Caso Kamutokele: ENTEADO E COMPARSA CONDENADOS A 22 ANOS DE PRISÃO

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Mesmo sem ser convincente o suficiente, o juíz da causa, José Lourenço, condenou Edlásio Vander Manuel Fortes e Ludy Justino Pinto, à pena de 22 anos de prisão maior e ao pagamento de indemnização de seis milhões de kwanzas aos familiares das vítimas. 

 Jurelma Francisco

Os homicidas, Vander e Ludy, envolvidos  no mediático caso “Kamutokele ”, ocorrido no dia 23 de Maio de 2021, no condomínio Veredas das Flores,  foram condenados  pelos  crimes de roubo qualificado, associação de malfeitores e homicídio das vítimas Kamutokele Anderson, Kamutokele Anderson Júnior e Devany Manuel Gaspar. Apesar das condenações o tribunal deixou muitas pontas abertas, pois, não conseguiu provar sobre o envolvimento do enteado.

O juíz da causa, José Lourenço, determinou que os condenados devem indemnizar  os familiares das vítimas com um valor AOA 6.000.000,00 (seis milhões de kwanzas), e ainda pagar AOA 100.000,00 (cem mil kwanzas) de taxa de justiça e AOA 5.00,00 (cinco mil kwanzas) de emolumento ao defensor oficioso. 

No seu relato, o juiz  referiu que no dia 23 de Maio de 2021, por volta das 20 horas, os acusados dirigiram-se ao lote 20, quadra 23 do condomínio Vereda das Flores, na posse de um cartão de acesso, supostamente da propriedade do arguido, aproveitando-se da ausência do infeliz, entraram na residência onde encontraram apenas os menores Kamutokele Anderson Júnior e Delvany Manuel Gaspar. 

Convencido de que se tratava de um assalto, Kamutokele Anderson não se entimidou, lançou-se sobre o arguido Ludy, na tentativa de desarmá-lo. Mas  desequilibrou-se e, enquanto esperava pelo auxílio do enteado, juntou-se ao seu comparsa, agarrou fortemente o padrasto, colocando os seus braços em direção ao pescoço, tendo, em seguida, colocado o seu joelho direito no pescoço daquele  até morrer.

De seguida, o réu Ludy desligou o disjuntor  de energia  que transportava corrente para o rés-do-chão, atraindo Delvany, que se encontrava no anexo da casa principal, a fim de verificar o que estava a ocorrer.

Na sequência, o réu Ludy surpreendeu a vítima  discretamente, estando aquele de costas, aplicando-lhe um forte golpe, do tipo cafrique, com os braços prisionados na região do pescoço, causando-lhe a morte por asfixia.

Ainda assim, os arguidos correram para o quarto de Kamutokele Júnior, que fica na parte superior da resindência, e, depois de uma breve conversa entre eles, retiraram-se do quarto para cumprir o seu prósito, tendo, desta vez, desligado o disjuntor eléctrico da parte superior da casa, atraindo Kamutokele Júnior, para verificar o que se passava no quadro de  luz.

Aquele foi, igualmente, agarrando pela parte de trás e golpeou-o pelo pescoço, de forma violenta, até cair inanimado. Entretanto, ao se aperceberem que a vítima não estava morta, o réu Vander obrigou o seu comparsa a terminar o “trabalho”, mas este negou a fazer, foi então que se levantou e aplicou o golpe, dizendo «você mesmo não sabe fazer cafrique… cafrique é assim”, asfixiando o menino até à morte. 

De seguida, levaram os corpos das vítimas até ao quarto e colocaram-nos na cama, como se estivesem a dormir. O réu Edlásio ficou na sala, aguardando pela chegada de Kamutokele Anderson, o pai.

Por volta das 22 horas, Kamutokele Anderson deparou-se com o enteado, Edlásio, a quem perguntou pelos menores, tendo este respondido que já estavam a dormir. Assim, foi para o escritório, onde permaneceu até às 3 horas da manhã, dirigindo-se, em seguida, para o seu quarto, a fim de descansar.

Naquele exacto momento, foi supreendido pelos marginais, que simularam assalto, tendo o arguido Ludy segurado duas facas de cozinha, pedindo dinheiro, cartões multicaixas com os seus respectivos códigos, sob ameaça de fazer mal aos menores, enquanto o réu Edlásio fingia ser refém.

Convencido de que se tratava de um assalto, Kamutokele Anderson não se entimidou, lançou-se sobre o arguido Ludy, na tentativa de desarmá-lo. Mas  desequilibrou-se e, enquanto esperava pelo auxílio do enteado, juntou-se ao seu comparsa, agarrou fortemente o padrasto, colocando os seus braços em direção ao pescoço, tendo, em seguida, colocado o seu joelho direito no pescoço daquele  até morrer.

