MARGINAIS DA ROBALDINA DITAM RECOLHER OBRIGATÓRIO A MORADORES

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Os moradores do bairro Robaldina, em Viana, falaram ao “O crime”, no dia 14 deste mês, sobre a situação da criminalidade que os tem perturbado, por conta dos assaltos à mão armada e a limitação no horário de circulação para evitar que o pior aconteça.

Jaime Tabo

Resultante dos assaltos desmedidos, relatos de mortes de pessoas soa facilmente aos ouvidos de quem frequenta aquele bairro da província de Luanda. No ano transacto, por exemplo, “um motoqueiro foi perseguido por marginais e, à frente de um portão, foi baleado mortalmente”.

O caso mais recente por nós registado foi a 25 de Novembro, quando um motoqueiro transportava um jovem, porém, numa zona pouco movimentada, forçou a paragem, alegando ser agente da Ordem Pública e solicitou a identificação do meio e do condutor, mas este mostrou resistência, sendo que, ao fugir sem o seu veículo, dois disparos foram feitos pelo suposto passageiro.

Ângelo Abílio, 25 anos de idade, que nos fez saber as histórias acima, é motoqueiro, há cinco anos na zona, e conta que, a partir das 17 horas, o melhor tem sido dar por encerrada a actividade laboral, devido à criminalidade que perturba a área, pois, há largos anos, cenas de crimes são as mais contadas e ouvidas pelos munícipes.

Das 18 às 06 horas, os riscos são de assaltos a motoqueiros e às pessoas que regressam ou vão aos serviços. “Nesse período, não se aconselha circular na zona. Só para citar um caso, no dia 13 de Dezembro, uma senhora foi assaltada na minha presença, eu não podia parar, porque seria mais uma vítima”, contou José Gaspar, outro morador.

Segundo ele, a Polícia não aparece quando deve intervir em algum caso e, espantosamente, os assaltos a residências quase não existem, isto porque muitos moradores são os próprios meliantes. “Hoje, os grupos mais temidos que realizam assaltos e lutas entre si são “Os Mete Bomba”, “Os Mete Água”, “Os Tira Tudo”, informou.

Francisco Jesus, coordenador da Comissão dos Moradores do Sector B, afirma que nos últimos meses tem reinado alguma paz na circunscrição, por conta do aprisionamento dos marginais que tiravam o sossego dos populares. Mas alerta que “alguns viveiros estão a crescer”, referindo-se a alguns adolescentes que começam a dedicar-se ao crime.

“Há poucos dias, houve uma senhora que foi assaltada por volta das 5 horas da manhã e os presumíveis autores são adolescentes entre os 12 e 14 anos”, disse, concluindo que “isso preocupa o bairro”.

Leandro Pascoal, morador e formado em Direito, entende que o exercício da arte marcial, judo, é uma das causas que contribui para que muitos jovens ingressem ao mundo da marginalidade, pois há muitas academias ilegais com “mestres” que nem atingiram a faixa preta.

“Além desta arte que tem sido usada negativamente, há quem entrou no mundo da delinquência depois de iniciar o consumo de drogas e tornar-se dependente. Assim, sem condições para sustentar o vício, acabam roubando das pessoas”, esclareceu.

Conforme explica, as zonas de maior concentração de marginais são o Buraco, as Cinco Curvas e as Travessas do Grafanil, onde se encontram os grupos de marginais mais perigosos da circunscrição, tudo porque, depois de treinarem, sentem-se avantajados e fazem frente a todos.

Os homicídios, diz, ocorrem mais na zona do Buraco e nas Cinco Curvas, onde grupos rivais em rixas acabam pondo fim à vida de muitos, pelo menos, uma vez ao mês. “As ofensas corporais chegam a ser um tipo de crime diário na zona, todos os dias há lutas”.

Por essa razão, na maioria das vezes em que há festas, ouve-se sempre a falar em feridos e/ou mortes. “Ser criminoso aqui é um acto de honra para eles, acham-se famosos”, falou preocupado.

“Os moradores sentem-se inibidos de circularem livremente, porque acima das 19 horas não se pode andar e essa limitação é por medo de se encontrar com um menino em posse de uma faca que ameaça e recebe os pertences”, asseverou.

Mambongi é outra zona melindrosa, onde até os efectivos encontram alguma dificuldade de penetração, pois, provavelmente por conta do número elevado de bares, há muitos casos de desacato às autoridades. “Os agentes da Ordem não conseguem impor-se ao fluxo de pessoas que, às sextas-feiras, em claro desrespeito as medidas determinadas pelas autoridades sanitárias, aglomeram-se acima do recomendado”.

“Na sexta-feira última, as pessoas estavam na rua tarde da noite e já era o momento do recolher obrigatório. Os patrulheiros estacionaram a viatura à frente de um bar, os populares, revoltados, gritavam para que fossem embora dali. Imediatamente, descem dois agentes e a um foi arremessada uma garrafa. Outra jovem subiu ao carro da Polícia para largar uma bofetada a um polícia”, conta Leandro.

O campo da Mambongi foi tornado o maior centro de consumo de drogas em toda Robaldina. Concentram-se ali pessoas provenientes do Buraco, das Cinco Curvas bem como da Telha e o consumo é feito publicamente, informa o potencial jurista, que, em simultâneo, lamenta o número de jovens a morrerem na delinquência e no consumo de excessivo de álcool.

Por outro lado, aponta-se a falta de estruturas sociais, como escolas, bibliotecas e campos de futebol, tem sido a principal causa que leva muitos jovens aos itinerários das drogas e, consequentemente, da delinquência, posto que o bairro quase não tem escolas públicas, pelo que maior parte das pessoas param de estudar na 7.ª classe.

“São três ou quatro as escolas que existem aqui, a maior parte são colégios”, afirmou Leandro Pascoal, sublinhando que, com a população, maioritariamente, pobre, que sobrevive de pequenos negócios, os encarregados não têm condições financeiras para pagar colégios. Daí que, com poucas opções, maior parte da juventude parte para a delinquência.

A inexistência de programas sociais para a ocupação dos jovens é outro factor que Leandro acha que influencia os jovens. “Quando não se consegue manter um jovem ocupado por, pelo menos, 12 horas do seu tempo diário com coisas positivas, está a se criar um potencial delinquente.”.

Sobre se a actuação policial sobre o crime satisfaz, o estudante respondeu, sem meias medidas “não, a actuação sobre o crime é muito débil, pois quando se faz a participação de alguma ocorrência, a resposta é que o carro da Polícia não tem combustível ou que estão a falta de efectivos”..

Para explicar juridicamente a razão de meliantes serem soltos pouco tempo depois da sua detenção, Leandro esclarece que “sem a certeza ou fortes suspeitas de que alguém cometeu determinado crime, não se pode manter preventivamente preso”.

“Os instrutores processuais recebem processos na sexta-feira, por exemplo, e não colocam sobre a mesa do procurador, para legalizá-lo, ficando semanas sem dar os passos seguintes. Enquanto isso, um presumível inocente está detido. Quando o procurador apercebe-se que há processos de pessoas inocentes, acaba por fazer um despacho que pode arquivar o processo”, disse.

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