Segundo Comandante Nacional dos Bombeiros suspeito de assassinato
Enquanto o Serviço de Investigação Criminal (SIC) pretende encontrar as razões que estarão na base do suposto suicídio de Aldimiro Ayrton Neto Francisco, 30 anos, então efectivo do Corpo de Protecção Civil e Bombeiros, Manuel Lotango, segundo comandante nacional é, de acordo com os familiares da vítima, o principal suspeito pela morte do jovem.
Costa Kilunda
“Esse comandante é um mentiroso”, disse, para início de conversa, Deolinda Agostinho Neto, a mãe do falecido, que, posteriormente, acrescentou “o meu filho jamais colocaria fim à própria vida de modo tão bárbaro e cruel. Alguém o matou e não tenho dúvidas de que seja o seu chefe”, denunciou.
“Se não foi o comandante que o fez, por que, desde o dia da sua morte até agora, não apareceu aqui, sendo ele o chefe directo? Se não foi ele e está de cabeça erguida pelo menos teria coragem e aparecia no óbito para se solidarizar com a família. O que estará ele a fugir? Ele mesmo, o comandante, é quem matou”, reiterou.
A cidadã, sustenta essa possibilidade já que, segundo disse à nossa equipa de reportagem, Manuel Lotango, o então ‘patrão’ do falecido filho, o tratava como “escravo”. Falou que o agora defunto fazia serviço de guarnição na casa do comandante, apesar de não ter experiência para tal. Logo, presume que terá sido encontrado a dormir, por isso, desconfia que o comandante, por conta disso, terá ficado nervoso ao ponto de atingí-lo com um disparo mortal.
Contou que, naquele período, o seu descendente encontrava-se adoentado, no entanto, apelou-o para que não fosse trabalhar. Todavia, por alegadas insistências do também comissário e, apesar da sua condição de saúde desfavorável, dirigiu-se para a moradia do mesmo, localizada no Bairro Patriota, município de Talatona, onde tinha sido transferido para trabalhar.
“Não permita entrar nem sair ninguém”, soube a nossa equipa de reportagem que terá sido essa a orientação dada pelo supracitado comandante ao agora defunto. Porém, alega a família do defunto que se tal orientação não foi cumprida na íntegra, aí poderá estar uma das razões pelas quais agiria o chefe.
Logo, facto é que daquela residência não mais regressou com vida. Ou seja, por volta das 14 horas de domingo, dia dez de Janeiro, a família recebeu a triste notícia que dava conta da sua morte através de quatro agentes da Polícia Nacional (PN) cuja missão lhes foi confiada. “Como?”, perguntou a infeliz mãe. “Suicidou-se a tiro” retorquiram os emissários.
“Meu filho jamais fez uso e porte de arma de fogo”
A afirmação é da inconsolável mãe, tendo acrescentado que “ele era testemunha de Jeová e detestava armas. Inclusive não queria esse tipo de trabalho, mas por conta do desemprego, o pai o insistiu para que aceitasse ao garantir que tudo faria para ficar longe das armas e fê-lo”, sublinhou acrescentando que várias foram as vezes que o filho se queixou do então chefe.
Por outro lado, Carlos Edgar, cujo irmão mais velho partiu para eternidade, disse que não faz sentido as informações prestadas pela Polícia e recusa-se a acreditar nelas. “Ainda no sábado, quando ele saiu de casa para o serviço, falamos por duas vezes ao telefone. E por volta das 14 horas do mesmo dia, ligou para os nossos primos para agendar um banho de piscina no dia seguinte, no domingo”, disse.
“Não é possível que ele faria tudo isso e logo a seguir suicidar-se. Acredito, embora não seja psicólogo, que, no mínimo, nos teria revelado algum indício para tal”, prosseguiu dizendo ainda que “quem chega a esse ponto tão cruel deixa sempre escapar alguma coisa que revele tal atitude. E juro, não foi o caso do meu irmão”, atestou.
