Afinal, o que foi o Presidente João Lourenço (mesmo) fazer ao Dubai?

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O Presidente de Angola João Lourenço visitou, no fim de semana transato, os Emirados Árabes Unidos, mais precisamente o Dubai. A imprensa internacional tem interrogado o (real) motivo subjacente à viagem do líder político máximo deste país tão relevante noo contexto geopolítico africano.

A pós duas noites sem dormir – ou melhor, nós nunca dormimos – , lográmos obter informações relevantes, de diversas fontes de múltiplas origens, sobre a finalidade desta deslocação relâmpago de João Lourenço ao mencionado país do Golfo Pérsico.
Para além de questões mais particulares, como o facto já tornado público da vacinação do Presidente angolano (com a vacina russa Sputnik), razões políticas muito ponderosas prevaleceram e justificaram a deslocação célere e rodeada de secretismo ao Dubai. Foi uma viagem particular no seu contexto; foi uma viagem política no seu texto. No texto que escreverá na História de Angola, de África e da geopolítica no futuro muito próximo.
Em primeiro lugar, o Presidente João Lourenço reuniu-se com uma pessoa próxima da empresária, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos, que reside presentemente no Dubai.
Houve tentativas no sentido de assegurar que o diálogo seria estabelecido diretamente entre o atual Presidente de Angola e a filha do ex-Presidente, de acordo com fonte de grupo de empresa de informações que opera no Dubai; contudo, os esforços revelaram-se infrutíferos.
Ambas as partes entenderam que um encontro presencial entre os dois seria prejudicial, mais do que benéfico. Chegou-se, destarte, a uma posição de compromisso: João Lourenço reuniu com representantes de confiança de Isabel dos Santos e de José Eduardo Santos (que também se encontra no Dubai). Com o ativismo sempre empenhado de Manuel Vicente.

Segundo informações de veterano dos serviços de Angola, Vladimir Putin acolheu com entusiasmo a possibilidade de ter Isabel dos Santos à frente do Governo de Angola – os serviços de informação russos encetaram, de imediato, operação de construção de narrativa política em torno do desafio de Isabel dos Santos à liderança de João Lourenço.

