ASSOCIAÇÃO KAMABATELA: EX CRIMINOSOS CRIAM ASSOCIAÇÃO PARA DESENCORAJAR A CRIMINALIDADE

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A associação visa retirar jovens da delinquência e reintegrá-los no mercado de trabalho, por meio de projectos sociais, que visam capacitar profissionalmente ex criminosos.

Maiomona Paxe

A associação surge, numa altura, em que o país apresenta sérios problemas correlação a segurança pública, onde o índice de criminalidade tem vindo a aumentar nos últimos anos, retirando de certa forma, a tranquilidade da sociedade, em geral. E nada, de mais sensato e viável, do que ex criminosos se dedicando na mudança de quadro, que se considera urgente.

Actualmente, é possível observar no Hoji-Ya-Henda, vários jovens engajados no trabalho árduo, no mercado, lojas e armazéns; uns descarregando mercadorias, outros captando clientes para os estabelecimentos, como agentes comerciais. Uma atitude que tem merecido aplausos de moradores, comerciantes e visitantes que, demonstram circular com tranquilidade.

A designação Camabatela ou Kamabatela, é referente a comuna de Camabatela, no município de Ambaca, província do Cuanza Norte. A escolha do nome faz menção a bravura e resistência do povo desta região, que teve um papel preponderante na luta contra a opressão colonial. Os jovens, inspirados na história do povo Camabatela, que tinham o lema de “nunca recuar”, formaram o grupo com a mesma designação, no interior da Comarca Central de Luanda – CCL, em 2004, com finalidade de se defender de grupos rivais.

No entanto, crescidos e com maior experiência sobre a vida, decidiram inverter a finalidade do grupo, de associação criminosa em associação do bem, que combate contra a criminalidade. Em 2020, fruto de um concílio entre grupos de vários municípios, nomeadamente Cazenga, Cacuaco, Sambizanga e Viana, deu-se o surgimento da Associação Kamabatela, tendo como principal idealizador, José Gabriel Timóteo Dias “Babiletsa”, presidente da mesma. “ Do mesmo jeito que influenciamos as pessoas no mundo da criminalidade, é da mesma maneira que aparecemos para desencorajá-los”.

A associação tem sede no bairro Hoji-Ya-Henda, município do Cazenga, congrega mais de cinco mil jovens, dos quais, cinquenta estão na linha da frente. A mesma, possui quadros, que longe do crime há algum tempo, tiveram a oportunidade de recomeçar e se formar em distintas áreas do saber, nomeadamente o Direito, Engenharia e outras.

São vários os jovens, entre condenados e ex presidiários, que veem na associação uma oportunidade de recomeçar, pese embora, revelam não ser fácil reconquistar a confiança das pessoas, que outrora os considerava altamente perigosos. Leonel Teles, 38 anos, jurista, diz não ser fácil convencer os mais novos a abandonar a criminalidade, uma prática que quase o tirou a vida. Daí que, apela o apoio das entidades, na criação de estratégias viáveis, que combatam o crime.

Há anos fora da criminalidade, Leonel Teles, enaltece o papel da associação Kamabatela e revela ser “a fome, o grande impulsionador do aumento do índice de criminalidade no país”.

José Gabriel Timóteo Dias, também conhecido por “Babiletsa”, de 35 anos, presidente da associação, acredita que, combatendo o dilema da fome que assola várias famílias, diminuirá a taxa de criminalidade. O mesmo fez saber que, a sua associação possui soluções para tal efeito, pelo que, solicita uma audiência com o Presidente da República, João Lourenço.

Partindo deste pressuposto, a associação estabeleceu parcerias com alguns empresários nacionais e estrangeiros (guineenses, malianos, nigerianos, senegaleses, chineses, etc.), no sentido de empregar muitos destes jovens, que tomaram a decisão de abraçar a lei. E esta realidade podemos comprovar em vários estabelecimentos comerciais, localizados no bairro Hoji-Ya-Henda. Porém, isto só, não basta. No entendimento de “Babiletsa”, é necessário outros projectos que, incentivem os jovens às boas práticas.

Para despertar o interesse e reintegração dos ex criminosos, no mercado de trabalho, a associação almeja a construção de estabelecimentos comerciais, com foco na venda de móveis, como cadeirões, mesas de centro e de jantar, artigos de caixilharia, fabricados por eles. Também, tenciona a criação de uma produtora musical, denominada de Zukas Produções, para despertar talentos e relançar carreira de músicos desacreditados, por envolvência no crime. Pelo o que apuramos, há já um espaço reservado para a criação da produtora, lá no Cazenga e apelam aos demais empresários que, abracem o projecto e possam resplandecer a esperança no seio da comunidade.

Actualmente, é possível observar no Hoji-Ya-Henda, vários jovens engajados no trabalho árduo, no mercado, lojas e armazéns; uns descarregando mercadorias, outros captando clientes para os estabelecimentos, como agentes comerciais. Uma atitude que tem merecido aplausos de moradores, comerciantes e visitantes que, demonstram circular com tranquilidade.

Márcio Peres “Mac”, 29 anos, pai de dois filhos, com 2º ano do ensino superior, no curso de engenharia informática e também ex criminoso, com três passagens na prisão, pelos crimes de roubo de mercadorias e viaturas e assalto a mão armada. Márcio, conta que ingressou no mundo do crime por dificuldades financeiras e, por agora, sente na pele as péssimas decisões do passado que, o condicionam de conseguir um emprego melhor, por conta de seu cadastro criminal. Com o apoio da associação, trabalha actualmente no mercado do Hoji-Ya-Henda, onde tem descarregado mercadorias em camiões, o que lhe permite sobreviver, fruto do suor das suas mãos. O mesmo apela aos demais, que ainda insistem em práticas indecorosas a deixarem, sob pena de verem os sonhos destruídos.

      

Soares Faustino Jacinto “Mana Ía”, 33 anos, integrante da família “Agre”, onde engloba o grupo musical “Os Agre”, com sucessos no estilo kuduro (Sai do caminho e Procurador), pai de dois filhos, trabalhador no mercado do Hoji-Ya-Henda, reitera a frase de que, “o crime não compensa, retrocede a vida e o desenvolvimento da sociedade”.

São muitos os jovens que, estão arrependidos da vida que levaram há alguns anos e que tem condicionado o presente, porém, estão esperançosos no trabalho da associação Kamabatela.

A associação conta com o apoio das igrejas, músicos do estilo kuduro, como Rei Panda, os Kalunga, os Lambas, os Agre, os P.P, etc., mas lamentam a falta de apoio das administrações distritais e municipais e, aproveitam esta reportagem, para solicitar ajuda de forma extensiva.

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