Condenado a mais de 8 anos: HOMEM QUE QUEIMOU COMPANHEIRA POR LHE CHAMAR DE CORNO
Por ciúme doentio, Paulo José Viriato, 28 anos, despejou gasolina no rosto da mulher e de seguida ateou-lhe fogo.
Felicidade Kauanda
Obárbaro crime teve como acórdão, lido pela juíza da causa, Diana Calueto, da 12ª Secção da Sala Criminal do Tribunal da Comarca de Belas, a pena de 8 anos e 3 meses de prisão efectiva, o pagamento de AKZ 2.000.000,00 (dois milhões de kwanzas) a título de indemnização à vítima e AKZ 100.000 (cem mil kwanzas) de taxa de justiça.
Segundo o documento oficial, ficou provado que Cláudia Gonçalves Gomes, a vítima de 28 anos de idade, correu risco de perder a vida em função das queimaduras graves infringidas pelo ex-companheiro, Paulo José Viriato, 28 anos, que não aceitou o fim do relacionamento. Para o tribunal, não restaram dúvidas que, no auge da fúria de ciúmes, o réu agiu de forma dolosa com único objectivo de excluir do mundo dos vivos a ex-companheira, uma vez que os ferimentos foram infringidos em zona fatal do corpo.
O facto de o réu não ter manifestado arrependimento em momento algum das sessões de julgamento, leva ao entendimento que perpetrou o crime com prazer, tudo fazendo para que a mesma não se levantasse do chão e que morresse no local, onde estava em chamas, tendo sido frustrado, apenas, pela resistência e vontade de viver da vítima, que conseguiu escapar, mesmo ardendo em fogo, até à residência da irmã , localizada a poucos metros do local do crime.
Facto que levou a juíza da causa a sublinhar, depois da leitura do acórdão, que, “apesar da gravidade do caso, o senhor não manifestou arrependimento em nenhum momento, isto mostra claramente que tinha prazer em fazer o que fez, foi seu plano matar a Cláudia, por isso saíste de casa com gasolina e isqueiro, não fizeste nada para ajudar, enquanto a mesma ardia em chamas. A Cláudia está danificada, perdeu partes do seu corpo, nunca mas será a mesma. Tendo em conta a natureza do crime, o senhor nem vai beneficiar da liberdade condicional. Terias uma pena maior, mas foste beneficiado da atenuação, pelo facto da vítima não ter morrido”.
As versões em julgamento
Apesar de confessar o crime, Paulo José Viriato dizia que até o dia do ocorrido ainda mantinha a relação conjugal com Cláudia Gonçalves, que durou cerca de dois anos. Naquela fatídica manhã, por volta das 7 horas, afirmou, procurava pela companheira que há mais de uma semana estava fora de casa, vivendo com uma tia, apenas identificada por Nelinha, como forma de pressioná-lo a arrendar outra residência, longe da família do mesmo. Quando chegou à residência dessa, esta lhe terá informado que Cláudia não dormira em casa, e que o bebé de ambos passou a noite toda a chorar.
Tempos depois, narra, avistou a esposa na rua, questionando-lhe, assim, onde saíra, o que resultou numa discussão. No calor da emoção, Paulo insistia se saía do seu namorado, ao que Cláudia respondeu “estou a sair da casa do meu namorado, fiz sexo com ele hoje, a gravidez que tirei não era tua, mas sim dele, tu és um corno”. Tais palavras, disse, o terão deixado enfurecido, o que o fez retirar da mochila a garrafa de gasolina de 100 mil litros que levava no kit de ferramentas de trabalho, despejando-a e de seguida ateado fogo sobre ela.
Após isso, terá corrido em direcção a um quintal, onde encontrou um menino, que passou a gritar ”gatuno gatuno…”, o que lhe terá deixado assustado, levando-o a pôr-se em fuga e a população ido em sua perseguição.