Qual foi o assunto da conversa e uma das principais razões que motivou a deslocação do Presidente João Lourenço ao Dubai? O futuro da Sonangol: o Presidente angolano não tem dúvidas acerca de centralidade da empresa estatal petrolífera no plano de recuperação económica de Angola, para reduzir o peso da dívida angolana e – o que não é despiciendo – para emitir um sinal claro e inequívoco ao mundo de que o Governo de Angola tem estratégia, tem liderança e pretende empreender reformas que tornem o país mais competitivo e aberto ao investimento estrangeiro.
No entanto, João Lourenço não ignora o peso – político, para além de económico – de Isabel dos Santos: diplomacia, prudência e bom senso exige-se.
Acresce que João Lourenço sente-se politicamente numa posição delicada: por um lado, entende que grupos que juravam apoiá-lo nos seus esforços de reforma política o traíram, apenas pretendendo forçar uma mudança política no país (o que passará necessariamente pela substituição do MPLA pela UNITA no poder angolano); por outro, os mais indefectíveis e empenhados membros do MPLA ainda são devotos da família Eduardo dos Santos.
Donde: como exímio jogador de xadrez, João Lourenço precisa de mover as suas peças para se manter no poder – a alternativa mais plausível no imediato é unir o MPLA em seu redor, reforçar o seu poder interno pessoal, mostrando recetividade aos setores de Eduardo dos Santos e propondo tréguas a Isabel dos Santos.
Neste processo de conciliação entre João Lourenço e Eduardo dos Santos, qual é o intermediador fundamental? Vladimir Putin: a Rússia ainda é o agente externo – ou, numa visão diplomática, o parceiro diplomático – fundamental na vida política angolana.
Angola é prioritária para o Kremlin (linha de Putin; porque, na verdade, o Kremlin é uma realidade muito vasta e complexa – o próprio Governo russo integra linhas políticas diversas, interesses heterogéneos e visões diferentes sobre a Rússia, sua história e seu futuro, num presente que vão preservando). O próprio Putin anunciou, no final do ano transacto, que olha para África como o continente estratégico para a Rússia.
Ora, Vladimir Putin tem respeito e uma relação pessoal muito cordial com João Lourenço – ao mesmo tempo que nutre uma admiração singular e uma amizade à prova até de incidentes diplomáticos por Isabel dos Santos.
Segundo informações de veterano dos serviços de Angola, Vladimir Putin acolheu com entusiasmo a possibilidade de ter Isabel dos Santos à frente do Governo de Angola – os serviços de informação russos encetaram, de imediato, operação de construção de narrativa política em torno do desafio de Isabel dos Santos à liderança de João Lourenço.
O objetivo do Kremlin foi, essencialmente, o de passar mensagem ao atual Presidente de Angola: se se quiser manter no poder, terá de alinhar com Moscovo e terminar veleidade de outros compromissos e “parcerias estratégicas”.
João Lourenço, Vladimir Putin, Isabel dos Santos – e o futuro (espanhol?) da SONANGOL
Pois bem, o representante de Vladimir Putin no Dubai comunicou a João Lourenço que Moscovo continuará a apoiá-lo, estando disposto a reforçar a relação bilateral, quer em termos económicos, quer em termos militares. Mais equipamento militar russo para as forças armadas de Angola chegará em breve.
Com efeito, Vladimir Putin fez saber a João Lourenço que a Federação Russa irá transformar Angola como a sua base operacional em África. Angola será o país fulcral para executar a “nova” política russa para o continente africano.
De acordo com nossa colega, analista política de canal RT, Putin tem estado muito atento às novas realidades geopolíticas no continente africano, designadamente em Marrocos, no Sahel, no sudeste e sul de África. O Presidente da Federação Russa está preocupado com a progressiva expansão aí da China e as implicações que tal terá para os interesses russos.
Donde, João Lourenço recebeu a garantia de Putin que um forte investimento russo será feito em Angola, na área da agroindústria, da construção civil, da energia, comunicações e na modernização do Estado angolano.
Quanto à Sonangol, a Federação Russa dará o seu consentimento ao plano de João Lourenço para a empresa estatal, com a contrapartida de as decisões de gestão tomadas não colocarem em causa interesses geopolíticos russos e o Governo de Angola garantir proteção a Isabel dos Santos.
Convém não esquecer que Isabel dos Santos tem nacionalidade russa; Putin não esconde que qualquer ataque a Isabel dos Santos merecerá resposta da Federação Russa aos políticos angolanos que nele estiverem envolvidos (leia-se: será o fim da carreira política de João Lourenço).
E qual é a estratégia de João Lourenço para a Sonangol?
Primeiro, uma péssima notícia para os portugueses: João Lourenço quer reduzir a presença portuguesa em sectores estratégicos angolanos ao mínimo (empresas, não estamos a falar de trabalhadores), sobretudo, às empresas mais ligadas ao regime político português.
Porquê? Porque João Lourenço não perdoa a investigação judicial a Manuel Vicente – e não confia nas instituições portuguesas. Corre a ideia na elite política angolana que uma parte substancial das dificuldades que o Estado angolano tem passado recentemente (e João Lourenço, em particular, tem sofrido em termos de afirmação política) resulta de operações com mão de certos serviços portugueses manipulados – na visão dos dirigentes políticos angolanos – por certas personagens políticas. Acresce que certos políticos portugueses, segundo informações da nossa fonte da RT, fizeram promessas a João Lourenço que não terão cumprido. Esta informação é, aliás, corroborada por jornalistas angolanos, próximos do MPLA.
Por outro lado, até o Kremlin já coloca Portugal como Estado capturado pelo Partido Comunista Chinês. Até Moscovo já reporta que há algo de muito estranho na obsessão de Lisboa por Beijing e Shanghai…
Aliás, segundo a mesma fonte da RT, os serviços de intelligence da Federação Russa consideram que a amizade de António Costa por Viktor Orbán – apesar das divergências político-ideológicas – se deve à estreita relação que ambos mantêm com o Partido Comunista Chinês…E que Orbán pode ser utilizado para trazer António Costa para a esfera de interesses da Federação Russa, deixando-o manter a sua amizade íntima com o Partido Comunista Chinês, desde que respeite os limites do interesse estratégico russo.
Segundo: o país europeu que se posiciona para substituir Portugal como parceiro estratégico de Angola não é França (como se poderia prever), mas sim a Espanha.
Na verdade, o futuro da Sonangol passará muito provavelmente por investidores espanhóis.
Inicialmente, a INDRA assegurará a prestação de serviços de segurança marítima e de segurança da exploração de recursos petrolíferos (para além de várias parcerias em termos de investigação tecnológica).
A Casa Real espanhola está a acompanhar o assunto com máxima atenção –e, de acordo com informações de agências de dois Estados da União Europeia, João Lourenço terá mesmo falado com o Rei Emérito Juan Carlos, no Dubai.
Recorde-se que o Rei Juan Carlos sempre manteve uma relação muito próxima e ativa na INDRA, tendo inclusive patrocinado várias iniciativas desta empresa estratégica do Reino de Espanha.
O acordo para a entrada na Sonangol já está praticamente concluído; prevê-se que a sua celebração ocorra em Setembro, em Luanda, em cerimónia formal para o efeito.
Prevê-se, pois que Espanha seja o player europeu decisivo em Angola nos próximos tempos.
Para o que mais nos interessa, a aposta estratégica da Rússia em Angola para conter expansão da China e a entrada em cena, em força, de empresas vitais do Reino de Espanha em sectores chave da economia angolana podem ser oportunidades estratégicas para os EUA.
Há que aproveitar estes dois dados geopolíticos e geoeconómicos com inteligência, com sentido estratégico que permita aos EUA reforçar, a prazo, a sua preponderância, numa lógica de AMERICA FIRST, yet not AMERICA ALONE, no continente africano. Os russos até podem ser bem úteis para o reset da política externa dos EUA para África, se as coisas forem bem feitas…E Angola é (será) deveras relevante…

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