Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço: Cristina Lourenço Confirmada como CEO da BODIVA
No passado dia 29 de março, Cristina Giovanna Dias Lourenço, filha do Presidente da República de Angola, João Lourenço, foi oficialmente nomeada presidente da Comissão Executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), instituição que ocupa um papel central no mercado financeiro do país. A decisão foi tomada durante a Assembleia-Geral Ordinária realizada no dia 28 de março, e o mandato de Cristina Lourenço à frente da BODIVA será de quatro anos. A nova CEO já exerceu a função interinamente durante 45 dias, após a saída do seu predecessor, Walter Pacheco.
Abias Monteiro
Com uma trajetória no mercado de capitais, onde acumula mais de 10 anos de experiência, Cristina Lourenço assume agora a liderança de uma das principais instituições do setor financeiro angolano. Antes da sua nomeação oficial, ela desempenhava funções de gestão de maneira interina, assumindo a posição com a confiança dos acionistas, que deliberaram pela sua efetivação no cargo.
No entanto, a nomeação não passou despercebida e rapidamente gerou reações no cenário político e econômico do país, especialmente pela sua relação direta com o poder central. O jornalista Rafael Marques, que já foi um defensor do Governo de João Lourenço, não poupou críticas à escolha, utilizando suas redes sociais e um programa radiofônico para questionar a decisão. Segundo Marques, a nomeação de Cristina Lourenço à frente da BODIVA levanta sérias preocupações sobre a perpetuação de práticas de nepotismo, algo que o atual presidente da República havia prometido combater de maneira veemente quando assumiu o poder.
A crítica de Rafael Marques tem fundamento, pois o Presidente João Lourenço, ao iniciar o seu mandato, fez duras críticas à gestão do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, especialmente no que diz respeito à nomeação de familiares para cargos públicos de alto escalão. No discurso inaugural de sua presidência, Lourenço prometeu pôr fim a práticas de nepotismo e promover uma governança baseada na meritocracia e no combate à corrupção. No entanto, a nomeação de sua filha para um cargo tão importante como o da BODIVA levanta dúvidas sobre a continuidade desse compromisso.
Essa situação coloca o Presidente João Lourenço em uma posição delicada, uma vez que sua imagem de combatente do nepotismo e da corrupção pode ser enfraquecida. A nomeação de Cristina Lourenço traz à tona uma série de questões sobre a separação entre o poder político e o empresariado em Angola, especialmente em um momento em que a governança e a transparência são mais exigidas pela sociedade angolana e pela comunidade internacional.
A BODIVA, desde a sua criação, desempenha um papel crucial no desenvolvimento do mercado de capitais em Angola, oferecendo uma plataforma para a negociação de títulos públicos e privados. A escolha de Cristina Lourenço para liderar a instituição é vista por alguns como uma tentativa de continuidade da sua estratégia de modernização do mercado financeiro, mas por outros como um movimento que reforça a concentração de poder e influência nas mãos de uma única família.
Em termos econômicos, o impacto imediato da nomeação de Cristina Lourenço à frente da BODIVA é incerto, mas a crítica ao ato por parte de figuras públicas e da mídia sugere que o episódio pode trazer um certo grau de instabilidade política e econômica, principalmente se o público começar a questionar a independência das instituições em Angola.
O presidente João Lourenço, por sua vez, poderá precisar tomar medidas para esclarecer os motivos por trás da nomeação de sua filha e reafirmar seu compromisso com a meritocracia e a transparência. Caso contrário, as acusações de nepotismo poderão ter efeitos negativos na sua imagem, tanto no cenário interno como nas relações internacionais de Angola.
Este caso coloca em evidência a tensão constante entre o discurso político e a prática administrativa, e como as decisões de nomeação em altos cargos públicos podem afetar a percepção pública sobre a governança em um país. O desfecho dessa história, que envolve tanto a política quanto a economia, poderá trazer lições valiosas sobre a importância da transparência e da responsabilidade no poder.
Este é simplesmente um caso para dizer: Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.