Activista político, Jorge Kisseque, revela: A MINHA MORTE FOI ENCOMENDADA PELO COMANDANTE E O GOVERNADOR DO UÍGE

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O activista Jorge Kisseque, de 28 anos, permanece internado no Hospital Provincial do Uíge após ter sido alvejado à queima-roupa, com quatro tiros nas coxas. O incidente ocorreu na manhã de sexta-feira passada, quando o activista realizava um serviço de táxi entre o município do Negage e a cidade capital do Uíge, num trajecto de 38 quilómetros.

Por: Rafael Marques / Fonte: Maka Angola

Segundo informações prestadas ao Maka Angola pelo seu advogado, João de Almeida, Jorge Kisseque transportava dois passageiros na sua viatura de marca Chevrolet. Volvidos menos de oito quilómetros do trajecto, numa área isolada, os passageiros ordenaram-lhe que parasse a viatura para urinarem.

“O Jorge desconfiou do comportamento estranho dos senhores e pediu-lhes que aguentassem um pouco mais até à aldeia seguinte, Culo. Dada a insistência dos homens, parou a viatura e pôs-se a correr”, conta o advogado.

“Na fuga, o Jorge caiu e um dos homens que o perseguiam disparou, à queima-roupa, três tiros na coxa direita dele e o quarto na esquerda”, continua.

De acordo com o depoimento recolhido pelo advogado, que teve acesso à vítima, os atacantes informaram o activista de que tinham sido “orientados” para não o matarem, mas transmitirem o “aviso”. Trata-se do “último aviso”, disseram ao activista.

Jorge Kisseque tinha organizado uma manifestação em defesa da criação de empregos para a juventude, que deveria ter acontecido no dia seguinte, mas que, tendo em conta o incidente, foi cancelada.

Depois dos disparos, os atacantes retiraram-se do local num veículo de apoio que os tinha seguido. Com os tiros, os aldeães acorreram ao local e um deles, conhecido de Kisseque, transportou-o a vítima na sua própria viatura até ao hospital.

Entretanto, o activista tem estado em julgamento, acusado de calúnia e difamação contra o vice-governador para a Área Técnica e Infra-estruturas do Uíge, Afonso Luviluku, a quem acusou publicamente de ser corrupto.

Ironicamente, em pleno tribunal, o jovem activista apresentou-se como prova dos alegados actos de corrupção do vice-governador Luviluku e exibiu provas documentais.

A mais relevante de todas foi o facto de em 2019 ter recebido, da parte do vice-governador, um apartamento na Centralidade do Quilomoço, na capital do Uíge, uma urbanização que começou a ser habitada em Junho do ano passado.

Jorge Kisseque revelou também ter recebido uma bolsa de estudos interna para licenciatura no curso de Ciências Políticas do Instituto Superior Politécnico Kalandula. Segundo dados apresentados em tribunal, alegadamente coube ao vice-governador essa operação de pagamento dos quatro anos do curso.

Em sua defesa, de acordo com o relato do advogado João de Almeida, o vice-governador argumentou ter apenas cumprido as orientações do então governador Pinda Simão. A leitura da sentença está prevista para o próximo dia 21 de Setembro.

Além de tais benesses, Jorge Kisseque recebia também, mensalmente, um envelope timbrado do Governo Provincial do Uíge, com 200 mil kwanzas. Com a exoneração de Pinda Simão, em Maio passado, o activista deixou de o receber.

Tais ofertas destinavam-se a garantir o silêncio de Jorge Kisseque e a garantir que se abstivesse de organizar manifestações contra as autoridades provinciais.

A 31 de Maio de 2019, Jorge Kisseque liderou um grupo de cerca de 50 jovens que exigiam a demissão do vice-governador Luviluku por supostos actos de “branqueamento de capitais, corrupção e nepotismo”.

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