Depois de ignorado pela Polícia: MARGINAL MATA DUAS PESSOAS e instala caos
Duas pessoas morreram e quatro outras ficaram gravemente feridas, em consequência de um ataque, com faca, protagonizado por um destemido marginal, de quem a Polícia Nacional e o Serviço de Investigação Criminal (SIC) escusaram-se de deter, mesmo depois de serem alertados, momentos antes do cometimento dos crimes.
Costa Kilunda
Cali Jorge Saty e António Manuel Kamba, 21 e 45 anos, respectivemente, são as vítimas mortais, resultantes da acção bárbara protagonizada por`Boy Tony´, na companhia de dois irmãos, também criminosos, apenas identificados por `Jojó´ e `Nené Dia´, no bairro Golf 2, município do Kilamba Kiaxi, no pretérito domingo, 21 de Março.
As vítimas, de acordo com testemunhas, terão sido atingidas fatalmente por duas vezes, nas regiões do tórax, com uma faca de aproximadamente 30 centímetros de comprimento.
“Foi aqui, no coração”, disse Rosa Joaquim, a avó de Cali Saty, ao indicar-nos a zona do corpo em que o neto havia sido atingido, realçando que não era a primeira vez que o suspeito o fazia.
Para ela, `Boy Tony´ e os comparsas são um trio de criminoso que não devem continuar em liberdade. “Eles e a família fugiram, mas apelamos à Polícia que os encontrem para que sejam severamente punidos pelos seus crimes”, apelou.
“Eu não estava durante a briga, mas fui para lá depois que me apercebi. Quando cheguei ao local já, os curiosos tinham tomado conta do espaço. Retirei-me e fui noutra zona onde, horas depois, recebi a informação de que estavam a agredir o meu pai”
Rosa Joaquim falou também que, após receber a triste notícia que dava conta da morte do seu neto, os amigos do falecido deslocaram-se para a residência do acusado, com o objectivo de retaliação, mas, para a sorte daquela família, já tinham abandonado o local. “Já enterrei os pais dele e agora o enterrarei também? Por favor, ajudem-me! Já não tenho forças para suportar tamanha dor”, implorou, enquanto limpava o rosto banhado de lágrimas.
Por consequência dos golpes Cali Saty teve morte imediata e, António Kamba, também esfaqueado naquele dia, sucumbiu nove dias depois, quando lutava pela vida no Hospital Geral de Luanda, onde recebia assistência médica desde que tudo aconteceu. “Os médicos fizeram tudo que estava ao seu alcance, mas, infelizmente, os ferimentos foram tão graves que nem a cirurgia foi o bastante para lhe dar novamente a vida”, lamentou, Teresa Dala Ganga, a viúva.
Por sua vez, os feridos abandonaram mais cedo as unidades hospitalares onde recebiam tratamento médico e, agora, encontram-se a recuperar nos seus aposentos, algures por aquelas bandas do bairro Golf 2, onde, de acordo com testemunhas, é dominada e comandada pelo grupo de malfeitores denominado por Matrix.
Polícia recusa-se a prender criminoso
Parece uma declaração de arrepiar o raciocínio lógico de uma pessoa normal, porém, é a frase que mais vezes foi reiterada pelos interlocutores d’O CRIME. “Lamentamos dizer-vos isso, mas é a pura verdade”, afirmou uma testemunha que preferiu o anonimato.
“Quando tudo começou, ainda por volta das 15 horas, a mãe do jovem, agora homicida, dirigiu-se à esquadra dos Rastas, para buscar auxílio dos efectivos e não teve êxitos. Disseram «vai-te embora… já te conhecemos e sabemos que na tua casa vive muitos bandidos». No entanto, a senhora insistiu e eles o acompanharam”, narra.
Postos no local, ao depararem-se com a veracidade dos factos, os polícias terão, alegadamente, dito “hah! afinal é este gajo?! Não podemos levá-lo, eles que lutem e se matem”! Ainda segundo a nossa fonte, o agressor, no caso, Boy Tony, tentou subir na viatura da Polícia por livre vontade, mas o retiram, alegando que na esquadra não há lugar para malucos.
No seu entender “a Polícia não presta”, ou seja, “aparecem apenas quando acontece o pior…temos a plena certeza de que, se prendessem o referido jovem, nada disso aconteceria, não teríamos feridos e tão pouco vítimas mortais. Logo, estaríamos tranquilos e sossegados”, disse.
