular noutros bairros. “Nós, que vivemos no Cawango, não podemos chegar ao Mayombe e Bagdad, seremos agredidos”.

Para tanto, no último mês, conta, “ouvimos muitos relatos de pessoas que foram espancadas com objectos, que ocasionaram o derramamento de sangue das vítimas”.

Diferente da maioria, um comerciante, que prefere o anonimato, diz que o bairro tem algum sossego, “por nunca ter sido assaltado”, sendo que, muitas vezes, deixou o dinheiro das vendas no interior do estabelecimento, mas nada aconteceu.

A carência é evidente na vida daqueles cidadãos que recolhem resíduos sólidos para sobreviverem, num bairro que não conta sequer com uma escola pública e posto de saúde.

Por esta razão, vêem-se obrigados a deixarem suas crianças analfabetas, uma vez que os preços exercidos pelos privados não estão ao seu alcance: “ensino primário são 4 mil kwanzas e o segundo ciclo chega a 10 mil”, disse um morador, que acrescenta “a agricultura de subsistência é a principal fonte de receita”.

De acordo com o porta-voz do Comando Provincial de Luanda, inspector-chefe Nestor Goubel, a Polícia tem levado a cabo um trabalho de combate à criminalidade, através da esquadra local e da coordenação do bairro.

“Dizer que não há crime, estaríamos a mentir”, reconheceu e acrescentou que o órgão que representa tem trabalhado junto das comunidades, fazendo um serviço de porta-a-porta, o que os populares dizem ser inverdade.

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