Após denúncia sobre assédio: EMBAIXADOR DA GUINÉ EQUATORIAL EM ANGOLA NEGA E DIZ QUE INDEMNIZAÇÃO À FUNCIONÁRIA DEPENDE DO MIREX

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Marcos Mba Ondo Andeme, embaixador da Guiné Equatorial acreditado em Angola, que falava exclusivamente a este jornal, por conta de uma denúncia feita por uma ex-trabalhadora, Carolina Afonso, refutou as afirmações desta e adiantou que a indemnização dependerá da orientação do Ministério das Relações Exteriores.

Jaime Tabo e Dumilde Fuxi

A Inspecção Geral do Trabalho (IGT) notificou o embaixador, em Junho último, mas nunca compareceu, justificando que, enquanto representante do seu país em Angola, não pode responder directamente à notificações de instituições do nível da IGT. Entretanto, “por respeito àquela organização”, enviou a sua secretária.O diplomata explicou que apenas soube da indemnização quando manteve contacto com a matéria publicada pelo jornal O Crime, na edição 115, onde a ex-trabalhadora reivindica este direito, depois de expulsa. No entanto, garante que só poderá indemnizar Carolina Afonso se o MIREX baixar uma ordem para este exercício, tendo em conta os pressupostos do convénio internacional que rege as relações diplomáticas.

Depois do encontro, onde, segundo o Acordo de Mediação produzido, o embaixador deve indemnizar Carolina Afonso com AKZ 2.202.000,00 (dois milhões e duzentos e dois mil kwanzas), Marcos Andeme enviou um ofício ao MIREX, informando a situação, por não ter tido acesso ao documento.

Ainda assim, refere que, se Carolina não fosse apresentar queixa à IGT, daria dinheiro e ajudaria, voluntariamente, a sua então cozinheira. Indagado sobre o que se terá passado de concreto, o diplomata, fazendo recursos à publicação anterior, disse já não interessar responder à essa questão.

Porém, adiante, respondia a algumas questões e evitava outras, principalmente as do capítulo do assédio, sob pretexto de estar profundamente triste com a publicação do caso.

O embaixador garantiu, no entanto, que as qualidades da sua esposa não o levariam a trocá-la com Carolina, não estando esta à sua altura. Porém, depois pergunta se o assédio de que se queixa ocorreu apenas num único dia ou foi uma constância durante os quatros anos de serviço em sua residência.

Questionado sobre a razão de solicitar que a sua cozinheira passasse a dormir em sua residência, Andeme explicou que a única razão é a necessidade de ter alguém que possa servir a sua família quando precisasse, o que pode ocorrer fora do horário habitual das refeições. Ainda assim, Carolina não aceitou a proposta, alargando apenas o seu horário de trabalho de 16 para às 20 horas.

Para tanto, não apontou, de concreto, as causas que determinaram a expulsão da sua então cozinheira e diz ser normal a saída de um funcionário do posto de trabalho. Rebatida a mesma questão, Marcos Andeme diz não encontrar motivos para falar sobre as causas que o levaram a afastar Carolina Afonso, mas adianta, nas entrelinhas, falta de higiene e insubordinação.

Com muitos rodeios procurava não responder as questões sobre o despedimento, afirmando que Carolina discutia com a sua superior hierárquica, a governanta, e que, por razões não avançadas, três vezes anunciou o seu despedimento, ocasionando prantos e clamor para que assim não fizesse. Refira-se que Carolina foi contratada por via de um acordo verbal com a embaixatriz.

Entretanto, garantiu a sua disponibilidade em resolver o diferendo com Carolina Afonso de forma arbitrária, caso a antiga funcionária aceite. “Se não perdoas os outros, tampouco Deus te vai perdoar. Há pessoas que me fizeram coisas piores”, referiu, acrescentando que, solicitado, informou a situação ao seu Governo.

O representante da Guiné Equatorial em Angola confessa que maior parte das pessoas que contrata não são profissionais e, alega, procede assim no sentido de ajudá-las. No entanto, lamenta que sempre que há um problema, estes recrutados agarram-se à lei.

Além de Carolina, o embaixador admite demitir o seu antigo motorista, por contrair algumas chagas na perna e afirma ser esta a única solução. Porém, apesar de saber que não devia proceder deste jeito, concorda que o fez por não ter assinado algum contrato.

Filhas da lesada à beira de perder o ano académico

Por seu turno, Carolina Afonso refuta a versão apresentada pelo embaixador e afirma que, depois da reunião na IGT, onde se elaborou o Acordo de Mediação, o diplomata fez tudo para que a sua secretária não assinasse o documento. Feito assim, marcou-se um dia para a assinatura, mas esta não apareceu, por força de Andeme.

Conforme Carolina, a IGT contactou a secretária por via telefónica, em que ouvia, com tom alto, Marcos Andeme a dizer que nem ele nem a sua representante apareceria para a assinatura do acordo que dá direito à indemnização.

O MIREX, depois de receber uma carta desta cidadã, diz a lesada, convocou o embaixador, mas este nunca se fez presente. Cansada de recorrer àquele ministério, foi ao Tribunal Provincial de Luanda, onde abriu um processo contra o embaixador, na 3.ª Secção, com o número 1113/20, mas afirma que o mesmo está sem pernas para andar.

Agora desempregada, esta chefe de família viu as suas duas filhas, uma do quarto ano universitário e outra do curso médio de Enfermagem, a perderem o ano académico por insuficiência financeira para custear a formação, facto que tem alterado a sua pressão arterial.

Sem dinheiro para um micro negócio, Carolina não consegue, por vezes, pagar a renda da casa onde reside. “As coisas não estão fáceis”, suspirou.

Embaixador pondera pedido de demissão

O jornal O Crime é um periódico cujas notícias chegam em diversas partes do mundo, foi assim que, do seu país e da Inglaterra, o embaixador recebeu ligações do governo e de amigos, a solicitarem maior esclarecimento sobre os casos que Carolina denunciou.

Por fim, Marcos Andeme reconhece que a publicação feita por este jornal afectou, em grande medida, a sua vida, de tal maneira que, se fosse na Europa, pediria a sua demissão. Mas, diz que acredita que o tempo poderá resolver os problemas.

Ante essa afirmação, pergunta-se: o que fará o MIREX? Que postura terá o IGT agora, passados 6 meses desde a revelia do embaixador? Por que o processo no tribunal não anda? O que falta para que o embaixador africano, acreditado em Angola, respeite o nosso país, como se estivesse na Europa?

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