Máquina mortífera da PNA: ENLUTA MAIS UMA FAMÍLIA EM LUANDA

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Somam e seguem as vítimas da carnificina policial, pois mais um nome é adicionado à estatísticas de um conjunto de pessoas mortas sem representar perigo. A mais nova vítima dos agentes da ordem foi perseguida, em meio a tiroteio, juntamente com um amigo, da Vila de Cacuaco até ao bairro Cassenda.

Por: João Cabeto

No dia 5 do mês em curso, Manuela Garcia, também conhecido por Ney, 19 anos, acompanhado de mais dois amigos, um dos quais apenas identificado por ‘Djodjo’, de 32 anos, motorista da viatura em que se faziam transportar, agora em parte incerta, e outro ainda não identificado, haviam saído da Centralidade do Sequele, onde residem e estavam a conviver, pouco depois das 22 horas, para outro lugar e continuar o convívio, pois, o dono do estabelecimento em que se encontravam tinha decidido fechar as portas, em obediência às regras impostas por lei, que limitam o horário de funcionamento e impõe recolher obrigatório, a partir das 22 horas até às 5 horas da manhã, para conter a propagação da Covid-19.

Os três amigos decidiram, então, ir à Vila de Cacuaco, pois, segundo ‘Djodjo’, os bares e explanadas naquela zona fecham um pouco mais tarde, e, para além disso, havia a garantia de terem companhia feminina. Ali, soube O Crime, os jovens permaneceram até por volta das 3 horas de madrugada, quando Manuel Garcia ‘Ney’, o malogrado, comunicou a ‘Djodjo’ que estava embriagado e cansado, e pretendia voltar para casa para repousar.

A ideia, à partida, foi bem acolhida pelos amigos, que também apresentavam um certo desgaste físico, tendo se decidido regressar ao domicílio. Já a caminho, ‘Djodjo’, o motorista terá feito uma outra paragem, a fim de comprar “cabrité”, pois, dizia, estava com fome, o que os levou a girarem um pouco por toda a Vila de Cacuaco, até encontrar uma barraca onde um cidadão congolês comercializava o requerido alimento.

Foi precisamente neste momento que surgiu o inesperado. É que, enquanto o amigo não identificado e que seguia no banco do pendura desceu para comprar o “cabrité”, ‘Ney’, o malogrado, e ‘Djodjo’, o motorista, que se encontravam no interior da viatura, foram abordados por agentes da Polícia Nacional que patrulhavam a zona. O que os agentes terão dito aos jovens é ainda desconhecido, certo é que o jovem que seguia ao volante acelerou a viatura e colocou-se em fuga.

Testemunhas contaram à nossa equipa de reportagem que os agentes da Ordem, também transportados por uma viatura patrulha da PN, iniciaram uma perseguição aos dois e, concomitantemente, abriram fogo contra a viatura dos mesmos. A perseguição, segundo explicaram as testemunhas, partiu das imediações da Vila de Cacuaco e só terminou nos arredores do bairro Cassenda.

As estriadas de tiros que os agentes foram efectuando durante a perseguição atingiram a cabeça de Manuel Garcia ‘Ney’, que seguia na parte traseira do veículo, e conheceu a morte de imediato. Entretanto, apesar disso, o amigo não parou a viatura, aliás, acelerava ainda mais a cada batida dos agentes. Depois de ter despistado a patrulha policial, no bairro Cassenda, reparou que o amigo que se encontrava na parte traseira do veículo já não se encontrava em vida.

Desta feita, contaram testemunhas, ‘Djodjo’ imobilizou a viatura, desceu e colocou-se em fuga sem prestar qualquer socorro ao amigo. O cadáver do jovem, disseram, apenas foi descoberto pelos moradores por volta das 14 horas que, de imediato, comunicaram às autoridades.

Edilson Garcia, irmão de Ney, em entrevista a este jornal, disse não entender as razões de os agentes terem aberto fogo contra os dois jovens, quando estes não respondiam na mesma proporção. Apesar de reconhecer irresponsabilidades por parte da daquelas, explicou que a Polícia, enquanto órgão castrense, tinha outros meios adicionais para contrapor os intentos dos jovens sem precisar disparar. “Uma polícia bem preparada teria perseguido, alcançar a viatura e imobilizar os utentes, sem precisar fazer vítimas, excepto se estes revidassem”, asseverou.

Contudo, reconheceu que, para o momento, nada mais se pode fazer, senão exigir que se faça justiça. Por outro lado, explicou que até ao momento não se sabe o paradeiro dos dois amigos com quem o seu irmão estava naquela noite.

Já Glória Garcia, irmã de Ney, ainda incrédula sobre a partida do irmão, mais a mais pela forma como este foi morto, declara que “só me restaram lembranças, essa ferida nunca será cicatrizada, justiça nenhuma trará o meu irmão de volta, senão a divina”.

Por seu turno, Raquel José Romeu, vizinha e amiga de longa data do malogrado, começou por ressaltar as qualidades do finado, lembrando que “Ney sempre foi uma pessoa de fácil trato e amigo a quem podia contar e confiar”.

O Crime sabe que o agente que disparou contra Manuel Garcia ‘Ney’, já foi identificado e encontra-se sob custódia, na Divisão de Polícia de Cacuaco. Ademais, foi instaurado um inquérito, acoberto do processo-crime, cujo número não nos foi revelado. Todavia, mais informações sobre este caso o leitor poderá saber nas próximas edições.

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