Justiça por mãos próprias ganha terreno no Kilamba Kiaxi: MAIS UM SUPOSTO MARGINAL É ESPANCADO ATÉ À MORTE

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A vítima mais fresca da brutalidade popular, que se vai tornando hábito um pouco por toda extensão do município do Kilamba Kiaxi, até é descrito como um “indivíduo de boa-índole”. Entretanto, dizem testemunhas, estava no lugar errado e na hora errada.

Costa Kilunda

José Joaquim Kidiu, ou simplesmente “Big Sexy”, contava, até à data da sua morte, 28 de Novembro, sábado, com 31 anos de idade, bem na flor da sua mocidade. “Mas uma escolha errada na amizade ditou a sua sentença”, assim dizem alguns dos seus conhecidos.

O caso aconteceu no bairro 28 de Agosto, nas imediações do Golf 2. E, segundo contaram ao jornal O Crime os seus familiares, “Big Sexy” terá sido espancado, por populares, com catanas, pedras, bastões e outros elementos contundentes. A razão por detrás deste horrendo crime, disseram, tem que ver com o facto de a vítima ter sido visto a deambular pelas ruas daquele intrigado bairro em companhia de um amigo, supostamente militar, cuja reputação, nas cercanias, não é das mais simpáticas.

À data dos factos, como fez saber Catarina Kidiu, irmã do malogrado, por volta das 20 horas daquele fatídico dia, num momento em que o irmão até já se encontrava a dormir, apareceu em sua residência o referido amigo, o suposto militar, que atende, segundo ela, pelo nome de Eduardo Gonga, e que é vulgarmente tratado por “Edu” – a convidá-lo para irem a uma festa. José Kidiu  atendeu ao chamamento do amigo e ambos partiram para o local do evento.

“Mas, segundo ficamos a saber, não permaneceram lá por muito tempo, uma vez que, depois, o Edu levou-o para outra zona a fim de comprarem mais cervejas”, explicou a moça, para depois estranhar a necessidade de eles se deslocarem para comprar mais cervejas, quando, no entender dela, o que demais havia na festa era cerveja.

Além disso, explicou, na zona em que ambos se deslocaram para comprar as cervejas, e onde a vítima veio a sofrer retaliação mais tarde, dias antes, Edu, o amigo, havia criado uma confusão e, ao retirar-se, teria, alegadamente, feito disparos de arma de fogo, tendo um dos projécteis atingido os olhos de uma menor e a ter deixado com graves lesões.

“É isto que ele faz aqui no bairro. Ouvem-se tiros atrás de tiros, sobretudo quando está embriagado”, denunciou Catarina Kidiu, para mais adiante dizer que assim que foram identificados, num piscar de olhos estavam cercados por uma multidão de revoltados, que aguardavam, expectantes, por uma oportunidade para se vingar.

“Ele, o Edu, conseguiu escapar, e abandonou o meu irmão no local”, lembrou, revoltada, acrescentando que os populares o bateram com tanta violência, e, moribundo, estatelado ao chão, só não o atearam fogo graças a pronta intervenção de um cidadão, que o reconheceu, e apelou que o deixassem ir. Pois, segundo os mesmos, tratava-se de um “inocente”.

“Foi arrepiante o que fizeram com o meu irmão”, lamentou Catarina. Prosseguindo, disse que alguns motociclistas passavam por cima do seu corpo, o que o deixou com vários membros fracturados. “Como é que o Edu, que até estava armado, colocou-se em fuga sem prestar socorro ao amigo?”, questiona agora a jovem.

Depois da clemência, José Kidiu foi levado pelos seus familiares até ao Hospital Geral de Luanda, no Camama, mas não lhe foi dada a atenção necessária – porque –, de acordo com a irmã, “os médicos o abandonaram” quando foi reconhecido pelos familiares da mesma menina que havia sido ferida pelo seu amigo, que também se encontrava na mesma unidade hospitalar a tratamento. “Os familiares da menina informaram aos enfermeiros que se tratava de um dos marginais que havia ferido a sua filha”, disse Catarina.

Suposto militar ouvido pelas autoridades

“Pouco depois que recebemos a notícia do seu falecimento, por negligência dos enfermeiros, alguns dos meus familiares procuraram o Edu, e, quando o encontraram, levaram-lhe à Divisão de Polícia do Kilamba Kiaxi, No Nova Vida, para prestar declarações”, explicou a jovem, acrescentando que depois de ouvidos pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), este mandaram de volta o alegado militar para casa, alegando que as informações prestadas pelas partes eram bastante contraditórias, e que não haviam elementos de provas suficientes para manter o acusado sob custódia.

Por outro lado, os familiares do malogrado acusaram os investigadores da referida unidade policial de estarem a encobrir Eduardo Gonga, por ser, alegadamente, familiar de um dos seus colegas. “Sabemos que ele goza de alguma influência naquela esquadra, por ser familiar de alguém que exerce ali funções de relevância”, denunciou.

Apesar de não haver, ainda, detidos, as autoridades já abriram um procedimento criminal, sob o número de processo 8243/20, já encaminhado para o SIC-geral, agora sob alçada do investigador Yuri Mendonça.

De referir que os restos mortais de José Joaquim Kidiu foram a enterrar na passada quinta-feira, 27 de Novembro, no Cemitério municipal da Camama.

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