De seguida, colocaram os três corpos no interior do automóvel , de marca Ford,  modelo HT, de cor cinza, com a chapa de matrícula  LD 74-49-EG, propriedade do infeliz, e limparam a residência.

De forma a não deixar vestígios, usaram as vestes da vítima, para não serem reconhecidos nas câmeras de vídeo-vigilância, conduziram a viatura,  até à Centralidade do Kilamba, onde abandonaram num parque de estacionamento, na placa número 208, quarteirão X15.

Réu pede desculpas à família

Antes mesmo de terminar a leitura da sentença, o réu Edlásio Vander Manuel Fortes entrou em defesa, explicando que foi agredido, amarrado até ao ponto de não conseguir mover os dedos, negando tudo que contou em sede de instrução preparatória, insistindo que os polícias exigiram-no a culpabilizar a sua mãe.

“Eu afirmei algumas coisas, porque a Polícia batia muito, mas nem com isso consiguiram o que queriam, que era incriminar a minha mãe”, referiu, para depois pedir desculpas à familia, especialmente à mãe,  pelo transtorno, e agradeceu ao advogado, Celestino Mutunda, por tudo que fez em prol da sua defesa.

Entretanto, segundo a magistrada do Ministério Público, Irene Figueiredo, os crimes praticados  denotam que os arguidos têm personalidade mal formada, o que contraria valores morais e sociais, aumenta a sensurabilidade da conduta, o que demosntra, desde logo, falta de sentido crítico. Por outro lado, referiu que os réus não estão arrependidos, mas apenas preocupados em arranjar maneiras de se subtrair da acção da  justiça. 

O advogado do có-réu Edlásio Fortes, Celestino Mutunda, referiu que “estar conformado ou inconformado, precisa-se de tempo para meditar. Sinto-me feliz que o crime de associação criminosa foi despronunciado”, disse, avançando a possibilidade de  interpor recurso.

Por sua vez, a advogada do réu Ludy, Carmem do Nascimento, avançou que, embora Ludy tenha praticado os crimes, descarta-se a ideia de ser o mentor das operações dos crimes.

Sara Matunde, de 27 anos, sobrinha do malogrado, explicou que a vítima era como um pai, que criou e formou todos sobrinhos. “Meu pai era um indivíduo muito educado, apesar do seu rigor, não tinha distinção entre os filhos dos irmãos e o Vander”, recorda.

“Eu afirmei algumas coisas, porque a Polícia batia muito, mas nem com isso consiguiram o que queriam, que era incriminar a minha mãe”, referiu, para depois pedir desculpas à familia, especialmente à mãe,  pelo transtorno, e agradeceu ao advogado, Celestino Mutunda, por tudo que fez em prol da sua defesa.

Apesar de não dispor de provas concretas, aquela deixa claro que as suas desconfianças têm fundamentação e, por isso, aponta ter mais envolvidos no homicídio, pois, no seu entender, só os dois acusados não  conseguiriam matar três  pessoas. “Eles simplesmente mataram o meu pai, os motivos todos  sabemos, mas nada justifica tamanha crueldade”.

“Meu pai, às vezes, falava mal do Vander para a família,  porque o Vander passava dos  limites, roubava dinheiro e tirava carros do pai sem permissão. Ele é muito calmo nas palavras e, no seu jeito de ser, nunca  desconfiamos que um dia isso aconteceria, tenho medo dele.  Estou traumatizada!”, confessou Sara Matunde, acrescentando que a esposa do malogrado mentiu, ao dizer que existia uma ligação de pai e filho entre o Vander e senhor Kamutokele. 

Inconformada com a sentença, a sobrinha  do malogrado e também estudante do último  ano de Direito,  referiu: “o juiz, o tribunal e o Ministério Público, por serem  detentores da verdade, deveriam ir atrás dos factos ocorridos naquela noite e não se basear na história que a família do Vander contou”.

Para argumentar, a formanda ressaltou que em nenhum momento os réus falaram a verdade, que todas as declarações de Ludy Pinto Justino foram orientadas. “A esposa do malogrado tem alguma culpa por trás disso e o coitado do Ludy está a servir de marionete”, avançou , para de seguida afirmar que Ludy e seus comparsas, inclusive dona Elisabeth, pretendem culpar o seu irmão,  Mistuly .

A mesma afirmou ainda que os familiares nunca gostaram da esposa do malogrado, por ser uma pessoa arrogante e atrasada. “Ela pensa que tínhamos medo dela, mas se tratava de respeito, uma vez que era mulher do nosso pai”.

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