Drama no Bairro Canambua: Empregada Doméstica Inocula HIV em Criança ao Amamentá-la sem Permissão

Na manhã de sábado, 14 de março, uma tragédia silenciosa se desenrolou no bairro Canambua, em Malanje, marcando a vida de uma pequena menina de apenas dois anos e sua família. Feliciana*, uma jovem de 24 anos e empregada doméstica, foi acusada de transmitir o vírus HIV à filha de sua patroa ao amamentá-la sem permissão. O incidente, que abalou a comunidade local, se desenrolou de forma inesperada e deixou um rastro de dor e incerteza.
O dia parecia comum até que a bebê, ainda em seus primeiros anos de vida, começou a chorar. A mãe, que estava no banheiro, não pôde atender imediatamente ao chamado da filha. Nesse momento, Feliciana, mãe de um menino de dois anos que ainda amamenta, decidiu, por sua própria vontade, amamentar a criança. O gesto, aparentemente sem malícia, desencadeou um evento que alteraria irrevogavelmente a vida da pequena.
Ao sair do banheiro e encontrar a filha com leite na boca, a mãe da bebê se alarmou. O que parecia ser um simples ato de conforto maternal se transformou em uma dúvida angustiante: de onde teria vindo o leite? O questionamento imediato foi seguido por uma investigação que culminou em uma revelação devastadora. Feliciana, ao ser confrontada, revelou que desconhecia seu estado de saúde, alegando não saber que estava infectada com o HIV. Para confirmar ou refutar sua alegação, a mãe da criança levou a empregada ao hospital, onde um teste de HIV foi realizado. O resultado foi positivo.
A situação, de extrema gravidade, foi imediatamente comunicada à Polícia Criminal (SIC), que iniciou os procedimentos legais para apurar os detalhes do caso. Durante o depoimento, Feliciana reiterou sua ignorância sobre seu estado de saúde, destacando que, após se separar do pai de seu filho, nunca teve a confirmação de que estava vivendo com o HIV. Seu relato, embora marcado pela incredulidade e medo, não conseguiu evitar as consequências do ato que agora ameaçava a vida da bebê.
Este caso, embora trágico, é um reflexo alarmante da realidade que Angola enfrenta com a epidemia do HIV. O país se encontra entre os 25 com maior número de novas infecções, especialmente entre jovens e adolescentes. Segundo um relatório da Rede de Organizações da Sociedade Civil (ANASO), diariamente 57 novas infecções e 35 mortes relacionadas à doença ocorrem no país, uma realidade devastadora para milhares de famílias.
Entre os dados mais preocupantes, as mulheres são as mais afetadas, com cerca de 200 mil vivendo com o HIV, e os jovens representam uma parcela significativa das novas infecções. Aproximadamente 34 mil jovens, especialmente meninas entre 15 e 24 anos, estão sendo infectados a cada ano. Além disso, as crianças também enfrentam um destino cruel, com cerca de 35 mil vivendo com o vírus, e 10 novas infecções diárias, conforme aponta o relatório da ANASO.
O drama vivido por Feliciana e pela pequena vítima em Malanje é apenas um dos muitos exemplos que ilustram a luta silenciosa contra o HIV em Angola. A desinformação, a falta de conscientização e o estigma em torno da doença contribuem para que casos como este se multipliquem, comprometendo o futuro de crianças e jovens em um país já fragilizado pela epidemia.
Enquanto isso, a sociedade angolana luta para enfrentar os desafios impostos pelo HIV, com um número crescente de infecções e mortes, especialmente entre os mais vulneráveis. O caso em Malanje serve como um alerta doloroso sobre a necessidade urgente de medidas eficazes de prevenção, educação e apoio para as vítimas do HIV. A tragédia de uma jovem que, sem saber, transmitiu o vírus à criança que cuidava, coloca em evidência a gravidade de uma situação que exige a atenção e ação imediata das autoridades de saúde e da sociedade em geral.