Dois anos após o assassinato de Juliana Cafrique: PROMESSAS NÃO PASSARAM DE DISCURSOS POPULISTAS E FAMÍLIA DA ANTIGA “ZUNGEIRA” VIVE HOJE EM CONDIÇÕES PAUPÉRRIMAS

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Mais de dois anos após o assassinato da vendedeira ambulante Juliana Cafrique, no Rocha Pinto, por um agente da Polícia Nacional, agora a cumprir o segundo ano de uma pena de 16 anos de prisão, as promessas feitas ao esposo, desempregado, no calor da comoção causada pelo caso, não foram cumpridas e a família vive dias piores, como contou ao jornal O Crime o viúvo.

Julieta Humba

Banguila Manuel Augusto contou a este jornal que a grande ajuda que teve veio da parte da dupla Nice Zulu e BC. Os rappers, de quem hoje nutre elevada estima e consideração, explica, compadeceram-se com ele e a sua família desde o início, tendo estes custeado quase todas as despesas do óbito, com excepção da urna, oferecida pelo Governo Provincial de Luanda, à data liderado pelo malograda Sérgio Luther Rescova Joaquim. 

Aliás, prosseguiu, foi o mesmo Sérgio Luther Rescova que, a posteriori, ofereceu-lhe uma formação profissional de electricidade, com duração de um ano, entre 2019 e 2020, que era a área para a qual tinha maior inclinação, com a promessa de que, tão logo terminasse o curso, encontrar-lhe-ia um posto de trabalho. “Mas até hoje nem água vai, nem água vem”, disse, visivelmente magoado com a situação, acrescentando que mantém esperanças que a nova inquilina do GPL venha olhar para a sua situação.

Ademais, frisou, ainda durante o consulado do finado Luther Rescova, escreveu várias cartas para o Governo Provincial, mas nunca foi atendido.

Promessas da Vice-Presidente do MPLA

Após a realização do funeral da sua esposa, diz Banguila Augusto, recebeu a visita da número dois do MPLA, Luísa Damião, que, no final, entregou-lhe um envelope contendo AKZ 300 mil (trezentos mil kwanzas), prometendo que a ajuda não ficaria por aí. Mais uma vez, explica, “a promessa ficou-se no barulho”. 

“Até agora nem sequer liga para saber como andam os meus filhos. Não se preocupa connosco”, lamenta Banguila. 

O jovem disse ainda não entender o significado da frase “a ajuda não ficará por aqui”, proferida, segundo ele, por Luísa Damião, certo é que, volvidos pouco mais de dois anos desde o falecimento, a família vive numa situação que descreve ser de “elevada miséria”. 

A desculpa Polícia Nacional

De acordo com Banguila Manuel Augusto, o viúvo de Juliana Cafrique, o mais difícil de compreender nisto tudo é como “um agente da Polícia Nacional tira a vida da sua esposa e furta-se de prestar qualquer apoio à família daquela!”. 

Ao longo da conversa com a repórter do jornal O Crime, era notório o tom carregado, quando fosse citar a corporação. Para ele, o MININT tem maior responsabilidade nisto mais do que qualquer um.  Além disso, explicou que por diversas vezes endereçou cartas ao Comandante Provincial de Luanda, que até lhe respondeu certa vez, mas gorando a sua intenção com a explicação de que “esse assunto não é da sua competência”, despachando o caso sob alçada do GPL . 

De tantos “NÃO” por parte das autoridades, o jovem sente-se menosprezado e abandonado à sua própria sorte, realçando que vezes há que não consegue conter as lágrimas quando vê os filhos a padecerem até por falta de pão em casa.  

Formação dos filhos

Apesar de tanta rejeição por parte das autoridades, nem tudo correu mal. Pois, segundo Banguila, no que toca a formação dos filhos tem contado com a compaixão de uma apresentadora de televisão do canal ZAP VIVA, que financia o seu primogénito, agora com 9 anos, numa instituição de ensino particular. 

Já a segunda filha, de 5 anos, recebera, também, uma bolsa na creche ‘4 Irmãs Formosas’, oferecida pela directora da referida creche, onde também fez o pré-escolar. Infelizmente, lembra Banguila, a filha mais nova, com apenas três anos, não beneficiou de qualquer bolsa.

No entanto, o jovem não deixa de agradecer a estas duas senhoras pela prestimosa ajuda que oferecem a si e à sua família. 

Solidariedade vindo da diáspora 

De boas acções, explica Banguila Augusto, não se resume apenas aos cantores Nice Zulu e BC, à apresentadora da ZAP e à proprietária da creche. Segundo ele, enquanto o Governo angolano fecha os olhos para a sua situação, do velho continente, mais concretamente da Holanda, recebeu por parte da juventude angolana, residente naquele país, alguns valores monetários para suster parte das suas despesas diárias, e alguns investidos em areia e burgal num terreno que adquirira. 

Graças, também, a uma campanha de angariação de fundos promovida pelo canal ZAP VIVA, à data, que ajudou nos primeiros dias – e a cimenteira CIMANGOLA, que lha havia oferecido alguns sacos de cimento na qual preferiu comercializar a fim de comprar terreno, no bairro Mundial. 

O grito de socorro do órfãos de Juliana Cafrique

Apesar de ainda tenra as idades destes menores, já são cheias de más lembranças, como cantou Teta Lando. O filho mais velho do casal, de apenas 9 anos, disse à nossa reportagem que tem sido sofrível a situação da família, sendo que há semanas que ficam dois ou três dias sem ter o que comer. 

“Se não aparecer biscate para o papá, lá, em casa, nós não comemos. A fome entrou desde que a mamã morreu”, lamenta o petiz, para depois dizer que, às vezes, quando olha para os irmãos mais novos, é difícil conter as lágrimas. 

Em jeito de conclusão, o menor pede encarecidamente para que olhem para a sua situação.

De recordar que Juliana Cafrique perdeu a vida a 12 de Março de 2019, por volta das 19h, no Bairro Rocha Pinto, alvejada na cabeça por um agente da Polícia Nacional. 

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