Se não forem lágrimas de um presidente que evoluiu para actor de comédia: solte o Osvaldo Kaholo!
No dia 14 de Outubro do corrente ano, por volta das 13 horas, recebi uma carta do activista Osvaldo Kaholo, o vulgo preso político, mas, na verdade, o nosso compatriota que se encontra preso por todos os angolanos que sofrem por causa da má governação. A pessoa que me entregou a carta disse que Osvaldo pediu para fazer várias cópias da mesma, mas que a original me fosse entregue. Entretanto, recebi-a e faço questão de partilhar convosco.
Osvaldo Kaholo está preso injustamente desde o dia 19 de Julho, acusado comicamente de rebelião e apologia ao crime. É preciso consciencializarmo-nos de que ele está preso pela nobre causa de lutar por uma Angola melhor.
Na carta datada de 13 de Outubro, assinada por si a partir do estabelecimento prisional de Calomboloca, escrita numa folha de papel de caderno de linhas horizontais, em quatro páginas, Osvaldo começa por comunicar que, lamentavelmente, foi informado pelo seu advogado de que a sua medida de caução, prisão preventiva, foi prorrogada por mais dois meses.
Na referida missiva, Osvaldo Kaholo, entre outras coisas, denuncia que o plano é prolongarem o seu período de prisão, pois as férias judiciais começam agora e vão até Março de 2026. Desta feita, a intenção é mantê-lo mais tempo preso e, consequentemente, adiar um julgamento que chamou de palhaçada, igual ao de que foi alvo no caso dos 15+2.
“É evidente que este regime de terror não deixará de condenar, pois rebelião faz-se em entrevista pública, durante uma manifestação. Aqueles que ontem foram presos pelo colono português, acusados de terrorismo, completam 50 anos daqui a pouco, acusam e julgam-nos por terrorismo, esquecendo o terrorismo de Estado que praticam”, escreveu.
Noutra passagem, Osvaldo disse: “O terrorismo assume forma ‘extrajudiciária’, o que significa que é prática dos serviços secretos, das milícias paramilitares e de outros esquadrões da morte, tribunais… que castigam os opositores políticos e as minorias. Os cidadãos desaparecem, são torturados, presos, julgados e executados sem que o Estado seja aparentemente responsabilizado. Outro sim, forçam os seus cidadãos a exilarem-se”, denunciou.
Por outro lado, acrescenta: “O terrorismo de Estado é patente, os cidadãos recebem os seus direitos como suborno. Emprego e salário são direitos. Esses direitos são recebidos como subornos. Quem tem esse direito está impedido de ser consciente ou lúcido, de reivindicar, de se posicionar contra a violação dos direitos humanos, de se posicionar a favor da justiça e de ser verdadeiro. Inclusive, é obrigado a fazer coisas que não devem ser feitas. Tudo faz para ‘proteger o pão, não colocar o pão no gasóleo, o pão das crianças…’ Provas evidentes do terrorismo de Estado imposto pelo MPLA.”
Osvaldo acalenta ainda o povo angolano, dizendo: “Queridos irmãos, continuo firme nessa luta entre os ‘intelectuais’ e o absolutismo em presença do povo silencioso. O MPLA é absolutismo, contra nós, os corajosos, de outro lado, pois estamos diante de falta de coragem. Existem intelectuais como eu ou superiores que não têm coragem. É preciso cultivarmos a coragem. Do medo pode nascer a coragem. ‘Existem muitos intelectuais sem coragem, cobardes, e muitos analfabetos com coragem.’ A árvore da liberdade é regada com a coragem, a determinação, o sacrifício e o sangue dos patriotas.”
Como homem inteligente, pois sabe que nada se faz sem a permissão divina, Osvaldo recorreu a alguns capítulos bíblicos, isto é: Mt 5:25; At 16:35-36: “Os magistrados ou juízes têm poderes de mandar prender qualquer que seja para a cadeia.” Não restam dúvidas da nossa condenação. Qualquer um que ameaça o status quo do MPLA será condenado. Em Miqueias diz que os juízes julgam por suborno. São dos comités de especialidades do MPLA, familiares, recebem os salários e regalias como subornos, logo, não se espera justiça.
Gálatas 4:16: “Será que, porventura, tornei-me inimigo por dizer a verdade?” Ter pureza e justiça dentro de mim trouxe-me aqui.
Osvaldo termina a carta com a seguinte frase: “O terrorismo é sempre objecto de discussão. O terrorista de hoje pode ser o herói de amanhã.” Da leitura que faço dos tempos actuais, o MPLA, infelizmente, não sairá no próximo pleito eleitoral, pelo simples facto de não ter um opositor à altura. Mas, nos próximos tempos, quando tiver um candidato que seja um desses jovens considerados terroristas de hoje, aí sim, teremos o fim do MPLA.
Aproveitando o discurso do Presidente da República, em que diz que o seu governo está a aprender com os erros, apelo que repare também sobre as prisões dos presos políticos, isto é, mandando soltar todos, pois, caso contrário, as suas lágrimas podem ser vistas como meramente mais uma das evoluções de João Lourenço, agora para o nível de actor de comédia. Isto já deve ser influência do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Como podemos ver, Osvaldo Kaholo, apesar de estar a sofrer com a privação da sua liberdade e com os maus-tratos que passa na cadeia, em momento algum na carta fez referência a este assunto. Mas, como um grande líder, mostrou estar talhado para viver a situação, pois sabe, e como disse bem, o humilhado de hoje pode ser o exaltado de amanhã. Osvaldo Kaholo é um líder nato e alguma coisa me diz que um dia devolverei esta carta de Osvaldo Kaholo no dia em que ele tomar posse como Presidente da República de Angola.