Posteriormente, foi agarrado e agredido, ressalta, e só não foi linchado pela população, porque foi socorrido por agentes da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), que aí passava numa viatura, dispersaram a população e, consequentemente, o detiveram, acabando por confessar o crime na Esquadra denominada Chapinha.
Questionado por que motivo andava com gasolina, sendo líquido inflamável, e um isqueiro, disse que era parte do seu kit de trabalho, uma vez que ia para um expediente. Já o isqueiro, disse ter levado no bolso para acender cigarro, uma vez que fumava.
Todavia, alega não ter ateado fogo à esposa com intenção de matá-la, que somente fê-lo por estar possuído de raiva. “Sinto-me muito mal pelo que aconteceu, ela é minha esposa, estou muito arrependido, da próxima vez, conter-me-ei, não me vou deixar levar pelo nervosismo, eu amo ela e tenho planos para com ela”.Por outro lado, Cláudia Gonçalves Gomes, a vítima, com o rosto visivelmente desfigurada, e com grandes sequelas tanto no pescoço como nas mãos, disse que fala na qualidade de ex-companheira do réu e não de esposa, como ele afirmava.
Conta que é mãe de dois filhos menores, sendo o mais novo fruto da relação com Paulo, quem caracteriza como um homem violento, possessivo e muito ciumento, tendo isto sido um dos maiores motivos da separação. Por outro lado, sublinhou que não foi a primeira vez que sofre tentativa de assassinato por parte do mesmo.
Recordou que no dia do sucedido, pelas 8 horas da manhã, regressava da padaria, pois não conseguira comprar pão, por falta de troco, uma vez que levava nota de dois mil kwanzas. Voltava em casa, na intenção de buscar notas inferiores e, pelo caminho, deparou-se com Paulo, a conversar com uma rapariga. Depois de andar alguns metros, Paulo correu ao seu encontro, perguntando-a de onde vinha aquela hora. Situação que terá gerado discussão, por não acreditar na resposta de Cláudia, isto é, de que vinha da padaria. Desta feita, Paulo dizia-lhe que saía da casa do namorado, o que a levou a responder “mesmo que estivesse a sair da casa do meu namorado, não tens nada a ver, porque tu és meu ex-marido”.
Depois de tal resposta, Paulo começou a agredi-la e tentava também despi-la e introduzir seus dedos nos seus órgãos genitais, para comprovar se realmente vinha da casa do namorado e se tivera mantido relações sexuais, levando-a a cair no chão, e, enquanto tentava levantar para fugir, notou que já estava em chamas.
De seguida, correu para a casa, onde a irmã lhe atirou água. Posteriormente, foi à residência de um tio que a socorreu para o hospital do Zango, onde ficou internada durante um mês e submetida a uma intervenção cirúrgica.
Questionada se tinha abortado enquanto vivia com Paulo, respondeu que sim, mas fez questão de garantir que “a gravidez era mesmo dele, ele sabe bem disso”. Frisou que naquele dia não falou que estava a sair da casa do suposto namorado, que fez sexo com o mesmo, que a gravidez que tirou não era do marido, mas sim do namorado, e muito menos o terá chamado de corno. “Eu sabia muito bem que ele é um homem possessivo e muito ciumento, nunca usaria estas palavras para ele, muito menos lhe dizer que é um corno”.
No fim, Cláudia expressou seu desejo de justiça. “Eu só quero que ele pague o que me fez, eu não nasci assim, minha mãe deu-me à luz muito bem, hoje eu não consigo mais sair de casa nem ficar com as minhas amigas, por causa do que ele me fez, nem com os meus filhos consigo conviver da melhor forma, eles me perguntam sempre sobre o meu estado, ele tem de pagar o que fez”, expressou.