Contudo, Deolinda Neto, a inconsolável mãe, apela por justiça. “Não irei descansar enquanto não ver esse comandante na cadeia. E se não o vir na cadeia, esse caso vai chegar até ao camarada Presidente João Lourenço”, garantiu ao referir que segundo soube, o corpo directivo do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros desconheciam a estadia daquele efectivo no local.
De recordar que, Aldimiro Francisco foi efectivo do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros já há sete anos. Isto é, ingressou na corporação no ano de 2014. Onde inicialmente foi colocado na área dos recursos humanos (RH), Departamento de Estatístico.
Por razões alheias à sua vontade, terá sido transformado de técnico de estatística para um simples guarda em casa do citado comandante. No entanto, foi nesta residência onde, no passado dia nove do mês findo terá, supostamente, posto fim à própria vida com um tiro na mandíbula que o perfurou o crânio.
Informação essa que não é colhida pelos parentes e contradizem alegando que a bala que o atingiu entrou pelo crânio e saiu pela mandíbula. Por fim, sublinhar o descontentamento da família que dizem terem sido informados apenas na tarde do dia seguinte tendo o cadáver sido transportado e depositado na câmara cinco, no hospital Josina Machel, reservado aos achados na via pública.
“Se estava a proteger um oficial superior, é lógico, tinha que usar uma arma de fogo”
Contactado por via telefone, Sebastião Camões Director do Gabinete de Comunicação dos Serviços de Protecção Civil e Bombeiros, começou por dizer
O malogrado pertencia ao quadro do pessoal do Comando Provincial de Bombeiros. Por isso, lamenta igualmente a perda prematura do jovem.
Quanto ao uso ou não de arma de fogo fez saber que os bombeiros são um órgão paramilitar, por isso, “não têm uma actividade fixa. Ou seja, tudo aquilo que é ligado à actividade militar, têm de realizar. Logo, se estava a proteger um oficial superior, é lógico, tinha que usar uma arma de fogo”, disse.
Sebastião Camões fez saber ainda que de acordo com os regulamentos internos da corporação aos oficiais superiores são seleccionados determinados indivíduos para prestar serviços nas suas residências, inclusive de guarnição. “Em momento algum encontrarás um civil a guarnecer a residência do Chefe-Estado Maior, será sempre um militar”, exemplificou.
“Ao nosso nível também queremos saber se o rapaz sofria algum tipo de pressão no exercício das suas obrigações e deveres, no entanto, apenas o resultado da investigação levado a cabo pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) poderá determinar com precisão o que realmente aconteceu”, frisou.
Portanto, de realçar que tentamos por meio do citado director ouvir a versão do supracitado comissário, mas sem sucessos. “Ele não vai falar, salvo se tiver uma orientação da polícia de investigação que conduz o processo”, disse.
Salientar que o Serviço de Investigação Criminal (SIC) está a conduzir o processo cujos resultados podem ser divulgados nos próximos dias sob o número 55/2021 no SIC-Luanda onde os primeiros declarantes foram os parentes mais próximo do falecido tendo estes garantido que tudo farão para ouvir o visado comandante.
Ainda pelo mesmo processo, ‘O CRIME’ sabe que, o Serviço de Investigação Criminal ouviu entre os dias dez (10) e onze (11) os colegas do falecido sobre a ocorrência. No entanto, aguarda-se pela audição e interrogatório do comissário.
Por fim, salientar que a nossa equipa de reportagem, deslocou-se na passada segunda-feira, dia 15 do corrente ao destacamento de Protecção Civil e Bombeiros, sita no Bairro Kifica, onde o falecido trabalhou até antes de ser transferido para a moradia do comissário com o objectivo de ouvir outra versão dos factos.
Lá, apesar de não aceitarem gravar entrevista e omitirem suas identidades por conta da restrição que receberam para não falarem sobre o assunto, foi possível perceber que “era uma pessoa muito bem-educada, mas ao mesmo tempo anti-social. Não conversava muito, limitava-se entre o bom dia e boa tarde aos colegas para depois isolar-se no seu canto. De lá, só levantava para uma actividade”, disseram os colegas.