Acusados de feitiçaria: DOIS MENORES TORTURADOS EM CÁRCERE PRIVADO

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Durante dois meses, os irmãos Celson Kimbango e Engrácia Kimbango, 11 e 10 anos, respectivamente, foram colocados em cárcere privado, no Zango 4, Viana, onde eram barbaramente torturados, acabando o mais velho por morrer.

Por: Engrácia Francisco

Engrácia, a mais nova, carrega no corpo as marcas da tortura e o sofrimento que vivenciou durante dois meses, na casa da avó, no Zango 4, bem como matém na memória as imagens do seu mano a sucumbir, por conta das condições desumanas a que foram submetidos pelo tio, Chande Kimbango, esposa deste e pela própria avó.

De acordo com a mãe dos menores, Teresa Mateus, em declarações ao ‘O Crime’, a informação sobre a morte do filho, apenas lhe chegou um dia antes da realização do funeral. “Mandaram um jovem vir ter comigo, já com o boletim de óbito, para me informar que o rapaz havia morrido”, contou Teresa, sublinhando, por outro lado, que foi igualmente deste jeito que tomou conhecimento dos maltratos a que os filhos eram sujeitos.

“A minha filha está completamente debilitada, com ferimentos em quase toda parte do corpo. Está assustada e acorda todas as noites”, revela, acrescentando que os menores eram mantidos fechados 24/24 horas num quarto, deixados à fome e torturados na madrugada a dentro.

Menores eram acusados de feitiçaria

Há, sensivelmente, seis anos que Teresa perdeu o esposo, por doença, tendo criado os filhos sem o apoio da família do finado. Aliás, revelou, antes da morte do marido, a sogra foi a sua busca para ser tratado junto dela, todavia, em nada resultou. “No funeral, eles acusaram-nos de matar o meu próprio marido e, desde então, a nossa relação entrou em decadência”.

Entretanto, conta, nos últimos anos, a sogra tem vindo a mostrar arrependimento e tentado uma possível reaproximação com ela e os netos. “Foi então que, há pouco mais de dois meses, os meninos foram passar um tempo com a avó e, durante esse período, não consegui os visitar, porque também estive doente”, lembrou, para depois dizer que, enquanto isso, contrariamente ao que pensava, o tio dos menores, que recentemente foi viver com a mãe, juntamente com os cincos filhos e a esposa, transformou a vida dos seus petizes num autêntico calvário.

Celson Kimbango e Engrácia Kimbango foram mantidos em cativeiro pela avó e o tio, denuncia aquela mãe, sob pretexto de feitiçaria, tendo sido, brutalmente, torturados durante dois meses, até o mais velho perder a vida como consequência.

Teresa Mateus fez saber que o que aconteceu aos seus filhos é resultante de um problema mal resolvido entre as duas famílias, mas lembrou que os menores nada têm a ver com isso.

Familiares descontentes com boletim clínico

Por outro lado, a família materna das vítimas mostra-se descontente com o procedimento da equipa médica no hospital do Zango, denunciando-a de ocultar a verdadeira causa da morte do menor. “A médica recebeu o menino já morto, mas acabou por passar um boletim, em que alega que o meu primo morreu por anemia aguda”, disse Engrácia Mukuta, tendo acrescentado que tal resposta os deixou bastante intrigados, tendo em conta que, alegadamente, o paciente terá dado entrada naquela unidade sanitária, já sem vida e sequer realizou-se a autopsia para se determinar a causada da morte.

Num tom de ironia e arrogância, Chande Neto Kimbango, de 34 anos, já detido, afirmou aos familiares da então cunhada que “não me arrependo do que fiz, e se pudesse, voltaria a fazer o mesmo”.

O acusado já foi presente a um procurador, que ordenou a sua manutenção sob custódia, estando o processo-crime sob investigação.

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