Por míseros 100 kwanzas: AGENTE DA PNA DISPARA CONTRA O ROSTO DE UM MOTOTAXISTA

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O tiro efectuado por António Augusto Rafael, agente de 1.ª classe da Polícia Nacional, afecto à 44.ª Esquadra, no distrito da Estalagem, perfurou as bochechas da vítima, tendo-lhe causado graves ferimentos na língua e nos maxilares.

Por: Costa Kilunda

João Fernando, o mototaxista de 28 anos, encontra-se, agora, a recuperar em casa, depois de ficar internado por mais de duas semanas no Hospital Américo Boavida, em função dos estragos causados na sua boca, pelo projéctil que o atingiu.

A razão do incidente, segundo fez saber a vítima, deveu-se ao facto de ter recusado a dar 100 kwanzas, exigidos pelo referido agente, como uma espécie de “propina”, por quem ali trabalha.

“Pediu-me 100 kwanzas e respondi que não tinha. Então, decidi ir-me embora, pois ele insistia que o entregasse. Tão logo liguei a motorizada, ele disparou contra mim e deixou-me ferido no local, sem oferecer-me qualquer tipo de ajuda”, explicou a vítima, acrescentando que foram os colegas que o levaram para o hospital.

Hoje, obrigado a conviver com a língua remendada em vários pedaços, bem como os maxilares e os dentes partidos, João Fernando está impedido de seguir com a sua actividade e com a agravante de nada ter para enviar à família que deixou na província do Huambo.

Para esse jovem mototaxista, agora a abraços com a penúria, se são, as dificuldades eram “mil”, o seu estado actual veio agudizar as coisas. Tem dificuldades em falar, sobretudo, em mastigar os alimentos, ao que está, agora, condenado a ingerir apenas líquidos.

É tanto o sofrimento, que João chega a considerar a possibilidade de colocar termo a sua vida. “Todos os dias penso em pôr fim à minha vida”, afirma, enquanto mostra ao repórter os estragos causados a si, pelo agente da Polícia.

O jovem confidenciou à nossa equipa de reportagem que todos os fins-de-semana enviava dinheiro para a mulher e os seus quatro filhos, no Planalto Central, todavia, desde que esta tragédia aconteceu, deixou de o fazer. Porém, sublinhou que, até ao dia desta entrevista, 6 de Outubro, o agente em causa já fez chegar aos familiares um total de AKZ 67.000.00 (sessenta e sete mil kwanzas), dados em duas prestações, com o propósito de cobrir o tratamento, tendo, ainda, se comprometido a entregar mais 25.000,00 (vinte e cinco mil kwanzas), mensalmente, para cobrir o tratamento.

“Esse dinheiro não serve para todas as despesas e, tão pouco, consigo enviar alguma coisa para a minha família no Huambo”, contou, alegando que, de minuto a minuto, se tem questionado sobre a forma como a mulher e os filhos têm conseguido sobreviver sem dinheiro. “Está duro, meu irmão. Não sei como eles vão virar-se”, desabafou para o jornalista.

Familiares exigem indeminização junto da PGR

Adelino Oseias Chinendele, o pai do lesado, em entrevista à nossa reportagem, fez saber que o caso está a ser resolvido na PGR junto à 44.ª Esquadra, na Estalagem, onde o aludido agente funciona. “Desde o primeiro dia, depois que nos reunimos com o camarada Celso, segundo comandante da Esquadra, o agente tem prestado o necessário apoio ao lesado”, assegurou.

Por esta altura, revelou o senhor, falta-lhe ainda realizar alguns exames médicos, como são os casos de tomografia computadorizada de maxilar, que tem como enfoque o osso maxilar e as arcadas dentárias do paciente — e a de ressonância magnética, para o estudo da articulação da mandíbula, que possibilita a visualização do disco articular e tecidos moles circunjacentes.

“Talvez seja necessário levar placa”, opinou, acrescentando que os dentes têm caído por si só, e que tal situação o tem incomodado bastante. Por isso, prosseguiu, o filho tem aventado, em algumas ocasiões, pôr fim à vida.

Asseverou, igualmente, que a família já se reuniu com a PGR, mas no primeiro encontro entre as partes, nada ficou decidido. Entretanto, disse, estão a aguardar pela recuperação do jovem, para voltarem a contactar aquela instituição. “Voltaremos a contactar a PGR para finalizarmos este processo, porque, como sabemos, o agente em causa deve, a título de indeminização, entregar uma quantia em dinheiro à vítima”, referiu, dizendo de seguida que não podem ainda adiantar o valor, mas que tudo será definido junto da PGR.

Por outro lado, revelou que há algumas vozes críticas, em relação ao facto de terem contactado a imprensa, porém, garantiu que, “se não fosse o grito de socorro feito à imprensa, seria difícil suprir as despesas e as necessidades do jovem”, notou.

Por fim, explicou que, a nível interno da unidade policial, nenhum processo foi instaurado contra o referido agente, sendo que foram aconselhados a resolver o assunto “amigavelmente”.

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