Prostituição no Santa Paciência: MULHERES DÃO O CORPO EM TROCA DE COMIDA

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Várias adolescentes e adultas, no Santa Paciência, arredores do Zango 4, município de Viana, em Luanda, estão a prostituir-se em troca de míseros cem kwanzas, ou até mesmo um prato de comida, para travar “os bombardeamentos da fome” que paira naquela circunscrição.

Maiomona Paxe 

A extrema pobreza porque passam os habitantes daquela parcela da cidade capital, afecto ao município de Viana, tem levado várias mulheres a cederem os seus corpos por um prato de comida ou, como em muitos casos, por míseros cem kwanzas.

Classificada como uma zona paupérrima, com casebres mal construídos, na sua maioria de alvenaria não rebocadas, e sem as mínimas condições de habitabilidade mínimas, desprovida de qualquer infra-estrutura do Estado, ou do sector privado, o Santa Paciência, tal como o nome identifica, exige, de quem aí encontrou domicílio, imensa resignação. Só que, à fome, à penitência, é impossível exigir paciência, daí que adolescentes e também adultas optarem à mais antiga profissão para sustes “os bombardeamentos da fome”.

Classificada como uma zona paupérrima, com casebres mal construídos, na sua maioria de alvenaria não rebocadas, e sem as mínimas condições de habitabilidade mínimas, desprovida de qualquer infra-estrutura do Estado, ou do sector privado, o Santa Paciência, tal como o nome identifica, exige, de quem aí encontrou domicílio, imensa resignação.

Os habitantes desta zona, considerados “vizinhos indesejados” da centralidade do Zango 8000, de onde, não raras vezes, muitos petizes, às vezes adultos, com sacolas às mãos, acorrem mendigando por qualquer coisa para levarem às suas casas, queixando-se da falta de atenção por parte da administração local do Estado que, segundo eles, preferem realizar campanhas de recolha de donativos para as demais províncias, por exemplo, preterindo estes que estão bem às suas barbas.

Das esmolas que recebem dos moradores daquela centralidade, a sua maioria tem um preço: trabalhos forçados, como garantir a limpeza dos edifícios ou capinar o matagal ao redor deles, exposto a altas temperaturas como a que se observa naquela circunscrição, até a saciar os desejos sexuais de alguns pervertidos. 

Homens e mulheres, desempregados, vêem-se obrigados a fazer de tudo para que não falte, ao menos, o pão à mesa, que se quer têm nas suas pequenas e degradadas casotas, ainda que para isso implique a prostituição ou incentivar as filhas adolescentes a servirem de concubinas para os seus senhores. A troco de alguns centavos, no Santa Paciência há tudo para ocasião.

Segundo contam alguns moradores com os quais o jornal O Crime chegou à fala, várias senhoras, por conta também do vício por bebidas alcoólicas, quando no jogo da “batota” não rendem, rendem no sexo, chegando a cobrar por 30 minutos de prazer, apenas 100 kwanzas. “Chegam, até, a envolver-se com jovens mais novos que elas em troca de cem kwanzas”, disse Frederico Mundombe, morador do bairro. 

De acordo com o que pudemos apurar no local, por altura da presente reportagem, várias adolescentes são instruídas e incentivadas pelos progenitores a deslocarem-se até às paragens do Zango 3 ou na Centralidade do Zango 8000 a fim de seduzirem homens em troca de dinheiro, uma vez que muitas delas não frequentam uma escola. 

Os mototaxistas, muito frequentes na zona, são tidos como os principais clientes, estes que, de tão ambiciosa que é a oferta, convencem as adolescentes, ou mesmo adultas, a praticarem orgias a troco de pelo menos quinhentos kwanzas. Como contou, por exemplo, a adolescente Márcia Manuel (nome fictício), de 17 anos, que detalhou ao repórter, sem a menor das preocupações, uma de algumas aventuras que já viveu desde que se lançou na “caça ao pão”.

Com um sorriso nos lábios, despreocupada com o resto, revelou que se deitou com três motoqueiros (mototaxistas) em troca de quinhentos kwanzas, valor que para ela e sua família ajuda na satisfação de algumas necessidades. “Eram três amigos e tinham apenas quinhentos kwanzas”, disse, acrescentando que “é pegar ou largar”. Para as dificuldades porque ela e sua família passam, o montante servia para as encomendas. Questionada se não vê problemas quanto a isso, respondeu, sem rodeios, que a necessidade é maior que a moral, tal é que repetiu o acto por, pelo menos, mais duas vezes.

Não existe um ponto de concreto onde as mesmas se afirmam como prostitutas, mas, entre a vizinhança, alguns favores são pagos com sexo, uma permuta que se tornou normal por aquelas paragens. Aliás, como diz o velho adágio: “de tanto apanhar habitua-se”, algumas delas vão-se afirmando como trabalhadoras do sexo e, como em qualquer negócio, sentem a necessidade de expandirem os seus horizontes e seguem à busca do sustento em locais de maior aglomeração de pessoas, sobretudo na conhecida “rua da Dira”, no Zango 3, hoje por hoje, tida como a zona de diversão mais frequentada de Luanda, mesmo que, em tempos de pandemia e das restrições impostas pelas autoridades. Aliás, não é por acaso que o local foi apelidado de “Sodoma e Gomorra” de Luanda. 

Outro ponto citado por elas é a comuna pesqueira do Calumbo. Ali, por exemplo, a ideia é disfarçar-se que estão à procura de trabalhos eventuais, como lavar a louça ou arrumar barracas. “Depois disso, nas conversas com os clientes, acabamos por nos deitar com quem esteja interessado”, disse Vitória Manzi, de 32 anos, lembrando que tudo é feito em troca de dinheiro ou de um prato de comida. 

Devido à precariedade naquela zona, vários homens, oriundos de vários pontos, aproveitando-se da situação, aliciam as jovens com objectivo de as explorarem sexualmente. Aliás, para muitos deles, a idade não é um factor relevante, basta que, para tal, a moça esteja fisicamente preparada e ser usada. 

Por isso não é de se estranhar que no bairro Santa Paciência muitas são as famílias cujas filhas é que garantem o sustento. 

De acordo com o mototaxista Paulo Sakassongue, ali, a troca não tem hora, quando a fome e outras necessidades apertam, a moral não encontra espaço. Há disponibilidade total sempre que no final serão recompensadas por alguns míseros kwanzas. 

De acordo com um inquérito realizado por este jornal, a maioria apontou o município de Viana como um dos pontos da cidade capital com índice de prostituição mais elevado, tendo associado o aumento de trabalhadoras do sexo naquela parcela com a falta de emprego ou qualquer ocupação decente. 

No bairro Santa Paciência, desprovido de quase tudo, muitas famílias acorrem diariamente às lixeiras, a mendigar na centralidade, e agora na prática do sexo como moeda de troca para terem o que comer, um autêntico Deus nos acuda, segundo coordenador do bairro, Pascoal Tiago. 

O responsável relatou que o bairro existe desde a década de 80, sendo que após a demolição que ocorreu entre os anos 2016 e 2017, nada mudou. “Não há infra-estruturas do Estado e cerca de noventa por cento da população aqui existente é desempregada, o que tem, também, provocado o aumento da criminalidade”, lamentou.

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