O actual comandante-geral da Polícia Nacional, Arnaldo Manuel Carlos, que substituiu Paulo Gaspar de Almeida, há três meses, foi das nomeações mais improváveis já vistas naquele órgão castrense. O comissário-geral tem pela frente um enorme desafio desde a coesão interna, pois é bastante contestado devido a alguma postura que adoptou contra a PNA, aquando da sua passagem pelo SIC, tendo, inclusive, ganhado a alcunha de ‘traidor’. Por outro lado, Arnaldo Carlos tem o desafio de garantir a continuidade do desenvolvimento e manutenção dos ganhos conquistados pela Polícia Nacional, como, por exemplo, a própria independência financeira. A pergunta que não se quer calar é: será que Arnaldo terá coragem para dizer “não” ao seu promotor, ministro do Interior, Eugénio Laborinho?
O novo comandante-geral da Polícia Nacional, nomeado pelo Presidente da República, João Lourenço, a 18 de Janeiro do corrente ano, pode estar a provar do próprio veneno.
O novo comandante-geral da Polícia Nacional, nomeado pelo Presidente da República, João Lourenço, a 18 de Janeiro do corrente ano, pode estar a provar do próprio veneno. Arnaldo Carlos, policial de carreira há 36 anos, fez parte dos membros de efectivos da Polícia, na condição de presidente da mesa da assembleia para criação do órgão de Direcção de Investigação de Ilícitos Penais (DIIP), na sequência do conflito que houve entre o Ministério do Interior e o Comando-Geral da Polícia Nacional quando se retirou o Serviço de Investigação Criminal (SIC) da esfera da PNA, por intermédio de um Decreto Presidencial. Entretanto, dois anos depois, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, propôs ao presidente da República a nomeação do ex-comandante provincial da Huíla, Arnaldo Carlos, como director-geral do Serviço de Investigação Criminal. Para o espanto de tudo e todos, Arnaldo Carlos, depois de assumir o comando do SIC, começou por combater a Direcção de Investigação de Ilícitos Penais (DIIP), órgão que havia dado corpo para a sua criação, favorecendo o ministro do Interior, Eugénio Laborinho. Arnaldo dizia, na altura, que a DIIP deveria encerrar, porque não tinha qualquer utilidade. Será que agora, na vestes de comandante-geral, executará tal desejo? Haja coragem! Ao que tudo indica, houve um recuo estratégico por parte de Arnaldo, que, ao invés de acabar com a DIIP, orientou a sua expansão para todas as esquadras existentes no país.
Eugénio Laborinho com poderes reforçados
Com a nomeação de Arnaldo Carlos, quem sai a ganhar é, sem sombra de dúvidas, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, que há muito luta para recuperar os poderes junto da Polícia Nacional, uma vez que o actual comandante-geral é visto como seu pupilo. Como se não bastasse, o comandante-geral-adjunto, Ferreira Andrade, é primo do ministro. Fontes deste jornal disseram que, na verdade, a primeira opção de Eugénio Laborinho, para o cargo de comandante-geral da Polícia Nacional, era o seu primo Domingos Ferreira Andrade, actual comandante-geral-adjunto para área de formação. No entanto, foi recusado e, por essa razão, ficou a segunda opção, Arnaldo Carlos, que, na ordem das sucessões, não fazia parte, uma vez que por norma seriam Pedro António Kandela e Eduardo Cerqueira, que foram simplesmente ignorados devido aosinteresses do ministro do Interior, o que causa ainda mais tensão no seio daquela corporação. Arnaldo Carlos é tido como um tecnocrata, vem dos gabinetes, tem domínio dos meios policiais, questões sentimentais, nunca foi um comandante operacional como tal e, forma atípica, sai da Direcção do Gabinete de Estudos, Informação e Análise (GEA) e vai para ordem pública. Depois, volta para o GEA e, a seguir, para a província da Huíla, em 2017, onde ficou dois anos, apesar de não ter passado pela base. É cauteloso, conhece a polícia, as artimanhas dos efectivos. É calmo, é chefe, não tem talento de comando de força, mas pode comandar bem se tiver uma forte área de operações. Deve ter um bom chefe de operações, que vai funcionar como coordenador ou pivô na coordenação operacional dos comandantes.
