Fonte deste jornal ligada à TAAG (Transportes Aéreos de Angola) revelou que o produto se espalha nas periferias de Luanda, pois, quando termina o abastecimento das aeronaves, alguns trabalhadores ficam em prontidão com recipientes de cinco litros para, clandestinamente, levarem o produto para casa e revenderem aos produtores de bebidas caseiras.
Jaime Tabo
Benjamim Afonso
“Tudo parte de um acto de conivência entre os responsáveis pela manutenção dos aviões e os funcionários da Sonangol, que têm a missão de abastecê-los. Ou seja, há uma máfia que envolve, inclusive, os seguranças que dão cobertura, permitindo a saída de trabalhadores com algumas quantidades do produto”, revela a nossa fonte.
No Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, os serviços de manutenção dos aviões são executados pela Direção Operacional Terrestre (DOT) ,cuja missão está assente na realização do cômputo geral de pré-embarque, sendo a Sonangol responsável pelo fornecimento de combustível.
“Tudo parte de um acto de conivência entre os responsáveis pela manutenção dos aviões e os funcionários da Sonangol, que têm a missão de abastecê-los, ou seja, há uma máfia que envolve, inclusive, os seguranças que dão cobertura, permitindo a saída de trabalhadores com algumas quantidades do produto”, revela a nossa fonte.
De acordo com a fonte, há muitos anos, quando o controlo a nível do aeroporto era débil, alguns trabalhadores transportavam o JET A-1 em voos, ilicitamente, para as demais províncias do país. Actualmente, refere, a prática já não se verifica devido ao aumento de segurança e controlo das bagagens de passageiros, com a implementação do sistema de “Raio X”. “Não há possibilidades de o combustível circular fora do aeroporto por pessoas estranhas”, concluiu.
O querosene de aviação, também conhecido no mercado internacional como Jet-A1, é um derivado de petróleo utilizado em motores movidos à turbina. É o combustível mais importante para o transporte por vias aérea nas principais rotas comerciais do mundo.
“Caipirinha do Azar”
Psicológa alerta para estigmatização de fabricantes e consumidores
De acordo com a psicóloga clínica, Domingas Gabriela, o consumo da “caipirinha do azar”, como ficou conhecida a bebida de fabrico caseiro que recentemente vitimou mais de uma dezena de jovens no município de Viana, é um fenómeno social motivado pela situação de pobreza no país, que inspira o instinto de sobrevivência a recorrer a estas práticas, usando uma fórmula nova para tornar o produto mais rentável.
Domingas Gabriela explica que muitos, apesar de serem consumidores, eram, também, os provedores que recorriam ao uso da bebida para afogarem os problemas, o que, segundo a psicóloga, não é uma prática saudável, pois, existem outros métodos de resolução dos dilemas da vida.
Para a especialista, o que ocorreu poderá vir a ser razão mais do que suficiente para um julgamento público repleto de infâmia contra os produtores e familiares das vítimas da “caipirinha do azar”. Aliás, acrescenta Domingas Gabriel, os produtores desta bebida poderão vir a ser apelidados de ‘assassinos’, “o que, certamente, pode limitar a circulação dos membros desta família, por receio, até, de serem mortos.
Por outro lado, prossegue a psicóloga, os familiares das vítimas podem, também, sofrer bullying, porque o seu ente perdeu a vida por ter consumido aquele produto, podendo, assim, gerar, nos órfãos, o sentimento de revolta pela morte prematura do seu ente querido.
“Palavras como «se não fosse a vizinha a fabricar a bebida, o meu pai não teria morrido, meu irmão não morreria», e constante stress há-de ocorrer sempre”, esclareceu.
A psicolóloga defende que a formação básica para os filhos é fundamental, de modo a diminuir a cobrança psicológica, pois, esses menores podem desenvolver transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno opositivo e a delinquência.
“São meninos que poderão desistir da escola por conta do bullying e a vergonha, mas os que continuarem poderão apresentar certo comprometimento em algumas funcões cognitivas, como a atenção e a concentração”, elucidou.
Domingas Gabriela disse que os filhos que assumirem a posição de provedores, porque o pai morreu, submeter-se-ão a sérias consequências nas suas vidas, pois, estarão a quebrar ou pular etapa e assumirem cedo responsabilidades de adultos. “Deixará de viver a sua infância para assumir o papel de pai ou mãe precocemente”, argumentou.
Para esta especialista, “é preciso que se crie medidas de inclusão social, como subsídios de pobreza, serviços básicos funcionais, centros onde as pessoas pobres possam receber cestas básicas semanais, para que os menos favorecidos sintam-se acolhidos”.
Consequências da inalação do JET-A1
O JET A-1 é uma substância química da família dos hidrocarbonetos. Esta classe, diferente de outras, quando ingerida pelos humanos, gera reacções adversas que podem terminar em morte. Para uma ideia da sua composição complexa, o produto congela, apenas, com uma temperatura de 47.°C (graus celsius) negativos, ou seja, em estações de frio inimaginável.
De acordo com pesquisas, a análise da composição química dos combustíveis é formada a partir de uma mistura de diferentes hidrocarbonetos, sendo que a sua ingestão pode causar irritação dos pulmões, com tosse, sufocamento, falta de ar e problemas neurológicos. Além desses, o conjunto pode causar frequência cardíaca irregular e rápida ou, em casos mais graves, morte súbita, sobretudo após esforço ou estresse.
Ainda segundo as pesquisas, o JET A-1 tem, na sua composição, uma quantidade elevada de energia não compatível com o organismo humano, na medida em que esta energia é definida pelo calor liberado quando uma quantidade de combustível é queimada sob condições específicas.
Nessa conformidade, a inalação de JET A-1 pode danificar partes do cérebro, coração, medula óssea e os rins. Em geral, depois de ingerir hidrocarbonetos, a pessoa tem tosse e asfixia, podendo registar uma sensação de ardor no estômago e, possivelmente, vómitos.
Para já, o combustível dos aviões pode, na maioria das vezes, acelerar a respiração e, noutros casos, deixar a pele azulada, devido aos níveis baixos de oxigênio no sangue. Entretanto, a sua ingestão causa, também, sintomas neurológicos como sonolência, falta de coordenação, coma e convulsões.
A gasolina, embora que em menor proporção, contém hidrocarbonetos aromáticos, cuja principal fonte é o alcatrão de hulha, líquido bastante escuro que provoca câncer de pele, pulmão, bexiga, rins e células do sangue. No JET A-1 é, igualmente, utilizado o chumbo tetraetila como melhorador de octanagem, mas esse elemento é um potencial causador de danos nos rins, dores abdominais, anemia e danos ao sistemas nervoso e reprodutor, além de inibidor do crescimento corporal.