BURLADORES “DIGITAIS” APRIMORAM MÉTODOS DE EXTORSÃO

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Desde emprego a terrenos, os burladores vêm utilizando, cada vez mais, não só a tecnologia, como também “paixões” pelas vítimas, de forma a aliciá-las mais facilmente. Domingas Gabriela, psicóloga clínica e orientadora vocacional, foi-lhe declarada “amor”, por meio de ofertas aliciantes.

Por: Jaime Tabo

Presumivelmente, em cena estava uma dupla estrangeira, um americano e outro nigeriano. Domingas recebeu, na sua conta empresarial, um contacto identificado por James Peter´s, supostamente americano, que se passava de cliente, solicitando, em português, o seu whatsapp pessoal.

Dias depois, além de cliente, mostrava interesses conjugais, tentando fazer crer que estava totalmente apaixonado pela psicóloga. Desta forma, enviou-lhe a fotografia de uma factura actual, 24 de Novembro, onde listava um Iphone 7X PRO, Perfume Louis VuittonX2, sapatos femininos, roupas, relógio de pulso, um laptop da Apple e mais USD 50.000 (cinquenta mil dólares), como oferta para a sua “apaixonada”.

Mais tarde, caiu em sua caixa, uma mensagem de uma suposta alfândega sul-africana, representada por um nigeriano não identificado, a instar que a psicóloga fizesse o pagamento, por transferência bancária, de 4.200,00 rands, para desalfandegar a sua mercadoria, vinda dos EUA.

“Quando a oferta é demais, o santo desconfia”, este dito popular cumpriu-se na vida de Domingas, que percebeu estar diante de uma burla. “Descobri que era burla, porque ele disse que dentro da caixa tinha 50 mil USD e, também, pela pressão que me fazia”, revelou, acrescentando que reencaminhou o texto para o ofertante e, supostamente, ficou muito irado, porque o tempo todo insistia em saber se já havia recebido a oferta.

Domingas Gabriela recusou-se a fazer o pagamento. “Pela forma insistente, facilmente percebi que a sua preocupação não era o presente, mas sim o meu dinheiro”.

Como artimanha, depois de perceber que foi descoberta a sua real intenção, ameaçou colocar as fotografias da profissional nas redes sociais e estragar a sua vida. “Hoje, com o avanço da tecnologia, eu receio que ele use as minhas fotos em exercício profissional para fazer maldade”, disse.

Cristina Maria também travou uma burla, quando, procurando artigos para um salão de beleza que está a montar, obteve o contacto de whatsapp de alguém que faz um preço muito abaixo do mercado. “Ele mostrava as fotos e os respectivos preços, alguns eram a metade do que se faz nas praças e outros mais baixos ainda”.

Entretanto, o primeiro ponto que chamou a sua atenção foi quando perguntou a localização da loja ou armazém de vendas, para lá ir e escolher tudo a dedo. “Ele começou a enrolar… Perguntou-me onde vivo, eu respondi, só assim me disse que a sua loja está em Viana. Perguntei-lhe se trabalham todos os dias, respondeu positivamente, então lhe falei que iria para lá na segunda-feira. Aí disse que na segunda não trabalhariam, porque o chefe estava ausente, tentei dar alternativa para outro dia, ele dava desculpas e insistia que era só fazer o pagamento que eu receberia o material em casa”, conta.

Muito atenta, disse, apercebeu-se logo que era burla e pôs um ponto final ao contacto. “É preciso que estejamos atentos a tudo, os burladores não vão desistir, à medida que tudo vai ficar mais difícil”, apelou.

Outro esquema usado pelos burladores tem sido com o novo aplicativo multicaixa-express. Devido à sua facilidade de uso e múltiplas valências, vem se tornando o favorito de pessoas que detestam fileiras para fazer pagamentos ou transferências.

Raul Adão, que queria pôr à venda o seu camião, cairia num esquema de extorsão, se não chamasse o seu filho, Miguel Adão, para intervir e averiguar se estava a lidar com pessoa séria.

O suposto comprador orientou-o a adicionar o seu cartão de crédito no referido aplicativo, porém, associando um número que ele, o burlador, forneceu. Desse jeito, o burlador teria total comando deste cartão e gastaria o que lá estivesse ao seu bel-prazer.

“Primeira coisa a notar, deve ser a insistência. Os burladores não querem esperar, eles insistem que faças a operação, sob pena de procurarem outro vendedor, explica Miguel, que livrou o pai daquela farsa. “Eu tive de ligar ao senhor e ameaçar que era militar, que o conhecia e que o encontraria para lhe dar porrada. Depois disso, ele nunca mais ligou”, finalizou.

Todo o cuidado é pouco

No entanto, sobre burlas não é tudo, a Unitel confirmou que, nos últimos meses, tem se divulgado mensagens, associando a operadora e outras entidades a prémios e ganhos que não correspondem à verdade, denunciando, assim, caos de burla.

Por meio de mensagens de texto, os burladores, não identificados, indicam contactos telefónicos para os quais se deve ligar, a fim de se levantar os supostos prémios. Entretanto, o objectivo desses é que as pessoas visadas retomem as chamadas, para que percam para si muito saldo, por causa dos altos custos das chamadas internacionais.

Nas redes sociais, é muito comum ver páginas de empresas falsas ou pessoas singulares a publicitarem venda de mercadorias a preços irrisórios. Uma motorizada, que actualmente custa, mais ou menos, AKZ 300.000,00 (trezentos mil kwanzas), pode custar a metade do preço.

Geralmente, nunca dispõem de um endereço fixo, apenas o terminal, telefónico a partir do qual orientam que se faça uma transferência bancária. Feita a operação, maior parte deles torna-se incomunicável. Esta rede busca por qualquer meio, para extorquir o dinheiro de quem procura por um serviço ou produto ao menor custo possível.

Por outro lado, há quem oferece oportunidades de emprego em várias áreas departamentais. Usam, muitas vezes, nome de instituições para atiçar o desejo dos potenciais visados.

Neste sentido, o Serviço de Investigação Criminal (SIC), numa nota de imprensa, realça que “muitos cidadãos têm sido vítimas de crimes de burla por negócios via Internet, atraídos por baixos preços de determinados produtos, sem verificarem a idoneidade das empresas ou comerciantes que promovem a venda de tais produtos”, reza a nota.

Segundo o documento, o SIC, através do seu contacto associado à página do Facebook e dos seus piquetes, tem estado a receber várias queixas de pessoas burladas, mediante transferência, via multicaixa-express, de valores das suas contas bancárias, depois de terem recebido instruções telefónicas para se dirigir a um ATM.

O SIC assevera que, no âmbito das suas competências, tudo tem feito no sentido de responsabilizar criminalmente os autores destes actos, pelo que espera continuar a receber a colaboração de todos para, de forma implacável, não dar tréguas a esses malfeitores.

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