QUEM SÃO E ONDE ESTARÃO OS ASSASSINOS DO TAXISTA NA FRESCANGOL?

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Na tarde de quarta-feira, 21 de Agosto de 2019, no município do Cazenga, quatro elementos armados, transportados por duas motorizadas, consumam um assalto a uma carrinha e, a sangue frio, matam um taxista. O julgamento teve início a 30 de Outubro último, no Tribunal Provincial de Luanda, com apenas um réu. A família, incrédula e sob prantos, interroga o tribunal sobre o paradeiro dos três outros implicados.

Liberato Furtado

Por volta das 19horas começou a audiência e já a família estava exausta de esperar pelo tão aguardado bater do martelo (inicial). O único réu, sentado no banco, fez espécie à família do malogrado e até a nós, sabendo, de antemão, que foram quatro, os implicados.

Menezes João, o réu, não é, de todo, desconhecido do Tribunal Provincial de Luanda, pois já por lá foi julgado, acusado e condenado por homicídio.

Cedo o réu se revelou perdido, contando pormenores desencontrados sobre a sua detenção e apreensão da arma que o tribunal, reiteradamente, foi dizendo que era a usada na morte do taxista na Frescangol.

“ … chegaram, perguntaram-me os valores e começaram a revistar a minha casa. Chegamos à Esquadra do Bairro Uíge, começaram a maltratar-me…”, referiu.

Perguntado, num primeiro instante, disse que o encontraram com aquela arma que consta dos autos, alegando que é do primo que está desaparecido.

Depois de, insistentemente, negar ter estado envolvido no crime, lhe foi, novamente, perguntado de quem era a arma do crime e o réu respondeu que é de Bude/Loy, seu amigo.

Perguntado como a arma do crime terá ido parar em sua posse, num instante dizia que o primo deixou em sua casa, noutro, já contava que ele mesmo teria ido buscar em casa de amigos.

O juiz da causa, Domingos Fulevo, diante da disparidade de versões, insistiu em querer saber sobre a apreensão da arma e o réu não se fez rogado, voltou a contar e, desta, disse que a arma foi encontrada em casa do primo e foi ele, o réu, quem mostrou à Polícia onde estava a AKM de cano cortado.

Depois de mais uma intrigante versão, tanto o escasso público presente, quanto o tribunal demonstraram o desagrado cada um como pode. Isso aconteceu depois da leitura da acusação feita pelo magistrado do Ministério Público, João Pederneira Gaspar, segundo a qual, Menezes João, conhecido por Magui ou Magnata, de 24 anos de idade, responde pela prática do crime de homicídio voluntário simples, porquanto indiciam os autos que faz parte da quadrilha que, em pleno dia, quando eram, sensivelmente, 15h40 minutos, matou Elias Fonseca Gonçalves, que se fazia ao volante de uma carrinha de marca Mitsubishi, modelo Canter, de cor branca.

A acção ocorreu junto à linha férrea, na intercessão (circular) da Avenida dos Comandos, bairro Tala Hadi, município do Cazenga, e a Avenida Deolinda Rodrigues, muito próximo da ex-Frescangol, destaca a acusação.

Os autos relatam que os  carrascos, “montados” em duas motorizadas de marca Lingken e YB — modus operandi e marcas de motorizadas que já têm peugadas indeléveis no crime em Luanda — munidos de armas AKM, com o cano cerrado, apareceram, como que do nada, e foram obrigando a vítima a parar a marcha, mas aquela se negou a fazê-lo.

Acto contínuo, uma das motorizadas fez a ultrapassagem e, com isso, obriga o infeliz a parar a viatura. No ápice seguinte, dois dos assassinos descem da motorizada a fazer disparos contra o carro, e não só,  tendo três tiros atingido o vidro frontal e a porta, à direita da cabina. Um dos assaltantes assomou a janela do pendura e retirou uma pasta, de cor preta, com dinheiro, em valor não determinado até o presente.

O motorista da carrinha, Elias Fonseca Gonçalves, fruto dos disparos, foi atingido na cabeça, resultando daí uma ferida com fractura do osso do crânio e dilaceração encefálica, que teve como consequência fatal a morte.

No momento da detenção do réu, relatam os autos, foi encontrada e apreendida uma arma de fogo do tipo AKM (n.º3205/1969), com o seu carregador contendo dez munições, que foi submetida a exame pericial balístico, de acordo com os autos, sem, no entanto, a acusação fazer menção que a mesma arma foi usada para matar Elias, tão pouco do uso daquela no mediatizado assalto.

E o réu continua com as mil e uma versões

Já no interrogatório em tribunal, deu-se a conhecer ao réu que os exames teriam concluído que aquela foi a arma usada para matar a vítima nos autos. Indagado, se mostrou surpreendido, alegando que, também, se pergunta como foi que a arma teria sido usada no assassinato, se a mesma estava consigo e ele não participou de assalto algum…

O juiz da causa advertiu o réu, dizendo-lhe que o tribunal não cairia na estratégia dele, ao contar estórias da Carochinha. Porém, aquele  continuou a se contradizer e voltou a contar uma nova versão, segundo a qual tinha a arma para fazer apenas assaltos nas redondezas da Cerâmica de Cacuaco “e somente isso”.

O tribunal, não conformado com a aparente malícia da estratégia de defesa do réu, por meio do procurador, investiu na reconstituição da história já contada por aquele e, como se não bastasse, o réu reservou uma das suas pérolas para o final, contando que, quando aconteceu o assassinato, esteve hospitalizado por dois dias.

Instado que dias exactamente, respondeu de 20 a 27 de Novembro. Note-se, entretanto, que o crime foi cometido no dia 21 de Agosto. Como se pode facilmente perceber, 20 a 27 não seriam dois dias de internamento. E, ainda, não deixa de ser hilariante o facto de, no início do julgamento, o mesmo réu ter reclamado, alegando que o SIC lhe foi recolher à casa às 04 horas da manhã do dia 27 de Novembro. Logo, as perguntas que se impõem se resumem em: como assim, se só teve alta do hospital no dia 27 de Novembro? O hospital terá dado alta à madrugada?

A seguir, foi chamado o cunhado da vítima, o declarante Domingos Francisco Zinho. Na brevidade e pureza da sua intervenção, fez uma narração sobre uma rica amizade que disse ter tido com o marido da sua irmã, chegando mesmo a considerá-lo como um pai.

Esclareceu que a vítima fazia aluguer da carrinha e que, naquele dia, havia de, provavelmente, fazer o levantamento de algum montante, acumulado de serviços prestados a alguns comerciantes naquelas redondezas.

Chorou, e com ele a viúva e outros familiares. Entre soluços, indagou o tribunal sobre a ausência dos demais integrantes da quadrilha, alegando que o SIC lhe havia garantido a detenção de, pelo menos, três dos suspeitos, assegurando ter contribuído, a todos os níveis, para tal.

Os demais familiares fizeram-se juntar à voz e o tribunal, condescendente, respondeu que aquele foi o único réu arrolado ao processo e só o SIC podia melhor explicar as razões do quadro que se apresenta.

O julgamento prossegue, o tribunal quer ouvir mais alguns declarantes que possam levar a outros esclarecimentos. No entanto, reconhece ter visto inúmeras vezes o vídeo que mostra o assalto e que se tornou viral nas redes sociais.

Enquanto isso, a família promete não cruzar os braços para ver os demais suspeitos na cadeira dos réus.

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