Boa-fé e distrito da Baia na rota do crime: POPULARES CONTRARIAM DISCURSO OPTIMISTA DO COMANDANTE

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Os citadinos dos bairros Boa-fé e Baia, no município de Viana, dizem estar à mercê dos delinquentes que, para além da pouca idade, praticam os crimes à luz do dia e bem às barbas das autoridades, contrariando, assim, o discurso optimista sobre a situação da criminalidade do 2.º Comandante Municipal da Polícia em Viana.

 Engrácia Francisco

“Existem muitas crianças desaparecidas neste bairro e existem também muitas casas que produzem bebidas caseiras. As mães abandonam os filhos e vão nas casas de bebidas, por isso, muitas delas são raptadas, inclusive adolescentes e adultos”, começou por explicar Guilhermina de Almeida, uma moradora, para depois dizer que alguns até regressam com vida no seio familiar, mas nem todos têm a mesma sorte.

No passado mês de Junho, conta, a filha da sua amiga tinha sido raptada, levada até ao bairro da Pedreira, onde, num casebre de chapa, os suspeitos só não consumaram o acto, porque estava sob efeito de drogas e acabaram por adormecer. “Só assim ela conseguiu escapar”, disse, acrescentando que quando se accionou a Polícia, os mesmos já tinham fugido.

Guilhermina apela, também, que a OMA, organização feminina do MPLA, entre em cena, para que se possa pôr cobro a estas e outras situações nada abonatórias. 

Ademais, disse Guilhermina, “daqui a pouco são 18 horas e a confusão vai começar”, referindo-se às lutas entre gangues rivais que repartiram entre si o controlo do bairro, como se da conferência de Berlim se tratasse. 

Alguns efectivos da esquadra da Boa-fé aproveitaram a presença do jornal O Crime para mostrarem o seu descontentamento, sobretudo no que diz respeito às condições de trabalho. “Estamos cansados de trabalhar em condições precárias, não temos condições de trabalho, não há alimentação, muito menos transporte para intervir numa ocorrência”, disse o representante do grupo, acrescentando que, muitas vezes, têm de tirar dos seus próprios bolsos para comer alguma coisa.

Francisco Ventura Júnior, secretário para as comunidades da Boa-fé, questionado sobre a criminalidade e a actuação das forças da ordem, disse que o que mais ocorre são rixas entre grupos rivais, sendo que, na maior parte das vezes, se desconhece as razões da contenda. “E muitos deles terminam em mortos”, afirmou, lembrando que, por esse motivo, têm sensibilizado as famílias e os jovens, porque muitos destes rapazes estão localizados e identificados, mas a Polícia nada pode contra por serem menores. 

“A esquadra da Boa-fé tem ajudado bastante a população”

 Para finalizar, o secretário para as comunidades apelou aos populares a manter a serenidade e a aguardar que as forças da Ordem dêem solução aos problemas. Aliás, recordou, muitas vezes só não acontece o pior porque o efectivo da esquadra da Boa-fé tem ajudado bastante a população no combate ao crime no bairro.

Já o inspector Natani Machado, comandante da esquadra da Boa-fé, considerou a situação como “estável”, no que toca ao crime. “Estamos a trabalhar em alguns programas (Criança Integrada, Um Dia de Polícia e Paz nas Estradas) junto das comunidades, para ultrapassarmos este mal, só não fizemos mais por causa da pandemia”, teceu.

O território que dirige, explicou, é marcado pelas rixas entre grupos rivais entre adolescentes, muitos deles com idades entre 12 e 22 anos. Com base nisso, disse, têm estado a gizar programas, no sentido de dissuadi-los. “Temos tido sucesso”, revelou Natani Machado.

Quanto à corrupção contra automobilistas e mototaxistas, o comandante elucidou que os motoqueiros são os que mais trabalham com a Polícia. “Temos uma brigada pelotão de trânsito, ajudamos na legalização dos documentos e oferecemos coletes para melhor organização dos mesmos”. 

No entanto, entende o inspector, a corrupção é um mal que afecta sobremaneira no desenvolvimento do país, sendo que a gasosa que é cobrada aos automobilistas, na via pública, por agentes da corporação, acabam por condicionar as construções de infra-estruturas, como estradas, pedonais e outras no município. “Mas nós contamos com a colaboração dos cidadãos na denúncia destes crimes”, referiu.  

Cenário alarmante no distrito urbano da Baia 

Já no bairro Kokwe, distrito da Baia, no KM 30, Germano Sacafene, coordenador distrital, revelou que a deliquência é preocupante, já que, segundo ele, nos últimos dias, os jovens têm manifestado uma grande tendência para tal. Ali, disse o responsável, os crimes são cometidos em plena luz do dia e “às barbas” das autoridades.

Ainda assim, reconhece Germano, o efectivo da esquadrada da Baia tudo tem feito para reprimir a gritante onda de criminalidade e os seus autores. “Mas precisamos mesmo de mais agentes aqui, dada a extensão do bairro”, notou.

Segundo Germano Sacafene, os crimes com maior incidência naquela localidade são os assaltos à mão-armada, furtos e roubos na viapública.  “No ano passado, houve, inclusive, mortes, mas nesta altura os furtos e assaltos na via pública são os que mais nos preocupam”, assevera, acrescentando que pensam em organizar-se em associações para colaborarem com a Polícia na intensificação das denúncias.  

Por seu turno, o superintendente Luís Augusto Jone “Luisão”, comandante da esquadra do KM 30, afirma que o território da Baia é bastante extenso e, à semelhança do coordenador do bairro, reiterou que a criminalidade ali é ainda preocupante, mais a mais por serem adolescentes dos 12 a 16 anos a praticarem os crimes. 

Para além dos crimes já elencados, a venda e consumo de estupefacientes e uso excessivo de bebidas alcoólicas têm incentivado os jovens ao cometimento dos crimes.

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