Correndo o risco de perderem a vida e contrairem doenças, são várias as crianças que realizam pesca e banham no rio Cambamba, sob olhar de adultos que circulam no local e residem nos arredores.
Leal Mundunde
Provenientes dos bairros Catinton, Payol e dos Rasta, as crianças com faixa etária dos 10 aos 16 anos de idade, frequentam diariamente o local, que divide o município do Kilamba Kiaxi e o distrito da Maianga, em Luanda.
O caudal deste rio, aumenta sobretudo na época chuvosa, o que eleva o perigo não só para as crianças, como também para os adultos.
A água é turva, cheia de lodo no seu interior, com lixo a volta e ladeado de capim alto em certos pontos, que chega muitas vezes a impedir a visibilidade de quem passa naquele perímetro.
Os mais novos, que se dirigem ao local, geralmente em grupo, correm o risco de serem arrastados pelas águas, como aconteceu em épocas anteriores.
Para além de adultos que perderam a vida neste rio, há relatos de crianças que seguiram o mesmo destino.
Joana Margarida, que reprova atitude dos petizes e desatenção dos pais, tem o conhecimento de cinco petizes que deixaram o mundo dos vivos,no também conhecido por rio Catinton.
A cidadã recorda que o ano passado, um lavador de viaturas, por um pouco perdia a vida, ao tentar salvar uma criança.
“Se botijas, viaturas e outros artigos são arrastados pelas águas do rio, principalmente quando chove, imagine uma criança?”questiona Francisco João, que apela maior atenção por parte dos pais e obediência dos filhos.
Ao Jornal O Crime, seis crianças confessaram, que começaram a frequentar o local por influência dos amigos, que os convidaram inicialmente para capturarem peixes vivos, para colocarem nos aquários improvisados de bidãos feitos em casa.
Daí a prática prosseguiu até que iniciaram a banhar, uma realidade considerada antiga, pois, chegam informações de cidadãos, hoje pais de famílias, que no longínquo ano de 2002, banhavam e pescavam no local.
Os rapazes,dizem que alguns progenitores têm conhecimento e outros alegam que o fazem de forma discreta para que não sofram represália.
Um dos rapazes, explicou que tem dito aos pais, que os peixes são oferecidos pelos amigos ou os compra no valor de 50 ou 100 kwanzas.
De acordo relatos, neste rio, saem bagres que alimentam algumas famílias, pois, há distintos adultos que realizam pesca periodicamente e a prática tem dado curiosidade as crianças.
Um dado que chamou a nossa atenção, para além dos mais novos correrem o risco de perderem a vida, podem de igual modo contrair doenças diversas, pois, há indivíduos que deitam lixo hospitalar nos arredores e no seu interior.
Outrossim, o perímetro é rodeado de casas abandonadas, com concentração de vários jovens no seu interior, muitos a ingerirem drogas ou bebidas alcoólicas, o que aumenta o perigo dos mais novos de serem assaltados ou sofrerem outras consequências.
Um dos rapazes, afirmou que não tem medo, pois, está acostumado, uma vez que frequenta o local há anos com os amigos e nunca os aconteceu nada de preocupante.
Questionados se os adultos que circulam nestas imediações, os chamam atenção, responderam que não.
De igual modo, dizem que jamais foram interpelados pelos efectivos da Polícia que rondam ao arredor, a pesar de serem vistos sempre que circularam naquela zona.
Enquanto desenvolviamos o nosso trabalho, observamos distintas crianças que de forma descontraída entravam na água, lavavam a roupa, pescavam e outros, assistiam o cenário.
O rio Cambamba, possui uma bacia hidrográfica de 250 km2 e um caudal de 700 m3/s, num troço de 12 quilómetros que atravessa vários pontos da cidade de Luanda, até ao oceano Atlântico.