Higino Carneiro e o momento decisivo da liderança em Angola

A política angolana atravessa um dos seus momentos mais sensíveis e decisivos. A morte misteriosa de Fernando Dias da Piedade dos Santos, “Nandó”, ocorrida num ponto crítico do calendário político, alterou profundamente o equilíbrio interno e acelerou o debate sobre sucessão, liderança e futuro do país.
Arlete Cabral
Nesse novo contexto, é natural que todas as atenções se voltem para Higino Carneiro. Não por acaso, mas porque, após o desaparecimento de Nandó, ele emerge como a figura com maior densidade política, experiência acumulada e capacidade real de assumir um papel central na condução do país.
A pressão que hoje recai sobre Higino Carneiro não deve ser interpretada como um sinal de fragilidade, muito menos como um risco existencial. Pelo contrário: essa pressão é característica de todos os candidatos que representam uma alternativa credível e com reais hipóteses de vitória. Em contextos políticos como o angolano, só quem tem força e potencial de liderança se torna alvo de ataques, tentativas de desgaste e movimentos de contenção.
Há, no entanto, uma leitura estratégica que não pode ser ignorada. A ideia de que um afastamento da vida política garantiria proteção pessoal ou institucional revela-se ilusória. A experiência recente demonstra exatamente o oposto: a retirada do espaço público reduz a visibilidade, elimina o escrutínio e abre caminho para que o poder atue de forma mais livre, mais silenciosa e mais agressiva, não apenas contra o visado, mas também contra o seu núcleo familiar e patrimonial.
Após a morte de Nandó, Higino Carneiro passou, queira ou não, a ocupar o centro do palco político nacional. As atenções estão e continuarão a estar focadas nele. Com as alianças certas, uma equipa estrategicamente preparada e uma leitura clara do momento histórico, a possibilidade de liderar Angola deixou de ser uma hipótese distante para se tornar uma questão de tempo e de construção política.
É igualmente evidente que o poder já definiu uma estratégia de neutralização progressiva da sua influência, tanto dentro como fora das estruturas partidárias. Esse processo não depende da decisão de avançar ou recuar. Trata-se, na prática, de uma luta pela preservação do espaço político, da relevância e da capacidade de defesa. A derrota ou a desistência não podem ser encaradas como opções viáveis, porque os efeitos dessas escolhas são conhecidos e conduzem ao mesmo resultado: perda total de proteção e de margem de ação.
Neste cenário, Higino Carneiro enfrenta um desafio típico de períodos de transição histórica: pensar fora dos modelos tradicionais, alterar a lógica do jogo político e agir de forma diferente. Não se trata apenas de coragem pessoal, mas de inteligência estratégica, antecipação e capacidade de construir um projeto sólido, capaz de responder às expectativas internas e nacionais.
O momento exige clareza, firmeza e visão. E é precisamente nesses momentos que se definem os verdadeiros líderes.

















