FAMÍLIAS DORMEM AO RELENTO PARA GARANTIR VAGAS EM ESCOLAS PÚBLICAS

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Devido ao número reduzido de vagas disponibilizadas pelas escolas estatais do ensino primário e secundário, em Luanda, várias famílias são obrigadas a dormir ao relento, afim de garantir vagas para seus parentes.

Maiomona Paxe

A caótica situação foi registada na escola pública Ana Paula – 8040, sito no distrito urbano da Sapú, município do Kilamba Kiaxi, onde na luta por uma vaga, várias famílias decidiram pernoitar defronte ao portão da instituição. Sem nenhuma proteção, com risco eminente e sobre um clima frio, alguns com cobertas e outros com panos estendidos ao chão, convivem até ao amanhecer, afim de serem os primeiros a ser atendidos, sob pena de suportar enchente e ver ameaçada a possibilidade de garantir a almejada vaga.

Há poucas semanas para o arranque do ano lectivo 2023-2024, previsto para o mês de Setembro, uma fonte interna fez saber que a referida instituição tem apenas cerca de cento e trinta (130) vagas, um número bastante ínfimo, se comparado a densidade populacional daquela zona.

O sacrifício de dormir ao relento, uma acção recorrente em Luanda devido ao péssimo serviço prestado pelas instituições públicas, tem que ver com a necessidade e vontade das famílias inserir seus educandos no sistema de ensino, numa altura em que se especula a subida do preço das propinas em escolas privadas, na escala de 10 a 20 por cento, em todo território nacional.

As famílias justificam a acção com a falta de condições financeiras em arcar com custos elevados dos colégios. Daí a decisão de deixar o conforto de casa para suportar o frio, sem devido agasalho. “Não há dinheiro para os matricular em um colégio”, disse Antonete Nfumuassuka.

Segundo os intervenientes, conseguir uma vaga em instituições de ensino público é uma tarefa difícil, que algumas vezes, obriga os interessados a situações humilhantes. Os mesmos denunciam existir um negócio por de trás disso, onde paira o nepotismo e o tráfico de influência.

Os funcionários desta instituição, são acusados pelos encarregados de comercializar vagas por uma quantia de pelo menos oitenta mil kwanzas (80.000kz). “Na falta de valores monetários, algumas encarregadas com corpos considerados atraentes, são persuadidas a se relacionarem com professores e outros funcionários”, denunciou Adelina Kizanda. A interlocutora fez saber também que, esta prática tem sido recorrente e revela estar agastada com a situação.

Especula-se que, nas cerca de cento e trinta (130) vagas disponibilizadas por esta instituição, pelo menos noventa (90) já foram preenchidas, antes mesmo de serem anunciadas ao público. Uma acção bastante contestada pelos encarregados de educação. “Se não tens família dentro da escola, teus filhos não estudam”, frisou um encarregado que se mostra frustrado pela segunda tentativa de matricular o filho de 8 anos.

No entanto, as famílias esperam maior fiscalização e transparência no acto das matrículas e, apelam a construção de mais escolas estatais com vista a atender as necessidades das populações, uma vez que no país existe mais instituições privadas do que públicas.

Por sua vez, este jornal tentou contactar o director da instituição, mas sem sucesso. Porém, uma fonte interna fez saber que, a escola está atenta a todas movimentações no acto das inscrições e matrículas e desencoraja as famílias a pernoitar defronte àinstituição, pese embora reconheça as dificuldades que as mesmas passam na fase de matrículas.

Relembrar que consta dos planos do executivo para o sector da educação, inserir um maior número de crianças no sistema de ensino e o número reduzido de vagas disponibilizadas pelas instituições públicas, tem contrariado de facto as alegações da Ministra da educação, Luísa Grilo.

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