No mundo da música gospel: “TAMBÉM HÁ FALSIDADE E INVEJA, MAS O IMPORTANTE É MANTER O FOCO”
Para a edição de hoje, trazemos a história do autor do hit “me dá só Samuel”, Nsimba Reoboth, nativo de Luanda, mexido pela música desde a tenra idade, encontrou no estilo gospel a melhor forma de viver.
Por: Honorina Kiampava
Enquanto criança, lembra o nosso entrevistado, acordava às 4 horas da manhã já a cantar, o que fazia com que todos de casa acordassem também. Foi assim que, com o apoio da família, decidiu fazer música gospel. “Os meus pais são crentes, então não tinha como eu fugir desse padrão”.
“Tinha tudo para cantar outros ritmos, principalmente na minha época, em que o Kuduro tocava muito. Os meus amigos tentaram colocar-me nesta vibe, mas como aquela não era a minha praia, saí de imediato”, esclarece-nos.
Dentre as várias debilidades que enfrentou nessa estrada, que já leva 18 anos, encontrar uma boa produtora que aceitasse apostar nele, foi uma delas, pois, ninguém se mostrava disponível. “Depois de muito tempo, consegui encontrar uma produtora, onde estou até hoje e o meu sucesso é fruto do meu árduo trabalho”.
O dono do hit “me dá só Samuel” revela que não esperava que a música tivesse o impacto que teve. “Foi uma alegria imensa poder ouvir as pessoas a cantarem bem as minhas músicas! Para seres um bom guerreiro, tens que ir para a batalha”.
Cantar como se estivesse a chorar foi um estilo muito diferente que ele trouxe ao mercado e que, para a sua felicidade, trouxe maior público, pois as pessoas foram imitando e o estilo, assim, permaneceu, criando, deste modo, grande repercussão na música gospel. “Claro que ninguém vai gostar de alguém que vem com uma nova vibe, um novo ritmo, mas eu sou de Deus, e não temo ninguém”.
Cristão de gema, Nsimba não cessava, durante a entrevista, de exemplificar o seu trajecto com recurso a narrativas bíblicas, tais como a de Davi e Elias, o que o leva a concluir que “Deus preparou-me muito, para que hoje eu fosse este homem que inspira muita gente, sou reconhecido nacional e internacionalmente”.
O músico afirma que não há um estrato social específico que consome o seu trabalho, está disponível a todos que quiserem e se identifiquem com cada letra, evidentemente, Deus é a sua maior fonte de inspiração. “Ouvi testemunhos de pessoas que não eram convertidas, mas, ouvindo as minhas músicas, conseguiram voltar para o Senhor e, quando vejo coisas do género a acontecerem, fico muito feliz”.
Nsimba Reoboth revelou-nos que, como em qualquer outro sítio, no mercado da música gospel, também há muita falsidade e inveja, destacando que o foco tem de permanecer em primeiro plano. “O silêncio e a sabedoria farão diferença no meio de todos os que te querem mal”, reforça.
Nesta senda, para ele, não há melhor artista gospel em Angola, antes sim, bons cantores. “Há pessoas com grandes vozes e um dom inexplicável, porém, estão no anonimato, logo, dizer que há um cantor melhor que o outro, seria um pouco injusto”, justificou.
“As palavras maldosas não podem afectar o meu trabalho”
Se não fosse músico e compositor, Nsimba Reoboth diz que seria médico, embora se considere “médico espiritual” e mentor de jovens, por intermédio das experiências que passou ao longo da sua vida.
Sem ter feito nenhuma formação na vertente musical, o artista afirma que tudo é dom divino, todavia, ouviu várias vozes, como de Fally Ipupa e Leonardo Gonçalves, sendo que na sua lista de apreciação estão Miguel Buila, Irmã Sofia, pastor Moise Mbiye. No entanto, se tivesse a oportunidade de partilhar o palco com alguém que admira, seriam os cantores Anderson Freire, brasileiro, e Benjamim Duck, sul-africano.
Ele, que é de opinião que a música gospel ainda não conquistou um lugar de destaque, conta-nos a sua vivência durante o tempo de pandemia. “O artista tem de saber safar-se em qualquer circunstância que vai surgir na sua vida. Graças a Deus, tenho vivido muito bem, não chorei nesta época de pandemia, apesar de ainda não ter shows, estou a conseguir sobreviver”.
“Comprei coisas que eu havia planeado para este ano, como casa e carro. Consegui concluir o meu segundo CD, com trinta faixas musicais, e estou, de momento, a gravar vídeos para cada música, que vai sair em breve, entretanto, ainda sem uma data específica”, finalizou, dizendo que “o nosso salário não depende da população, mas sim de Deus”.
Sobre os comentários negativos, a respeito do seu trabalho e da sua vida privada, apenas se defende com a frase: <O silêncio é a arma dos grandes>, pois procura sempre respeitar a opinião singular, independentemente de ser positiva ou não, uma vez que afirma que “as palavras maldosas não podem afectar o meu trabalho”.
O músico procura sempre encarar a fama como algo normal, para não se tornar orgulhoso nem egoísta, pois, no seu entender, um ministro de louvor não pode levar a fama nos ombros, de outro modo, perde a humildade. “Não sou famoso nem estrela, todavia, sou o trono. Ser reconhecido é algo normal, recebo qualquer pessoa que queira saudar-me, inclusive já abracei um maluco numa das minhas actividades, se eu me sentisse famoso, não faria isso de forma alguma”.
Fora dos holofotes, Nsimba Reoboth é um jovem cómico, alegre, gosta de brincar e considera-se de fácil convivência. É noivo, embora tenha escapado ao casamento neste ano devido à pandemia, porém, fez a promessa: “Ano que vem, sem falta, o casamento vai sair”.
Integra o seu plano para o futuro, a abertura de uma universidade, para ajudar todos aqueles que não conseguem cantar, aprender, formar-se, e ter um lugar na sociedade.