Dentre os vários crimes no bairro “Tempo Muda”: MARGINAIS CORTAM PÉNIS DE CRIANÇA E COLOCAM EM SUA BOCA
Assassinatos, roubos, assaltos à mão armada e arrombamentos de casa, onde se retiram as portas e janelas, são dos crimes mais comuns a acontecer naquele bairro do distrito urbano da Baia, em Viana. Os marginais assumiram as rédeas e ditam o horário de entrada e saída.
Por: Jaime Tabo
Cerca de quarenta quilómetros de estrada foram percorridos pela equipa deste Jornal até ao local de onde nos chegam denúncias sobre o crescimento assustador da criminalidade, em que, quase sempre, há mortes após o crime de roubo, ou simplesmente, latrocínio.
Na rua da Administração do Mercado do Quilómetro 30, caminhávamos apeadamente. Durante a marcha, imagens de armazéns inoperantes, alguns vandalizados, sem os portões e outros sem a cobertura, precediam o nosso destino. O alto capim, com que nos deparamos ao longo da caminhada, indicava uma zona inabitada, onde o silêncio e a difícil movimentação de pessoas criam um clima favorável ao crime.
O sol já se afastava, quando o relógio marcava 16 horas, pontualmente, momento em que a equipa se entrava no local que está longe do radar da única esquadra policial no distrito. De primeira, uma festa de rua, pessoas dançando e divertindo-se. No entanto, mais adiante, os rostos preocupados de alguns moradores exibiam, claramente, o sentimento de insegurança instalado nos seus corações.
“Aqui, não nos sentimos seguros, os assaltos a residências tendem a aumentar nos últimos dias. O bairro está muito perigoso, devido aos jovens meliantes, que vêm de outros municípios, principalmente do Cazenga”, queixou-se, de primeira, a moradora Edvânia Peliganga.
“Em casas, em que os moradores se ausentam, os marginais arrancam as portas, janelas e, por vezes, o teto”, acrescentou a jovem, ao citar, como exemplo, o caso de uma cidadã que faleceu há pouco mais de um mês, pelo que, tendo a casa ficado inabitada, numa madrugada, os ladrões arrancaram as portas e, com uma viatura carrinha, levaram os bens que estavam no interior.
No mais, contou-nos que, na manhã do dia 17 de Outubro, os populares acordaram com nuvens negras, pois pessoas foram mortas de diferentes maneiras na circunscrição. “Um menino, aparentemente, com idade inferior a 10 anos, foi encontrado sem vida num tanque de água, tendo sido removido por bombeiros”. Além desse caso, no mesmo dia, Edvânia conta que um jovem foi morto, alegadamente por marginais. Porém, refere que a Polícia abateu, durante uma operação, um dos muitos malfeitores da localidade.
Gelson Francisco, outro morador, conta, a horripilante história de uma criança ter visto o seu pénis a ser cortado e colocado na boca, o que o deixa muito preocupado, apesar de, após o sucedido, o SIC ter feito patrulha, durante o dia, em busca dos culpados”, garantiu.
Outro caso, conta-nos, deu-se “ao irmos jogar a bola no campo, deparamo-nos com dois jovens caídos ao chão, os dois sem vida, um foi-lhe cortado o braço e o outro aparentava ter sido esfaqueado. Todos esses factos acontecem na calada da noite e ninguém sabe quem está a fazer tais coisas”, lamentou.
Francisco relata, também, que há uma semana, uma senhora foi espancada por delinquentes, que cortaram a fita da sua roupa interior, onde se encontrou o dinheiro que escondia dos amigos do alheio e, seguidamente, foi violada.
O morador acrescenta. “Uma vizinha estava a construir o seu quintal, colocou os pilares no chão, para levantar a parede, mas, de madrugada, os gatunos cortaram e levaram os ferros. Pela manhã, nada mais se viu, nem sequer rastos”, disse.
Não se sai de casa depois das 19 horas
Entretanto, os populares, desgastados com tantos factos, informam que têm matado marginais, queimando-os a meio de pneus, quando são apanhados, fazendo, assim, justiça por mãos próprias, pois, a Polícia é inerte.
No local, os residentes afirmam ter havido cenas de assaltos em residências com recurso à arma de fogo. “Eles entram no interior das casas, espancam os moradores, violam as meninas, e por fim, levam os bens de seu interesse”.
Ao falarem sobre uma zona conhecida como baixeira, os moradores alertam que, ali, não se deve passar depois das 22 horas, pois, por vezes, se ouve tiros de lá, alegadamente, feitos por saqueadores, que torturam e matam pessoas.
“As coisas que já vi e ouvi sobre este bairro atormentam e assustam-me”, disse uma residente que preferiu o anonimato. “Chegar são e salvo em casa, das 21 horas acima, não é uma questão de segurança, mas de sorte”, acrescentou.
De acordo com os populares, um adolescente, apelidado de Cavera, tem retirado a paz de muita gente na localidade. “Cavera é gatuno, ele rouba das pessoas aqui no bairro”, denunciam. Entretanto, “De roubar” e “De Entrar” são apelidos de outros comparsas do crime.
As pessoas, principalmente comerciantes, ao voltarem para as suas residências, no final do dia, são assaltadas. Para Ruth Afonso, o bairro parece ter portas que são encerradas pelos marginais entre as 19 ou 20 horas. Após esse período, quem ousar entrar ou sair, a menos que os marginais estejam a dormir, é assaltado e pode mesmo vir a ser morto. Às 4 horas da manhã, o bairro continua fechado, quem forçar sair, corre os mesmos riscos, pelo que, só ao clarear é que se aconselha as pessoas a circularem.
No final dessa reportagem, os moradores confessaram que sonham com um bairro onde os marginais estejam todos presos, com uma esquadra ao redor, relembrando que a única que sustenta o distrito é bastante insuficiente para garantir segurança à população, como se tem visto.
Em busca de um esclarecimento da Polícia Nacional sobre a situação naquele distrito, fomos recebidos pelo comandante, Luís Augusto Jones, que até se mostrou disponível para falar, mas, que se viu impedido por conta de uma nova ordem do Comando Provincial, segundo a qual, não devem prestar qualquer esclarecimento à imprensa, sem a anuência do porta-voz do Comando Provincial de Luanda, Nestor Goubel, com quem tentamos o contacto, mas sem sucesso.