Retaliação, caos e vandalismo às barbas da PNA
Tal como sempre ocorre em circunstâncias similares, no supracitado bairro não foi excepção. Ou seja; casas destruídas e queimadas, diversos bens roubados, bem como pessoas inocentes agredidas por aqueles, cujo sentimento de vingança e ‘sede’ de fazer justiça com as próprias mãos pairava nas suas mentes.
“Não são muitas pessoas, são apenas dez ou oitos indivíduos, com as idades compreendidas entre os 18 e 22 anos, que a Polícia está a temer”, disse, Cássia Buila, acrescentando que, os homens da farda azul, quando solicitados para acudir a situação, disseram «vocês sabem… na luta entre gangues rivais, quando morre o elemento de um dos grupos, é isso que acontece: vandalismo».
Por sua vez, Esperança Baião Dala fez saber que nada tem haver com tudo aquilo que aconteceu. Porém, segundo ela, ainda que tivesse, o crime não é transmissível. Entretanto, sua residência não foi poupada pela fúria dos amigos do falecido. “Como os senhores podem ver, a minha casa está completamente vazia. Levaram-me tudo…”, deplorou.
Esperança Dala explicou que seus bens foram transportados por elementos identificados aquando do caos que se instalou naquela zona, no dia da ocorrência dos factos acima descritos, pelo que, teve de abandonar a moradia e encontrar abrigo e segurança em outro local.
Na manhã seguinte, no seu regresso, nada mais havia o que fazer, senão lamentar. “Arca, televisor plasma, cadeirões, fogão, garrafa de gás, loiça de cozinha… tudo mesmo, até documentos foram levados”, disse.
Depois de fazer a participação na esquadra local sobre o que aconteceu na sua residência, disse que os agentes a responderam nos seguintes termos: “vão lá resolver os vossos problemas em outro local… esqueceram que os bandidos são os vossos filhos?”, o que levou-a a questionar “afinal, a Polícia está ou não para defender o povo?”.
Disse, ainda, que seu maior problema consiste em recuperar os bens roubados. “Sei onde estão”, afirmou ao lamentar que a família está dispersa em casa de diversos familiares.
Portanto, após a nossa conversa presenciada por dezenas de pessoas aflitas, desesperadas e tantos outros curiosos que aos nossos gravadores e câmara fotográfica viam a resolução dos seus problemas, deslocámo-nos até à esquadra para apurar os factos.
Escoltados como se de uma viatura protocolar se tratasse, lá, após uma breve conversa não registada por conta das restrições impostas aos comandantes de zona e municipal, o Inspector-chefe Zau, apesar de não confirmar ou negar as acusações, prometeu criar diligências que culminariam na recuperação de todos os bens roubados.
Disse que a esquadra carece de meios humanos, rolantes e técnicos, porém, todos os esforços têm sido feitos, com o objectivo de anular as investidas dos amigos do alheio. “Comigo esses miúdos não vão aguentar, perguntem o que fiz e como deixei o bairro Malanjino”, alertou.
O problema que provocou as mortes
De acordo com as declarações de António Bondo Kamba, 18 anos, filho do malogrado, António Manuel Kamba, a confusão deu-se por causa de um telefone. “Os meus amigos pretendiam vender um telefone, mas quando se cruzaram com o Boy Tony, este requereu para si, alegando que antes colocaria a carregar para saber se funcionava ou não”.
Dito pelo feito, minutos depois, o agora foragido recusou-se a devolver o aparelho celular. Tal posição, segundo nos disse António Kamba, deu origem a uma luta entre amigos, tendo os dois terminado com ferimentos graves, feitos com pedaços de garrafa.
“Eu não estava durante a briga, mas fui para lá depois que me apercebi. Quando cheguei ao local, já os curiosos tinham tomado conta do espaço. Retirei-me e fui noutra zona onde, horas depois, recebi a informação de que estavam a agredir o meu pai”, disse, alegando que entre si e o acusado nunca houve rivalidades.
“Sinto uma dor enorme e, sobretudo, sinto-me culpado por tudo. Por isso, estou disposto a ajudar a Polícia a encontrá-los, mas, se os encontrar primeiro, também matarei um deles”, asseverou, ao acrescentar que há pistas segundo as quais o homicida e os irmãos abrigaram-se na residência do progenitor, no bairro Cassequel.
Por fim, o disse que já abandonou as práticas negativas e, agora, apela aos outros jovens para que sigam seu exemplo. “Afastei-me de tudo…, por isso, nunca mais lutei”, assegurou.