Em estado de coma: CIDADÃO FERIDO COM TIRO POR AGENTE DA PNA

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Um cidadão de 21 anos quase perdeu a vida depois de, alegadamente, ter sido alvejado, à queima-roupa, por um agente da Polícia Nacional afecto à 20.ª Esquadra, no bairro Prenda. O facto ocorreu na manhã de quinta-feira, 3 de Junho, no sector do Mbondo-ya-Mbulungo, bairro Prenda, em Luanda, quando um grupo de pessoas decidiram, por mãos próprias, pôr fim à vida de um delinquente apanhado em flagrante delito. 

Maiomona Paxe

De acordo com os moradores, a Polícia local foi accionada e na tentativa de impedir o acto, um dos agentes, até ao momento não identificado, efectuou dois disparos, um ao ar e outro direccionado às pessoas que estavam no local, que, infelizmente, acabou por atingir o pulmão e o braço direito de Osvaldo Sebastião Domingos, de 21 anos. “O agente atirou para matar, se fosse para dispersar a população que agredia o delinquente, efectuaria os dois disparos ao ar e não contra a população”, disse Jorge Manuel, morador. 

Apercebendo-se do infortúnio, os agentes no local, sem prestar qualquer assistência ao jovem baleado, retiraram-se do local, juntamente com o ladrão, de formas a sofrer retaliação por parte da população, que já se encontravam com os nervos à flor da pele. Estatelado ao chão e a contorcer-se de dores, o jovem clamava por socorro, mas, pelo calor do momento, os moradores o levaram até a 20ª Esquadra, onde pertence o alegado agente que efectuara o disparo. Aliás, como era de se esperar, criou-se um alvoroço naquela unidade, o que obrigou o Comandante da referida esquadra a encaminhar o jovem ao Hospital do Prenda, onde deu entrada em estado crítico, pois havia perdido muito sangue. 

De acordo com a Direcção do Hospital do Prenda, a bala atingiu o pulmão e o braço direito, causando lesões graves ao sistema respiratório, no qual foi necessário uma intervenção cirúrgica e transfusão de sangue para salvar a vida do jovem, que até ao momento encontra-se em estado crítico e sob os cuidados intensivos daquela unidade hospitalar. 

De antemão, o comandante Brigil Panzo, da 20.ª Esquadra, não se demarcando da responsabilidade, mobilizou alguns agentes da sua esquadra a doarem sangue, gesto apreciado pelos familiares da vítima, embora o acusam de acobertar o agente que efectuou os disparos. “Queremos que o comandante identifique o agente e que seja presente ao Ministério Público, a fim de ser responsabilizado criminalmente”, exigiu Sónia Sebastião, mãe da vítima. 

Desgastada com a situação, a família fez participação do caso ao SIC, acoberto do processo-crime n.º 9481/202-mp-ma, sobre o aludido agente, pese embora temem que o processo não siga os trâmites normais, uma vez que nem a Polícia e nem o Serviço de Investigação Criminal (SIC) têm identificação do sujeito em causa. “Até agora não dizem qual é o agente que fez isso, dado que um dos vizinhos viu quem fez e pode reconhecer o mesmo”, exclamou Alfredo Domingos, pai da vítima. 

Já Gerson Futila, de 37 anos, indagou, “como é possível um agente da Polícia salvar um delinquente e atirar contra um inocente, que, no calor do momento, queria agredir o ladrão?”, para depois dizer que o delinquente em questão, conhecido apenas por “Laton”, é conhecido no bairro por violar, roubar e até mesmo matar. 

O mesmo (Laton), acrescenta o jovem, foi travado pela população quando tentava furtar pertences na residência de um morador e, na sequência, tentou escapar, mas sem sucesso. Como retaliação, foi brutalmente espancado e os moradores tensionavam queimá-lo, o que só não aconteceu porque as forças da ordem foram accionadas e, no seguimento, o inevitável aconteceu.

“O agente disparou contra um cidadão inocente e o Laton foi retirado às pressas do local e levado até à 20.ª Esquadra”, elucidou, para depois afirmar que o que levou o agente a efectuar o disparo contra o jovem seja, diz ele, talvez, a falta de autocontrolo. Os questionamentos sobre o que aconteceu são muitos que pairam sobre os moradores, que insistem que a Polícia Nacional, nos últimos tempos, anda cada vez mais violenta, que, ao invés de tranquilizar, tem provocado terror, defendem. 

Registos de agentes da corporação envolvidos em actos de violência 

Desde o início do corrente ano até ao momento, o Jornal O Crime noticiou várias matérias envolvendo agentes da Polícia Nacional, alguns em serviço, outros à paisana ou de folga, mas que, em posse de uma arma de fogo, fazem das suas e ainda alegam que nada os acontecerá. 

A pergunta que não se cala é: O que estará na base da tamanha brutalidade e péssima reacção dos agentes da Polícia Nacional? Uma fonte interna que não quis ser identificada alega que por um lado o tráfico de influência tem levado muitos jovens e a serem enquadrados na Polícia Nacional sem passarem por um concurso público ou até mesmo por um recrutamento como deve ser; por outro lado a transferência de oficiais das Forças Armadas Angolanas (FAA) para a Polícia Nacional é o principal precursor desta tamanha brutalidade, pois o processo de formação das FAA chega a ser mais rigoroso e intimista, em que os mesmos são ensinados a intervirem em situações extremas e até instruídos a usar a força. 

A fonte foi ainda mais afundo, dizendo que alguns ex-detentos e criminosos que ingressaram nas FAA e posteriormente transferidos para a Polícia Nacional são os que mais apresentam conduta agressiva, pondo de lado tudo que lhes foi ensinado durante o processo de treinamento. 

Segundo algumas pesquisas feitas pelo Jornal, A Polícia Nacional possui bons instrutores e formadores, o que não se percebe o facto de muitos agentes, depois de recrutados e trinados, saírem “frustrados e agressivos”, uma realidade que se  tem repercutido na vida da população, que, diariamente, se queixa do comportamento abusivo e agressivo dos efectivos da polícia Nacional. 

Nesta senda, Osvaldo Sebastião Domingos, de 21 anos, é mais um inocente que foi alvejado por um agente da Polícia Nacional, e mais uma família que se vê penalizada pelos excessos e falta de didáctica dos agentes, facto que ao invés de aproximar a Polícia do cidadão, deixa o cidadão distante e contra a Polícia.

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