AGENTE DA PNA SOB SUSPEITA DE DETER E TORTURAR JOVENS NA CADEIA
José Chove, agente da PN afecto à 47.ª Esquadra do Zango 1, sector B, está a ser acusado de mandar deter e espancar, no interior da cela, três jovens por estes supostamente terem assaltado a sua residência e levado consigo uma TV Plasma, no passado dia 8 de Janeiro, no Zango 0, em Viana.
Engrácia Francisco
Até a presente data, as marcas da tortura ainda são visíveis no corpo dos jovens, Gonçalves António, de 20 anos de idade, seu irmão, Francisco António, 24 anos e o amigo Francisco Manuel de 26 anos, ambos residentes no distrito do Zango 0, causadas, aparentemente, por agentes da Polícia Nacional na esquadra do Zango 1, enquanto os mesmos se encontravam detidos por, supostamente, terem furtado uma televisão na casa de um dos agentes da referida Unidade policial. Os jovens, já com o mandato de soltura em mão, desde o dia 14 deste mês, afirmaram de pés juntos à nossa reportagem que nada têm a ver com o agente, inclusive, nem se quer o conhecem devidamente.
“Nós nem conhecemos o senhor agente que fez a denúncia, nunca frequentamos a casa dele, nem para trabalhar como pedreiros, que é o que fazemos neste bairro, desde 2014 que nos mudamos para cá com os nossos pais”, alega a vítima Gonçalves António. O trio surpreendeu-se na manhã do dia 9, pelas 5h da manhã, quando uma patrulha da PN, com vários agentes abordo, invadiu o seu quintal e batendo de forma brusca à porta de casa, aliás, uma casa humilde de chapa. “Às 4h, ouvimos alguém a bater com muita força, assim que abrimos a porta eram os agentes e logo começaram a espancar-nos, sem qualquer esclarecimento”, denunciou Gonçalves António.
A seguir, conta o jovem, visivelmente machucado, pois durante a entrevista não conseguia sentar-se em condições devido às lesões nas nádegas, consequências das palmadas com catanas. “Eles diziam, <vocês são gatunos>, levaram-nos à casa do meu amigo e, entre pancadas, fomos levados os três para a esquadra”, contou Gonçalves António, acrescentando que, “postos lá, fomos logo recebidos com surra de mangueira, bicos, até mesmo catana eles usaram para nos bater”, exprimiu o jovem. A soltura terá custado 47 mil kwanzas à família das vítimas Gonçalves António, Francisco António e Francisco Manuel, que respondiam pelo processo-crime, 521/021, postos em liberdade no dia 14 deste mês pelo Procurador da República Pedro Fernando Machado. Apesar da soltura emitida pelo responsável do Ministério Público, a família das vítimas afirmam terem pago um valor de 47 mil kwanzas a um suposto agente do Serviço de Investigação Criminal daquela esquadra, a fim de facilitar o processo.
“A princípio, estavam a cobrar-nos 150 mil kwanzas pelos três, mas nós não tínhamos aquele valor, mas, o mesmo agente veio ter connosco a pedir o que tínhamos no sentido de nos ajudar”, denunciou Jaime Mayombe, acompanhante de profissão das vítimas. Entretanto, conta Jaime, aflitos com a situação, uma vez que um dos detidos, Gonçalves António, encontrava-se na altura incomodado, a família juntou o que podia e acabou entregando 47 mil kwanzas ao suposto agente do SIC. “Entregamos apenas aquele valor, porque era onde chegava as nossas possibilidades”, disse, Jaime Mayombe. A nossa equipa de reportagem deslocou-se até à casa do agente que prestou a queixa. Fomos recebidos pela sua esposa e de seguida, José Chova, juntou-se a nós, e explicou a sua versão dos factos.
Alegou que, há alguns meses por volta das 19h, deparou-se com o jovem Gonçalves António a tentar entrar em sua residência, mas o mesmo acabava de chegar e foi a tempo de impedir um possível furto. Conta ainda o agente que, na segunda, ocorreu nas mesmas horas, quando se encontrava fora de casa com a família, tendo sido pego pelos vizinhos que o informaram assim que chegou. “Ele tentou arrombar a minha casa por duas vezes, sem sucesso, mas na terceira acabou levando a TV”, afirmou José Chova.
“Tenho certeza de que é ele que vem tentando arrombar a minha casa, até que perdi a televisão, por isso, prestei queixa e fomos buscá-los ao amanhecer do dia 9 com a patrulha”, disse. Entretanto, José Chova afirmou não ter agredido os jovens em momento algum. “Eu nunca toquei neles. Tudo isso é simulação da parte deles”, afirmou o agente, acrescentando que vai seguir o processo a fim de ver essa situação esclarecida e o seu meio em sua posse novamente. Deslocamo-nos até a esquadra do Zango 1, onde os agentes do SIC afirmam não terem recebido qualquer valor e nem se quer sabem de que caso se trata.
O que é bastante contraditório, uma vez que os familiares da vítima alegam terem sido recebidos por agentes do SIC que apelaram a um consenso entre a família e o proprietário da televisão. Contudo, os jovens clamam por justiça. “Precisamos que ele se responsabilize pela medicação, porque graças a ele estamos nesta situação”, clamam.