Saúde pública: MORADORES DO CAZENGA RECLAMAM EXCESSO DE ODOR DA PRODUÇÃO MANUAL DE SABÃO

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O que é benéfico para uns, pode prejudicar outros. A matéria que se segue abordar, como a produção artesanal de uma das armas do combate à covid-19, coloca em risco a saúde dos moradores do bairro Mabor, município do Cazenga, em Luanda.

Por: Honorina Kiampava

O fabrico de sabão artesanal acentuou-se, em algumas regiões do país, por conta da crise pandémica, que hoje vivemos, pois está, cientificamente, provado que a higienização das mãos é o elemento fulcral para o combate à covid-19.

Por norma, o trabalho deve ser realizado longe de zonas habitacionais, para prevenção da saúde pública, prevenindo, assim, a intoxicação dos populares, sendo que os produtores devem trabalhar, devidamente, protegidos.

Entretanto, após uma denúncia sobre a não observância dessas medidas, a equipa de reportagem do O Crime fez-se ao bairro Mabor, município do Cazenga, e, tão logo chegou, uma jovem foi encontrada desmaiada, com pessoas ladeadas, tentando reanimá-la.

À nossa pergunta sobre o que acontecera, eis que a mãe de Josefa respondeu “um dia esse vizinho vai-nos matar… sempre desmaiam pessoas aqui, por causa do cheiro que saí da casa do senhor Matias”.

Minutos mais tarde, Josefa acordou e, visivelmente zonza, diz que não lembra como as coisas aconteceram, mas que os desmaios têm sido constantes entre as várias pessoas daquela rua.

Constatámos que, realmente, o cheiro é intenso, sendo que os moradores afirmam que são obrigados a abandonar as casas por horas, até que passe, sendo que uns ficam na rua e outros procuram os familiares mais próximos. Muitos, por causa da idade, viram-se obrigados a deixar, definitivamente, as suas residências.

A vizinhança, cansada de pedir a paralisação dos serviços, registou, no mês de Abril, uma queixa contra Matias, mas a Polícia não se pronunciou, o que a levou a desconfiarem de uma possível aliança entre o fabricante e alguns agentes da Ordem.

Em Junho, regressaram à esquadra, para ver em que pé se encontrava o caso, mas não lhes foi dada nenhuma resposta, pelo que se sentem de mãos atadas, pois o vizinho continua com a prática.

Postos na esquadra, na companhia de alguns moradores, a Polícia nega ter conhecimento de tal acto, resposta que causou revolta por parte dos moradores. “Esta é a terceira vez que levamos este caso até à esquadra, nunca nos foi dada uma resposta convincente, e hoje dizem não ter conhecimento de nada? Como vamos acreditar numa entidade que nem consegue resolver o problema do Povo? Respeitem o direito do Povo, por favor!”, clamam.

Antes as questões dos populares, os agentes em serviço, naquele dia, expulsaram todos os que estavam na esquadra, incluindo, o repórter que se encontrava no meio do Povo.

“Sei das consequências, eu mesmo já fui vítima”

Matias Roberto Diabanza, de 54 anos, morador do bairro há mais de oito anos, sempre trabalhou em indústrias e conta-nos que, nisso, aprendeu a fabricar sabão e outros materiais. Em 2015, foi afastado das suas funções, por sofrer de tuberculose óssea. Após um ano e meio de doença, hoje se encontra curado.

Após este período, não teve mais emprego, foi aí que decidiu fabricar, manualmente, o sabão em casa. “Já sou fabricante de sabão há mais de dois anos e sei das consequências disso à vida humana, eu mesmo já fui vítima disso, quando tinha tuberculose óssea”.

Embora ciente do perigo da actividade, o interlocutor não pensa em desistir, porque, justifica, todos os seus clientes encontram-se naquela circunscrição.

Durante a entrevista, Matias orientava as mulheres sobre como fazer o sabão. “O processo para o fabrico de sabão é muito simples: basta preparar 1 litro de água, dois quilogramas de soda cáustica, 20 litros de óleo vegetal usado e uma quantidade de amaciador de roupa e outros aromas naturais. Depois disso, misturam-se os produtos até ganhar consistência e despeja-se numa forma rectangular, com 1 metro de comprimento e 0.5 de largura, devendo-se retirar da forma no dia seguinte e, antes de endurecer, deve ser cortado em cubos ou barras”.

Em cada 20 litros de óleo de frituras, esclarece, é possível produzir entre 95 a 100 quadras de sabão, comercializados a AKZ 100 ou 150. O produto é consumido por quase todos os moradores daquele bairro.

“Cheiros tóxicos provocam doenças respiratórias”

Elisabeth Coelho, especialista em doenças respiratórias agudas, diz que “quanto mais inalarmos cheiros tóxicos, maior será a probabilidade de contrair uma doença respiratória, como bronquite, asma, sinusites, renites e tantas outras doenças”.

“O cheiro, por si só, traz elementos prejudiciais à saúde humana. A soda cáustica é uma substância completamente tóxica que, quando entra em contacto, principalmente, com os olhos, leva à cegueira”, explica, acrescendo que, sempre que uma pessoa entrar em contacto com odores do género, o aconselhável é tomar um copo de leite, porque o leite possuí cálcio e ferro, que combatem os resíduos tóxicos no organismo.

Para aqueles que não têm a possibilidade de tomar leite todos os dias, a médica aconselha a substituição por chás, ovos e beber muita água, para preservar os pulmões.

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