TRATAR DOCUMENTOS NO SIAC VIRA MARTÍRIO

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Os populares têm-se visto obrigados a pernoitarem ao relento, tudo porque alguns jovens, com recurso à violência, ocupam dezenas de lugares para a comercialização nas primeiras horas do dia, deixando muitas pessoas que ali acorrem sem vaga.

Jaime Tabo

Dezenas de cidadãos angolanos, entre adultos e crianças, que desejam tratar diversos documentos no Serviço Integrado de Atendimento ao Cidadão (SIAC) do Talatona, pernoitam ao pé daquela instituição.
Informações de que havia pessoas a dormirem ao relento chegaram à redacção deste jornal. Por conta disso, uma equipa de reportagem foi movida para o local, na última semana. Eram 22 horas quando os repórteres chegaram. Com a rua toda escura, a iluminação pública ali não passa de um desejo, nem a lua quis iluminar a noite das pessoas, que, longe da sua vontade, foram obrigadas a pernoitarem, deitados em papelões, como meninos de rua.
Na lista feita pelos utentes, já se somavam 15 pessoas, algumas destas tentavam conquistar o sono naqueles leitos atípicos, no entanto, o clima de frio intenso, que sequer poupava anciãos e crianças, não dava esse prazer. Uma mãe teve de doar o seu único lençol para proteger a filha que, mesmo coberta, gemia de frio.
A lista foi actualizada às 23 horas e mais tarde, às 02 horas da madrugada, momento em que se fez a chamada e todos os ausentes foram excluídos da lista de forma permanente, perdendo, consequentemente, o lugar.

Entretanto, dirigiu a nossa equipa até à coordenadora do SIAC-Talatona que se mostrou indisponível por ter muito trabalho, pelo que, garantiu receber-nos no dia imediato pelas 10 horas, no entanto, por conta da ocupação laboral, conforme disse, mostrou-se indisponível, novamente.

Naquela noite, a lista estava sob forte guarda de um utente que dos demais recebeu orientação de que em nenhuma situação aquela folha de papel devia sair da sua mão, pois, justificam, quando os desordeiros chegarem, tentariam tomar posse e rasgar a lista.
Passavam trinta minutos das 2 horas, quando um grupo de dez jovens chegou e tentou tomar de assalto a lista. “Nós já estávamos aqui e esta é a lista verdadeira”, falaram, apontando para a lista que traziam, com cerca de 60 nomes.
Um momento de tensão começou. A ideia era, para uns, proteger a lista que começou a ser feita desde às 20 horas e, para os considerados desordeiros, impor a lista que traziam. Mas o sofrimento que estavam a passar levou aqueles homens e mulheres a criarem uma forte bulha que quase terminou em ofensas corporais, tudo em defesa dos seus lugares.
Quando eram 3 horas da madrugada, a lista já estava cheia, eram mais de 100 pessoas inscritas, sendo que, maior parte dos nomes, eram dos jovens que vendem lugares. “Pelo menos estamos com os primeiros lugares”, suspiraram os utentes que naquela noite afirmaram que aquilo já era um hábito.
No meio da noite, um dos utentes, com profundo arrependimento e frustração, exclamou que, se soubesse que passaria por aquilo, iria para o SIAC do Cazenga, pelo que a maioria retorquiu que aquela situação é extensiva em toda a rede, pois a ocupação de lugares, tal como a lotação de táxis feitas por indivíduos diferentes do cobrador, se tornou o ganha-pão daqueles jovens.
Para quem chega entre às 5 e 6 horas, dificilmente encontra lugar para ser atendido, pois o atendimento é limitado. Assim, ficam entre comprar lugar e dormir ao relento. Quando o sol despontava, o SIAC parecia uma praça, com pedras e copos descartáveis espalhadas ao longo do chão, substituindo os jovens que andavam para cima e para baixo tentando convencer utentes a comprar um dos seus muitos lugares, que são vendidos de acordo a posição: os primeiros lugares custam AOA 5.000,00 (cinco mil kwanzas), os demais iam de AKZ 2.500,00 a 4.000,00 (dois mil e quinhentos a quatro mil kwanzas).
Estima-se que, por dia, esses cidadãos conseguem até AKZ 50.000,00 (cinquenta mil kwanzas), se venderem 10 lugares. E como a procura é tanta, é possível que ultrapassem esse valor, afirmam os utentes daquela área.
A Polícia não consegue dar resposta a esses factos, dizem, acrescendo que, por vezes, os jovens lutam pelos lugares com recursos a pedras e outros objectos, ante o olhar indiferente dos agentes da Ordem naquele local. Todavia, contam que já houve alguns poucos dias em que a Polícia deteve alguns, mas que, em menos de duas horas, regressaram.
Tomás Fernando passou a noite ao relento para tratar o Bilhete de Identidade da sua esposa. Para ele, o surgimento desses jovens, por um lado, deve-se às altas taxas de desemprego no país, acrescidas nos últimos onze meses, com o aparecimento da pandemia da Covid-19, mas, por outro, deve-se à incapacidade para sustentar os vícios que muitos têm.
No entendimento de Bernardo Pires, residente a escassos metros do SIAC, as enchentes só existem por falta de vontade do Governo em acabar com elas, pois, se quisesse, o Executivo adoptaria o sistema que se usa para aquisição dos cartões eleitorais, já que as matérias são similares.
Sobre o surgimento do grupo de jovens, Pires conta que um deles é seu vizinho e, até antes da pandemia, trabalhava para uma empresa, mas, desempregado, encontrou nessas acções a maneira de sustentar a sua família.
Não se sabe o que estará a se passar com a organização SIAC que, mesmo tendo os serviços públicos mais caros comparativamente às identificações e lojas de registo, permite que os utentes passem por estas situações adversas.
Solicitamos que a direcção falasse sobre o assunto. Fomos recebidos pela chefe do Departamentos dos Serviços Empresariais Públicos e Privado e, também, responsável pela Comunicação Institucional de toda a rede SIAC, Clélia Cardoso Neves, que disse não poder falar, por ser de cariz local.
Entretanto, dirigiu a nossa equipa até à coordenadora do SIAC-Talatona que se mostrou indisponível por ter muito trabalho, pelo que, garantiu receber-nos no dia imediato pelas 10 horas, no entanto, por conta da ocupação laboral, conforme disse, mostrou-se indisponível, novamente.
Entretanto, ficou a promessa de contactarem o nosso jornal para explicarem o posicionamento da organização ante a situação que leva todos os dias pessoas a passarem a noite ao relento. Mas, até ao fecho da presente edição, não recebemos o retorno.

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