Um grito de socorro: MENINO DE 10 ANOS MORRE AOS POUCOS ENQUANTO AGUARDA POR UMA CIRURGIA NO HOSPITAL AMÉRICO BOA VIDA

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Rogério Paulino, 10 anos, já sente até o cheiro de cadáver em si, tudo porque vê a sua barriga a rasgar-se e os intestinos a sair, mesmo com o esforço da sua família em recoloca-los, com recurso a embalagem plástica. Enquanto é esmagado pela Onfalocele (má formação resultante do não retorno do intestino para a cavidade abdominal), o Hospital Américo Boavida está impávido e sereno.

Honorina Kiampava

Antes dos 8 anos de idade, quando lhe foi diagnosticada a febre tifóide aguda, Rogério estudava, corria, brincava com os seus amigos, como uma criança comum. Mas um dia, enquanto praticava o seu grande sonho, isto é, jogar bola, deram-lhe um forte remate na barriga, por um adversário de campo.

Quando chegou à casa, não contou o que havia acontecido. Entretanto, os dias foram passando e a barriga do pequeno começou a inflamar. A mãe, angustiada sem saber o que estava a acontecer, perguntou ao filho o que realmente se sucedeu, tendo respondido que havia sido atacado pelo seu adversário.

Daí, conta-nos Joaquina Paulo, levou o filho até ao Centro Médico mais próximo, apenas disseram que ele estava a desenvolver uma febre tifóide aguda. Passaram alguns remédios, mas nada mudou, pelo contrário, as coisas caminhavam de mal a pior. Enquanto a família procurava uma explicação lógica sobre o ocorrido, a barriga do menino inflamava e lhe causava várias dores.

“E as coisas só foram piorando… a barriga abria aos poucos e libertava um mau cheiro. Todos os intestinos passaram a sair do corpo”, descreve a mãe, que ainda disse “as pessoas mal nos olham na rua, uns até fogem por causa do cheiro que a ferida liberta, mas há sempre aqueles que sentem pena e tentam ajudar de alguma forma”.

Batendo as portas de vários hospitais, a resposta, muitas vezes, foi “este caso não é nosso!”. O desespero batia muito forte. Foi aí que apareceu um primo de Joaquina Paulo, mãe de Rogério, que lhes indicou o Hospital Américo Boa Vida. Numa primeira fase, a mãe foi conversar com um dos médicos indicados, sendo que este deu instruções de levarem o menino para fazer alguns exames.

Depois de uma semana, fizeram-se ao hospital, para os exames necessários e foi aí que se descobriu o verdadeiro mal que atormentava a criança. O médico revelou que o menino sofre de Onfalocele. Procurando saber do que se tratava, desolada, expressou “já não sabia o que falar naquele momento, só pensava em como é que o meu filho sobreviveria naquelas condições…”.

Na sequência, o médico recomendou que marcassem uma cirurgia urgentemente e assim o fizeram. A primeira cirurgia foi feita em Outubro do ano passado. Depois da operação, parecia que as coisas voltariam ao normal, mas não foi isso que aconteceu. O ferimento foi mal tratado e causou uma grande infecção.

“Só ficamos internados um mês no hospital, depois desse período, fomos liberados, com a segurança de que o pior já havia passado. Deram-nos algumas recomendações, fizemos tudo o que nos pediram, mas, depois, começamos a notar que o ferimento abria por si, libertando pus e um cheiro muito forte, que nem dava para ficar muito próximo dele. O meu filho cheirava a cadáver!”, expressou, sem chão.

Frustradas, a mãe de Rogério e a sua irmã mais velha, Neusa Bartolomeu, regressaram ao hospital com o rapaz, para fazer uma reclamação e explicar o que aconteceu com a criança. Postas lá, os profissionais verificaram a situação de Rogério e disseram que seria marcada uma segunda operação, para reparar o dano.

Marcada para o mês de Maio deste ano, a ser feita por um médico cubano, desta vez, a cirurgia não veio a acontecer, pois, no mês de Abril, quando a tia de Rogério foi confirmar, disseram-lhe que já não seria possível, pois o médico responsável pela operação havia regressado ao seu país de origem (Cuba) e, tão logo voltasse, a operação seria realizada.

“Fiquei desiludida com a resposta que me foi dada. Pelo que eu saiba, o médico pode voltar em Angola, caso eles expliquem os motivos. Querem ver uma criança inocente a morrer por capricho, isso não se faz”, lamentou a tia que, quando regressou à casa e deu a notícia à família, como era de se esperar, ficaram revoltados.

“Meu sonho era ser um grande jogador”

A mãe conta que várias são as vezes que o intestino do menino vem para o exterior, e usam um saco ou uma embalagem para mexer e devolvê-los para dentro. “Não consigo ver o meu filho a sofrer, preciso de ajuda! É muito sofrimento para uma criança de 10 anos”, clama.

Enquanto a equipa do jornal O Crime fazia a entrevista com a família de Rogério, no município do Cazenga, concretamente no Tala Hadi, Joaquina Paulo servia a primeira refeição do dia apenas quando eram 14 horas, e o cardápio era nada mais que arroz branco com chá. “Nem todos os dias temos o que comer, algumas vezes os vizinhos é que nos dão um pouco de comida”, confessa.

Em conversa com o pequeno, este conta-nos que sente uma grande dificuldade no momento em que sente a necessidade de defecar, pois, não consegue fazê-lo de maneira normal, sendo necessário utilizar uma seringa para se retirar as fezes, o que lhe causa muita dor. “Às vezes, tento guardar a dor, por medo daquela seringa grande. Quando retiram as fezes, não consigo sentar direito”, diz ele.

Não obstante, Rogério acredita que vai melhorar e que realizará seu grande sonho. “Antes de eu ficar doente, sonhava em ser jogador, queria ser como o Messi ou Cristiano Ronaldo, mas hoje vejo que se calhar não serei jogador, por causa da ferida. Mas se tudo correr bem e eu for operado, ainda posso ser um grande jogador”.

Com o esposo desempregado, Joaquina teve de abrir uma bancada em casa para conseguir sustentar a família, mas o lucro não é suficiente, porque a maioria do dinheiro é dirigido ao tratamento de Rogério.

Contactada a Direcção do referido hospital, sem nenhuma entrevista formal, porque não foi autorizada, apenas recebemos a resposta de que a família do menino tem de aguardar pelo médico responsável.

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