Por seu turno, Inocência, irmã de Cláudia, contou em tribunal que depois de Paulo ter ido à sua casa procurar pela ex-mulher, foi surpreendida por esta, que vinha correndo em direcção à sua residência clamando por socorro, dizendo que Paulo a tinha queimado. Assim, na boleia de um mototáxi, vulgo Kupapata, ambas foram até ao Hospital Neves Bendinha, que infelizmente encontraram fechado. Regressaram à casa, em busca de dinheiro, tendo as vizinhas lhes informado que a Polícia deteve Paulo e que pediam a presença de Cláudia na esquadra.
Com os ferimentos ainda fortes, Cláudia e a irmã foram até à referida esquadra, mas dado o seu estado, foram aconselhadas a procurar por socorro médico primeiro, pelo que se dirigiram ao Hospital do Zango.
“Nenhum homem ou empresa vai querer minha filha deste jeito”
Imaculada Gonçalves, mãe de Cláudia, lamentou profundamente à nossa equipa de reportagem o estado em que ficou a filha “A minha filha não nasceu sem orelha, eu, como mãe, até hoje não consigo vê-la bem, quando lhe vejo, apanho susto por estar assim desfigurada, imagina as pessoas que não a conheceram antes”. “Nenhum homem vai querer a minha filha como esposa deste jeito, nem trabalhar numa empresa vai conseguir, porque nenhuma empresa lhe vai aceitar. O Paulo não fez nenhum dever à Cláudia, não fez pedido nem apresentação, mesmo se fizesse, não tinha o direito de distratá-la assim, nenhuma mulher ou mãe merece passar por isso”, lamentou, adicionando que “quando a Cláudia deu à luz, vivia com o Paulo, mas através das agressões que ela sofria e as promessas de morte que ele fazia, ela decidiu sair de casa e foi viver com a tia. A Cláudia quando ouvia a voz do marido fora, por medo não saía de casa”.
Das várias agressões que a filha sofreu por parte do ex-marido, recorda a mãe, uma foi feita em casa da tia, tendo Paulo, na ocasião, lhe mordido as orelhas, e só parado graças às pessoas que ouviram o barulho de socorro.
“Ele é muito ciumento, não poderia encontrar a minha filha limpa que já era motivos de briga, pensava sempre que foi noutros homens… Mesmo para banhar, tinha que esperar ele estar presente! O Paulo já prometia, que um dia iria espetar pau nas partes íntimas da filha, para pensarem que é um bandido que fez, dizia que tem um tio juiz que poderia lhe ajudar no tribunal… mesmo quando a minha filha sofreu as queimaduras, nenhum familiar dele foi fazer visita ao hospital, sabem quem é o filho deles, nós só queremos que ele pague o que fez”.
Perfil do acusado
Paulo José Viriato, mais conhecido por Paulo, é natural do Golf, província de Luanda, filho de António Viriato e de Ana Lourenço José, residente antes de preso no município do Kilamba Kiaxi, rua 61, zona 9. Frequentou a 12ª classe no curso de Mecânica.
Até à data do crime, trabalhava como mecânico auto, auferindo um valor mensal de AOA 200.000,00 (duzentos mil kwanzas). Apesar de nunca ter respondido em tribunal, é caracterizado como um jovem violento e agressivo. segundo pessoas próximas que, sem gravar entrevista, falaram com a nossa equipa, “ele já era violento, a família dele sabe disso, já teve outras relações antes desta jovem que foi queimada, as primeiras duas mulheres que teve fugiram pelo comportamento violento que ele tem, merece mesmo uma punição severa”.
Lamentavelmente, Cláudia Gomes, em todas sessões de julgamento, estava sempre coberta de panos no rosto e corpo todo, como forma de esconder as lesões.
De referir que caso ocorreu no dia 6 de Novembro de 2021, na zona do Golf 2, Luanda, numa altura em que Paulo Viriato e Cláudia Gomes já se encontravam separados, devido à violência doméstica que a mulher sofria. Em consequência da atitude do réu, a vítima veio a perder orelhas, lábios, parte do pescoço e danos nas mãos.