Um suposto agente da Polícia Nacional está a ser alvo de denúncia de furto de uma motorizada, perpetrado no passado dia 22 de Abril, no bairro Mártires do Kifangondo, Luanda, pertença do mototaxista Fernando Pinto Cunga.
Jaime Tabo
Omototaxista, também conhecido por Beija, trabalhava na rua das Routoles, Kapalanga, em Viana, quando um transeunte, que trajava a farda da Polícia, solicitou o seu serviço, para que fosse tranportado até à 45.ª Esquadra.
Durante o percurso, conta, o seu cliente falava ao telefone, supostamente com um superior hierárquico, justificando o seu atraso. No entanto, ao que pareceu, recebia orientações para que chegasse o mais breve possível, porque tinha uma missão por cumprir.
Naquela unidade, o pretenso agente entrou sozinho, pedindo ao motoqueiro que o aguardasse fora. Minutos depois, voltou e negociou o custo do serviço de ida e volta, da 45.ª Esquadra à Clínica do Exército, no bairro Mártires do Kifangondo. AKZ 4.000,00 (quatro mil kwanzas) foi o valor acordado entre as partes. Após isso, rumaram para o destino.
Entretanto, recorda, durante a viagem, no viaduto frente ao Catetão, sob pretexto de haver operação policial, e pelo facto de o motoqueiro estar apenas em posse dos documentos da motorizada e um capacete, o passageiro sugeriu ser mais fácil ele, enquanto agente da Polícia, conduzir sem capacete, por conta dos seus colegas. Fernando aceitou a sugestão e, assim, trocaram as posições.
No destino, o presumível agente entrou para a Clínica, deixando, por muito tempo, o proprietário do meio no exterior. “O tempo de espera era elevado”, disse, por isso, “para destrair-me enquanto o tempo passava, deixei a moto a uma distância que permitisse avistá-la”.
Entretanto, o cidadão desconfia que o seu cliente acompanhou a sua trajectória, pois, poucos minutos depois da sua ausência, subiu rapidamente na motorizada e dirigiu-se para destino incerto. “Eu vi ele a partir, pedi ajuda aos militares, corri até à Ho Chi Minh, mas ninguém prestou auxílio”, lamentou.
A motorizada é nova, mas a ignição está danificada, por isso, a ligação faz-se directamente, pelo que, suspeita, é provável que perecebeu a forma de ligação quando pararam num posto de abastecimento para acrescentar combustível, quando Beija teve de dar o arranque à motorizada.
Na 45.ª Esquadra, foi informado que o presumível agente não era daquela unidade, sob argumento de que os efectivos daí não trabalham com farda especial, podendo ser um falso polícia, o que fica apenas nas suposições, pois, não existem câmaras de vigilância no local.
Mas Fernando Cunga explica que o seu cliente estava ataviado como um polícia, da cabeça aos pés, com patentes de agente de primeira classe. Nesse momento, o cidadão pede ao CISP que identifique o suspeito, por meio das suas câmaras ao longo da Avenida Deolinda Rodrigues.
Este jornal envidou esforços para contactar o comandante daquela esquadra policial, por ser o primeiro local onde o suposto agente entrou, no entanto, por força de agenda, não foi possível ouvirmos aquele responsável.
Entretanto, fontes desse jornal na 45.ª Esquadra revelam ser o segundo caso em que um cidadão diz ser vítima de furto perpetrado por um suposto agente da Polícia Nacional. Por outro lado, apresentam a impossibilidade de o agente ser efectivo daquela esquadra, pois, ali existem menos de cinco agentes de primeira classe.
Mototaxistas no Kapalanga
DENUNCIAM AGENTES DA ORDEM POR COBRANÇA INDEVIDA DE DINHEIRO
Dezenas de mototaxistas, no distrito urbano do Kapalanga, em Viana, denunciaram, no passado dia 10, agentes da Polícia Nacional de Angola afectos à 45.ª Esquadra, de exercerem cobranças indevidas e coercivas de quantias monetárias a eles, durante o exercício das suas funções.
Jaime Tabo
Os documentos que comprovam a titularidade da motorizada, licença e carta de condução de nada servem, quando aqueles são interpelados, se não tiverem alguma “gasosa”.
Agastados com a situação, os motoqueiros revelam que, na maioria das vezes, desconhecem as razões pelas quais os seus meios são apreendidos. “Quando param, os polícias dizem-nos para organizar uma água para o chefe, que pode ser 500 (quinhentos) ou AKZ 1000 (mil kwanzas).
Em caso de o dinheiro solicitado não for entregue, mesmo desconhecendo a causa, o meio é levado à esquadra, onde o valor para a restituição é maior. Nessa conformidade, enquanto o proprietário reúne as condições, a motorizada é tranferida para o parque da Polícia, no Quilómetro 30, Viana. “Isso ocorre muitas vezes, mesmo com a documentação correcta”, referem.
Como agravante, depois de paga a multa, não raras vezes, a motorizada desaparece. “Geralmente, as nossas motos são dos polícias, porque, se apreendem, corre-se o risco de desaparecer”, afirmam, acrescentando que “quando não temos dinheiro, revistam os nossos bolsos e recebem os telemóveis. Estamos cansados!”.
Malaquias Bernardo, mototaxista há 3 anos, revelou que, um dia antes dessa reportagem, foi interpelado por um agente que lhe pediu AKZ 2.000,00 (dois mil kwanzas) em troca de não apreender o meio. Não dispondo do valor naquele momento, sem explicar as razões, o efectivo recebeu a moto e fez uma passeata das 7 às 9 horas, momento em que o jovem “largou” AKZ 500.
“Não sabemos se vamos trabalhar com os documetos ou com o dinheiro, porque, mesmo com documentos, se não tivermos dinheiro, somos apreendidos, por isso, quando começamos o trabalho, devemos ter dois a três mil kwanzas para os polícias”, disseram, acrescentando que agressões físicas, como chapadas no rosto, e ofensas morais, são actos que fazem parte do dia-a-dia daqueles jovens que, maioritariamente, vêm da região sul do país em busca de melhores condições de vida na capital.
O comandante da 45.ª Esquadra, intendente Júlio Gomes, confessou estar alheio destes comportamentos dos agentes que controla. No entanto, apela aos mototaxistas a denunciarem todos actos de injustiça cometidos pelos efectivos daquela esquadra, para que sejam tomadas as devidas medidas disciplinares ou a responsabilização criminal.
O comandante refere, ainda, que nunca recebeu reclamação de qualquer mototaxista daquela zona. “Se notam algum comportamento indecoroso dos agentes, eles devem ir à esquadra falar comigo, para aferirmos a veracidade da informação”, apelou, explicando que todas as informações relevantes devem chegar até à esquadra.
Sobre os maltratos que sofrem, Júlio Gomes diz não entender como é possivel alguém ser submetido a essas condições e continuar calado, pelo que, “devem denunciar”. No final, ficou a promessa de apurar as informações, para tomar a melhor decisão.