MILITAR ACUSADO DE BALEAR CIDADÃO POR SE RECUSAR A DAR-LHE DOIS MIL KWANZAS

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Vanildo Sebastião Futa, de 21 anos, foi alvejado, mortalmente, por um elemento das Forças Armadas Angolanas (FAA), afecto à Unidade de Guarda Presidencial (UGP), que se encontrava destacado na unidade policial do Zango 3, conhecida por Esquadra do Capapinha, de onde patrulham para assegurar o cumprimento das medidas de biossegurança, impostas por Decreto Presidencial, no âmbito do combate à Covid-19.

Por: Engrácia Francisco

Informações prestadas ao ‘O Crime’ pelo porta-voz da corporação, Nestor Goubel, dão conta de que o militar já se encontra sob custódia.

Numa altura que o país e o mundo são assolados pala pandemia da Covid-19, o que obrigou a que algumas medidas de biossegurança fossem adoptadas para conter a propagação do vírus em larga escala, as forças de defesa e segurança são chamadas a intervirem, quando as circunstâncias assim o obrigam. Mas, infelizmente, como se tem estado a observar um pouco por todo o pais, não raras vezes os agentes da ordem incorrem em actos de excesso de zelo ou, em outros casos, têm sido eles mesmos os prevaricadores.

Foi o que aconteceu no passado dia 22, sábado, do mês recentemente findo, em que mais um cidadão morreu às mãos de um agente da ordem, num caso que poderia ter um final diferente. Ora, naquele sábado, por volta das 22 horas, Vado, como também era tratado a vítima, que encontrava-se a conviver com familiares e amigos, na sua residência, no Zango 3, saiu, em companhia de um amigo, identificado por Lucas Ribeiro Gamboa, para comprar alguma coisa numa cantina próxima à sua casa.

Postos na rua, segundo descreveram os seus familiares, Lucas apercebeu-se de que se tinha esquecido da máscara facial, enquanto Vado, o malogrado, usava a sua. Ainda assim, decidiram seguir viagem até à cantina e, no regresso, os jovens foram abordados por um grupo de efectivos de defesa e segurança, composto por dois agentes da Polícia Nacional e um das Forças Armadas Angolanas.

No momento, disse Lucas Gamboa, os agentes ordenaram-no a parar, enquanto o Vado, a vítima, continuou andando, até parar junto a uma outra cantina. De seguida, contou, depois de o abordar, o militar pediu-lhe dois mil kwanzas para o deixar seguir. “Eu disse-lhe que não tinha no momento”, afirmou o jovem, acrescentando que o militar se predispôs a acompanhá-los até à casa onde estavam a conviver, a fim de que eles o entregassem o dinheiro.

Entretanto, sublinhou, surpreendentemente, depois de conseguir os valores e entregar ao suposto militar, disse Lucas, aquele foi ter com os outros colegas, que abordavam outros jovens, dizendo-lhes que não recebera mais os dois mil kwanzas que solicitara.

Enquanto isso, antes de o militar regressar, o malogrado tinha ido ao seu encontro, tendo ele (Lucas) dito ao amigo que “esses militares estão a me complicar, vou correr”, pelo que o amigo, no caso a vítima, concordou com ele e o motivou a fazê-lo. “Então eu decidi fugir e corri a toda velocidade”, contou, adiantando que, enquanto isso, ouviu um disparo, ao que pensou que foi contra si, mas, ainda assim, não parou de correr, até entrar em sua casa.

Já no interior da residência, ficou completamente em choque com a situação, mas em nenhum momento pensou que aquele tiro tinha vitimado o amigo. Aliás, disse, apenas ficou a saber do que havia acontecido, quando os familiares da vítima, depois de ouvirem os disparos, saírem para aferir o que havia acontecido.

Em entrevista a este jornal, Lucas Gamboa acusou também o referido militar de ter estado a consumir bebidas alcoólicas antes de o abordar. Além disso, o jovem sustentou a sua afirmação com o facto de, no momento da abordagem, os agentes saíam de um estabelecimento comercial nas proximidades, onde se comercializa bebidas alcoólicas e que o mesmo exalava à bebida alcoólica. Entretanto, esta versão foi prontamente desmentida pelo proprietário do referido estabelecimento comercial, também ouvido por este jornal.

Por seu turno, Maria Futa, irmã mais velha do malogrado, aos prantos, lamentou a perda prematura do irmão, o mais novo de quatro irmãos, e clamou por justiça. Por outro lado, a família lamentou o facto de os referidos agentes não terem prestado assistência à vítima, enquanto caído e moribundo, clamando por socorro.

Durante o óbito, reclama a família enlutada, nem sequer as forças da ordem se fizeram presente para solidarizarem-se com eles e prestar culto ao defunto. Aliás, até as rondas na zona pararam em virtude disto.

Segundo os familiares, o caso foi já entregue à PGR, que abriu o competente procedimento criminal, com n.º º15063/020 ZN, que a família teve acesso alguns dias depois.

Por outro lado, a família queixou-se do facto de a corporação ter afirmado que o jovem não usava máscara facial, por altura da sua abordagem, quando, na verdade, é ao contrário. “Ouvimos, na televisão, que ele morreu porque estava sem máscara, isso não corresponde à verdade, porque ele morreu com a sua máscara no rosto”, explicou Neto, amigo do malogrado.

Contactado o porta-voz do MNINT, comissário Waldemar José, confirmou a prisão do efectivo das Forças Armadas Angolanas, acusado do assassinato do jovem, e garantiu que o processo segue a tramitação normal. Entretanto, sublinhou, contrariamente do que afirma a família, a PN prestou toda assistência necessária.

De realçar que o acusado é efectivo da Unidade Guarda Presidencial (UGP), recentemente destacado na Esquadra do “Capapinha”, Zango 3, para reforçar o quadro orgânico da corporação e contribuir no combate à criminalidade.

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