Ministro faz negócios com os filhos
Circulam rumores de que Eugénio Laborinho terá orientado Arnaldo Carlos, actual comandante-geral, para mexer no xadrez ainda este mês, desde os comandantes-gerais-adjuntos aos comandantes provinciais, municipais e ao DIIP. Por exemplo, fala-se que Pedro Kandela vai ser apeado do cargo e, para o seu lugar, entrará o actual comandante provincial de Luanda, Eduardo Cerqueira. “Porém, tudo não passa de rumores sem fundamentos”, garantiu outra fonte deste jornal, que garante que tais rumores só surgiram porque depois da abertura da reunião do Conselho Consultivo da PNA, o ministro do Interior terá reunido com os comandantes provinciais de Benguela, Huíla, Huambo, Bié e Luanda. Mas, ao que parece, os que ficaram de fora da sala pensaram que a reunião se deveu às supostas exonerações, que na verdade nunca se abordou e dificilmente acontecera antes das próximas eleições, porque destabilizaria o bom funcionamento dos comandos. É notório total a submissão que o Comando-Geral, hoje, enfrenta as ambições do ministro do Interior, dando pouco espaço de manobra ao novo comandante-geral. Com o aproximar das eleições, altos negócios estão a fluir no Ministério do Interior, nomeadamente no que concerne ao armamento, viaturas, medicamentos, fardamentos e bens alimentares. São processos que estão a ser liderados pelo ministro do Interior, com apoio dos seus filhos, que têm os escritórios montados em Lisboa para garantir todas as manobras financeiras e é onde o mesmo periodicamente se tem deslocado. Nesta operação, alega-se que o ministro conta com a directora financeira do ministério do Interior, que é uma funcionária sénior do BNA, com quem já trabalhou, na sua passagem, na província de Cabinda. Este jornal promete, nas próximas edições, desenvolver mais este assunto, assim como sobre os resultados de um inquérito realizado nas contas da província de Cabinda, quando Eugénio Laborinho governou, incluindo a situação da logística que, mesmo com aprovação da Assembleia Nacional para passar à PN, este nunca entregou e nesta altura, na Polícia, falta de tudo desde fardas, medicamento e bens alimentares devido à falta de dinheiro
Conflito entre gerações
Outro dossier, que se espera que resolva, é sobre os conflitos geracionais, que existem no seio da polícia. São conflitos que, nos tempos de Ambrósio de Lemos, ex-comandante-geral de quem Arnaldo é fanático, era muito patente, mas que no tempo de Paulo de Almeida foi minimizado. Por isso, assistimos ao crescimento de nomeações e promoções de comandantes provinciais de 35, 40 e 50 anos de idade. Apesar de só ter 58 anos de idade, Arnaldo é visto como bastante conservador e de alma velha. Apesar de ter um doutoramento em Ciência Policial, feito à distancia, é visto como um anti-licenciado em Cência Policial, tal desafecto terá herdado do seu ídolo policial Ambrósio de Lemos.
Na África do Sul, o actual comandante-geral ajudou a polícia portuguesa a capturar um fugitivo da justiça. Arnaldo Manuel Carlos, nas veste de director-geral do Serviço de investigação Criminal (SIC), ficou marcado na polícia portuguesa, porque ajudou aquela polícia a capturar João Rendeiro, um ex- banqueiro português, com mandado de captura internacional por desvio de dinheiro, foragido na África do Sul. Foi ele, quem, segundo revelou Luís Neves, director da Polícia Judiciária portuguesa, “fez a ponte com as autoridades policiais da África do Sul”, que começaram a vigiar os passos de João Rendeiro até o deterem. Os três anos, que fez na direcção do SIC, serviram para estreitar relações entre Angola e Portugal. Arnaldo Carlos esteve em Portugal várias vezes para assinar acordos de colaboração, nomeadamente para crimes contra a saúde pública. Nessa altura, a 30 de Setembro, Arnaldo Manuel Carlos assinou um protocolo com Rui Santos Ivo, presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) para combater crimes que envolvam medicamentos. Nesse mesmo dia, as delegações de Portugal, liderada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e a de Angola, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Téte António, recordaram as várias áreas de cooperação bilateral, como educação, relações diplomáticas e consulares, defesa e segurança, justiça, comércio e indústria e até finanças.
FICHA BIOGRÁFICA
Nome:Arnaldo Manuel Carlos
Data de Nascimento: 04 de Janeiro 1967
Estado Civil: Solteiro
Local de Nascimento: Libolo Província: Cuanza Sul
Data de Ingresso na Coporação: 05 de Maio de 1986 Posto Policial Ôrganico: Comissário-Geral
I. FORMAÇÃO ACADÉMICA
Licenciado em Direito
Doutorado em Ciências Policiais e Criminais
Docente Universitário, lecionando as cadeiras de Direito Processual Penal e Direito Comparado.
II. ACÇÕES FORMATIVAS
• Curso básico de Polícia, feito na Escola de Polícia “Mártires de Kapolo” de 1985 a 1986;
• Curso de Polícia de Segurança Pública, feito no Instituto Superior de Segurança Pública na República Checa, 1988 a 1991;
• Curso de concepção de Operações de Manutenção de Ordem Pública, feito em 2005 na República Francesa;
• Curso de Observador Policial das Nações Unidas, feito no Reino da Espanha em 2006;
• Curso de Formação Pedagógica de Formadores, feito em Portugal;
• Curso de Gestão de Grandes Eventos e de Gestão de Incidentes Tácticos Policiais, feito em Portugal em 2008;
• Participação em vários seminários e reuniões de nível internacional, realizados no País e no exterior.
III. FUNÇÕES EXERCIDAS
• Oficial de Planificação, de 1986 a 1991;
• Chefe do Sector de Planificação e Controlo, em 1993;
• Chefe do Departamento de Organização e Controlo, em 2005;
• Director Nacional Adjunto de Ordem Pública, em 2010;
• Director do Gabinete de Estudos, Informação e Análise da Polícia Nacional, em 2015.
• Comandante Provincial da Polícia Nacional e Delegado do MININT Huíla 2016/2019
•Director Geral do Serviço de Investigação Criminal de 2019/2022