SEGURANÇA DO LICEU 4007 É MORTO DURANTE ASSALTO

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O vigia do Liceu 4007 perdeu a vida depois de revidar contra um grupo de marginais que, segundo testemunhas, pretendia apenas roubar a sua arma. O crime ocorreu na madrugada do dia 25 de Maio, terça-feira, no bairro Alto Kifangondo, município de Cacuaco, em Luanda.

Afonso Benjamim

“Ele era tudo para nós, esteve sempre presente, quando a gente precisou”, lamenta, agora, José Zeferino, filho da vítima, que, para além de morto, teve a arma de serviço roubada pela quadrilha. 

De acordo com testemunhas, o incidente aconteceu à 1 hora da madrugada de terça-feira, 25 de Maio, quando um grupo de supostos meliantes atravessou o muro do estabelecimento de ensino, o Liceu 4007, no bairro Alto Kifangondo, com o intuito de roubar a arma do segurança. No intuito de frustrar a intenção dos marginais, Zeferino Rafael Candele, de 58 anos, acabou alvejado, à queima-roupa pelas costas, tendo a bala atravessado a caixa torácica e morreu no mesmo instante.

Após matar o segurança, os marginais recuperaram a sua arma e foram-se embora.

O director pedagógico da escola, Matos André António, explicou que foi a primeira vez que um evento daquele ocorre na instituição. Segundo Matos André, a vítima foi encontrada pelos primeiros alunos que chegaram à escola. “Às 6 horas, quando os primeiros alunos chegaram, bateram à porta, mas o segurança não respondia, então a equipe de limpeza pediu que alguns alunos saltassem o muro para ver o que se passava, tendo estes deparando-se com o sucedido”, explicou, acrescentando que o vigia estava estatelado no corredor, próximo a uma porta de uma sala de aulas.

Após acharem o corpo, os estudantes prontamente contactaram o director pedagógico, que, em pouco tempo, chegou ao local, que também já havia encontrado os agentes do Serviço De Investigação Criminal (SIC) a fazer as devidas diligências. 

Os moradores que vivem ao redor da escola, ouviram os tiros durante a madrugada, porém não imaginaram que uma das balas atingira mortalmente o “Man Zefe”, como era carinhosamente tratado o segurança por quem o conhecia. “Nós realmente ouvimos disparos, só não sabíamos que estavam a ser dirigidos ao Man Zefe. Já era muito tarde, ficamos assustados com o barulho, mas ninguém teve a coragem de sair para averiguar o que se passava”, contou Domingas, vizinha da escola, que disse nutrir um carinho muito especial pelo antigo segurança que, ademais, segundo ela, era bastante querido pela maioria dos moradores da zona. 

Os vizinhos relataram que nos últimos tempos tem havido grupos de jovens suspeitos que ficam até altas horas na rua a consumir bebidas alcoólicas, sem que, no entanto, observem as medidas de Calamidade Púbica impostas pelas autoridades. Em alguns momentos, segundo contam, durante o dia, os alunos são intimidados pelos referidos malfeitores, na tentativa de surripiar os seus pertences.

A equipa de reportagem do jornal O Crime foi até ao Comando Municipal de Cacuaco em busca de mais esclarecimentos sobre a ocorrência, de uma forma muito sintética, o comandante municipal, superintendente-chefe, Adão Correia Sebastião, aferiu que “o caso está a ser investigado, sendo que nos próximos dias se produzirá um relatório sobre o sucedido para a imprensa”. 

Adão Correia Sebastião lamentou ainda o facto de muitas escolas do país terem apenas um segurança, e apontou o “excesso de carga horária como factor determinante para o desempenho dos vigilantes”. Para o comandante municipal de Cacuaco, na nossa realidade, um segurança trabalha durante 24 horas sozinho, “quando o mais aconselhável seria ter pelo menos três a desempenharem a função, dividindo o horário de descanso, por pelo menos duas horas”, apontou.

Mateus Lucas, companheiro de trabalho de Zeferino Candele, revelou que numa semana antes do sucedido, por volta da meia-noite, muitos indivíduos, aparentemente jovens, ficaram a bater à porta da instituição proferindo obscenidades. “Por estar sozinho, escondi-me e fiz três disparos, só assim os mesmos se dispersaram”, notou.

Visivelmente magoado com a perda do colega, adiantou que nunca pensou que perderia desta forma o colega que o rendera um dia antes. Ademais, desabafou, “não é fácil trabalhar como segurança. Ganhamos 50 mil kwanzas, praticamente não temos subsídios de alimentação, muitas vezes dependemos de vizinhas que, quando têm alguma coisa, partilham connosco”, lamentou.

Segundo o que apurou ‘O Crime’, junto dos habitantes do bairro, crimes do género têm sido raros, e que, apesar do registo de alguns casos, aqui e acolá, é dos mais calmos em termos de criminalidade, se comparado com outras zonas do município de Cacuaco.

Comissão de moradores

A Comissão de moradores do bairro lamentou e reprovou o acto, afirmando que casos do género são, maioritariamente, cometidos por indivíduos malfeitores de outras paragens que se aproveitam do facto zona ser o que consideram “um bom refúgio para marginais”.

“Em 2016 tivemos um caso parecido, com a morte de um vizinho nosso. Os meliantes alvejaram-no três vezes quando tentava escapar de um assalto, e acabou por falecer numa das unidades hospitalares da capital. Os autores eram desconhecidos no bairro, e até agora o caso não ficou esclarecido”, disse Francisco Joaquim Mateus, presidente da comissão de moradores.

Zeferino Rafael Candele, “Man Zefe”, era o primeiro filho de oito irmãos, foi a enterrar na sexta-feira, 28 de Maio. Tinha 58 anos de idade, deixa ao cuidado da viúva seis órfãos, e um neto.

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