Caso JES: Os negociadores de Barcelona

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Os interesses das partes que estão em Barcelona a negociar a tutela do corpo de JES divergem redondamente, uma das partes luta pela dignidade da imagem do que é seu e a outra, pela imagem política do seu chefe. Enquanto decorrem as negociações, uma das partes está a ferir a honra da outra usando os media que estão sob o seu controlo para combater e insinuar que a outra é “maluca”, que são insensíveis, “vão assistir a desfile de moda em pleno óbito”, irritam com exposições e descobertas de supostos filhos não assumidos pelo malogrado, etc.

José Gama

Não há como haver consenso e confiança, negociando à frente, mas por detrás apunhalar. É semelhante às negociações de paz entre o governo de Moçambique e a RENAMO, em 1992, em Roma. Uma das primeiras exigências da RENAMO era que, daquele período em diante, a FRELIMO deixasse de tratá-la por “bando de bandidos armados” nos seus comunicados. A FRELIMO respeitou e ambos assinaram o calar das armas.

No caso de Barcelona, porém, está difícil fazer com que a fórmula moçambicana resulte. A parte que insulta tem dificuldades em perceber que é a que mais precisa e, portanto, deveria ser mais humilde.

Em linguagem popular, pode-se já dizer que “as miúdas têm a vitória eleitoral do chefe nas mãos”. Sem o corpo do antigo líder em Luanda, e com a manipulação ou não dos resultados, ficará complicado o partido do novo líder apresentar-se, depois de 24 de Agosto, com resultados superiores aos das eleições de 2017.

As pessoas vão desconfiar e questionar: se com a popularidade alta, em 2017, o actual chefe de Estado teve 61% dos votos, quanto terá ou ganhará agora que tem baixa popularidade?

O lógico será ter resultados baixos. O quadro é mais complexo, que nem a INDRA saberá vender uma solução ao ponto de fazer com que mais ninguém depois questione, a menos que não se dê importância no que se vai dizer e mantenham o general Furtado a pregar ameaças e belicismo.

Se o problema da luta de corpo fosse nas hostes do partido da Jamba, tudo seria mais fácil, bastaria mandar os analistas à TV para dizerem que a “oposição perdeu votos, porque não conseguiu enterrar o corpo do líder arquitecto e que foram os seus próprios militantes que os penalizaram”, ou então tais analistas diriam que “ perderam, porque não conseguiram fazer campanha eleitoral, pois estavam em óbito e que, enquanto os outros trabalhavam, eles não se entendiam sobre o destino do corpo do falecido líder maltratado”.

É caso para dizer que as “miúdas” não só têm a vitória eleitoral do chefe nas mãos, mas também têm o futuro político do chefe com elas. Os negociadores, em Barcelona, terão de ser humildes e terão de entender que não se negocia hostilizando. Para o chefe, é caso de vida ou morte ou de segurança nacional. O chefe vai precisar de usar todas as armas a seu alcance para não ser o coveiro do partido. Há que haver serenidade dos dois lados.

O chefe está a ser desrespeitado publicamente. Há vídeos de vendedoras de ruas acusando-o de ter morto o “seu” Zedu. O chefe merece ser respeitado por todos e, inclusive, pelas “negociadoras” de Barcelona. O chefe deve ser respeitado e fazer-se respeitar, respeitando as instituições do Estado, a

Constituição e a vontade da família do malogrado.

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