Campanha eleitoral: Promessas de estradas em pleno século XXI

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 José Gama

Angola deverá ser dos raros países na região Austral, em que nas campanhas eleitorais, ainda se fazem promessas de “estradas”, “ponte”, “salas de aulas”, como se assistiu neste final de semana em que o Presidente anunciou a construção da estrada Luau ao Cuito. E como diz a Leusia, a comunicação social também não ajuda e ainda ajuda a fazer destaque.

Do Luau até ao Cuito, são cerca de 729 KM ou 12 horas de carro. É uma distância superior ao trajecto Luanda ao Huambo (604 KM). A ideia de construção desta estrada é boa, mas não serve para promessa de campanha eleitoral, que se vai exigir pronta na prestação de contas nas eleições de 2027. A construção de uma estrada de 729 KM é um projecto a longo prazo do governo. O governo pode avançar já, e mesmo que demore 12 anos, fica pelo menos a marca de JL, mas não é recomendável para se usar em campanhas eleitorais. Para as campanhas, o povo quer coisas imediatas como emprego, democracia, liberdade de expressão, e outros indicadores económicos.

Na véspera das eleições de 2021 da Zâmbia, a académica sul africana Nicole Beardsworth, havia alertado que o então Presidente Edgar Lungu, estava a investir a sua campanha a combater o Hakaimnde Hichilema, procurando convencer que construiu escolas, estradas, infraestruturas. É o mesmo que está acontecer em Angola.

Na Zâmbia, imagem de Edgar Lungu já estava reduzida a um Chefe de Estado que havia fragilizado o poder judicial e outros antecedentes. Hakainde Hichilema, por sua vez, apresentou-se na campanha como alternância, como um homem de paz, como alguém que mesmo sem poder, mas já empregava muitos jovens nas suas empresas. Hichlema mostrou que o presidente Lungu deixou 12% da população no desemprego, a inflação a 22%, e a dívida pública aumentar para 118,7% do PIB. Desconstruiu a campanha de “construção de estrada e escola” do seu adversário e ganhou as eleições.

A juventude da Zâmbia estava instruída. Está é uma das lacunas identificada no Presidente João Lourenço, ao fazer campanha de promessas de “estradas”, algo que o jovem sabe que não vai reflectir na sua vida de forma imediata, depois de Agosto. A UNITA, como maior partido da oposição, comete outra lacuna, em não aproveitar as lacunas do Presidente João Lourenço para reforçar a fazer a sua campanha. Deveria explorar que durante os cincos anos do mandato de JL, desprestigiou o poder judicial, as promessas de 500 mil postos de empregos falharam, a polícia continua a matar, há presos políticos (Luter, Tanaice, Zacamuxinda e outros no Uíge), apenas as manifestações de apoio ao partido do PR que não são reprimidas, a mídia foi classificada como a pior de África, Angola foi classificada pela The Economist, na lista de países autoritários, o PR está prometer coisas já prometidas em 2017.

Angola tornou-se, nos últimos dois anos, um país não recomendável para os angolanos que vivem fora e que têm cultura democrática.

É inegável que o início do seu mandato, o PR denotava vontade de mudar o país, mas depois de dois anos mudou radicalmente. O presidente teve tudo em seu alcance para mudar Angola, mas perdeu tudo, inclusive o apoio dos jovens. Apesar de ser um homem forte, o PR na sua recente conferência de imprensa deu sinais que está preocupado dos reparos de que teve um mandato que não mudou a vida dos angolanos. Na recente conferência de imprensa, pediu que reconhecessem pelo menos que em cinco anos construiu cerca de 80 hospitais, algo que segundo argumentou, não se verifica tal feito em outros países.

Os hospitais são bem-vindos, mas serão ainda melhores quando os próprios membros do governo passarem a ser operados nestes mesmos hospitais e não no estrangeiro. JL, diferente a Neto e a JES, revelou-se ser um Presidente que presta uma certa atenção ao interior. Deveria ouvir o líder do Sindicato dos Médicos, Adriano Manuel, que tem alertado que a solução não esta apenas na construção de hospitais, mas na restruturação do sistema de saúde, para avançarmos para a medicina preventiva. Podemos construir mais hospitais em todas as esquinas, mas sem sistema de saúde organizado, nada feito. Continuaremos a ter as taxas de mortalidade a crescer.

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