‘CARANGUEJO’ PROVOCA MAREMOTO LUS-SA-TY
Da noite para o dia, o país recebe a apresentação de um major que não esconde o dinheiro pelas cuecas, mas em malas, que dariam de comer casas que nada têm. Ao contrário de outras paragens com sangue nas veias, o que se observa é uma inusitada calmaria e um esforço para se manter a fé, enquanto analistas ancorados em experiências de países democráticos apostaram no caos político, ao contrário dessa pasmaceira, onde o gozo se confunde com a dor; a revolta se esconde nos rabiscos e sob a sombra o tronco na ameaça da chibatada… A desesperança reina, sobretudo cresce, e é a única que compete, em ampliação, com o roubo do erário, a corrupção e a impunidade.
Liberato Furtado
No sábado e domingo, 22 e 23 de Maio de 2021, a informação que predomina nas redes sociais e nas conversas pessoais é sobre a apreensão de dinheiro e outros que o Serviço de Investigação Criminal(?) e o Serviço de Inteligência e Segurança do Estado fizeram, em posse do major Pedro Lussaty, oficial das Forças Armadas Angolanas, afecto à Casa de Segurança do Presidente da República.
Aos quatro ventos, diz-se que o indiciado por peculato, entre outros crimes, tem 45 imóveis, dos quais, cinco apartamentos em Lisboa, uma penthouse no Talatona, um desfile de vivendas pelos melhores condomínios da capital angolana e um apartamento na Namíbia.
Ao homem forte das finanças da banda musical da Casa de Segurança do PR, major Pedro Lussaty, é atribuída também a titularidade de dois iates de luxo, assim como a posse de 19 malas, em casa, com somas no valor de dez milhões de USD, 700 mil Euros e 800 milhões de kwanzas.
Com Pedro Lussaty também foram encontradas duas dezenas de relógios de luxo, revestidos de diamantes e ouro rosa, 15 carros top de gama, um dos quais, a luxurious Lexus, equipado com um bar e cadeiras reclináveis e, pasme, comprovativos de transferência bancária para o exterior no valor de um bilhão de USD.
Em “reportagem-publicidade” televisiva, se confirma os rumores da ladroagem e se mostra que tinha o selo do Banco Nacional de Angola, levando ao juízo de que o BNA, nesse “comboio dos ladrões”, não será a imagem do menino de coro evangélico.
O dia 27 de Maio, de triste memória para Angola, neste ano (2021), testemunhou o interrogatório de Pedro Lussaty, horas a fio e, de supetão, o seu primo. Do primo, não vá o diabo tecê-las, não estará o abre-te sésamo do caso e, ao que consta, deve-se o seu interrogatório ao facto de terem estado em comunhão de habitação. De todo o modo, lembra o adágio espanhol, “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.
Pedro Lussaty está a ser defendido pelo escritório de David Mendes, se livrando, à partida, dos colossos da advocacia e convidados assíduos nesse género de pleito. Por falta de dinheiro não será, garantidamente!
Como se desenrolava o crime…
Proliferadas várias versões, porque a informação não fluiu a contento e o circuito se mostrou fechado, chegou-nos, também, esta que reúne mais sentido e confirmações das fontes afins, da bófia e da Casa de Segurança do Presidente da República.
O dinheiro encontrado em posse de Pedro Lussaty, à rapina, é, precipuamente, fruto de um lote desviado durante o transporte, alegadamente, a caminho dos cofres do Banco Nacional de Angola (BNA), em que Pedro Lussaty era o coringa do jogo em que os jogadores se dedicavam ao desvio de dinheiros entre o Aeroporto e o BNA, sendo que tais valores nunca deram entrada àquela instituição.
De acordo com as fontes, o facto de a segurança do BNA, na ocasião, estar a ser garantida por uma Unidade da Guarda Presidencial, o grupelho apostou no comando de Pedro Lussaty que, à partida, podia navegar nos meandros, como peixinho n’água, sem contratempos.
As nossas fontes, que condicionaram com o anonimato, afiançaram-nos que a teia é constituída por figuras de destaque da Casa de Segurança do Presidente da República e do BNA, além da arraia-miúda, entre elas, amásias. Diante de pasmo total e consequente quietação, ledo engano será em acreditar-se que, de tão embriagado que se esteja, Angola, uma vez mais, acredite em narrativa semelhante ao conto do vigário.
Comunicado da PGR
O comunicado da PGR antecedeu a “publi-reportagem” da TPA e nem pelos lindos olhos da eventual boa intenção se conseguiu reportar com objectividade que se requer em “quizango” de tal monta.
A impressão com que se ficou foi de que, sob régua, se tentou incutir que os factos da ‘operação caranguejo’ remontam de alguns anos, entenda-se era JES, mesmo com a apresentação das novas notas de kwanza que entraram em circulação no dia 30 de Julho de 2020.
À guisa, a TPA, no seu trabalho, também fez menção nos termos, ou seja, disse que o roteiro da operação já tem passado histórico (passe o termo)… Nesse rol, o que salta à vista é que, com muita constância, se olvida, na vã tentativa de se exercer o poder, que não se deve subestimar a inteligência dos desgovernados. Perdão, queríamos dizer governados!
Da PGR esperava-se a objectividade que norteia um processo judicial e a responsabilidade do fiscalizador da legalidade, que não se compadece com qualquer ou eventual rudimentar explicação, num assunto que lesa a pátria. Não se surpreenda que alguns titulem isso como verdade omissa, que subentende falta de compromisso com a verdade. Embora não sejamos necessariamente apologista…
BNA
Salve-se quem puder
Em comunicado disseminado pelos órgãos de Comunicação Social públicos, a 26 de Maio, quarta-feira, o BNA sustenta que os volumes de notas com selos do Banco Nacional de Angola, apreendidos no quadro da ‘Operação Caranguejo’ têm a proveniência num banco comercial. O conteúdo e as mãos enluvadas com que manusearam a (des)informação levaram a entender que começou o “salve-se quem puder”.
“Parece patológica essa propensão em nos chamarem de néscios!”, “espumou” alguém que, ao meu lado estava e leu o conteúdo do comunicado do BNA, enquanto dizia o outro, “ainda que mal lhe pergunte”, seria criminosa a comunicação que constasse o nome da instituição bancária comercial? E já a fio de prumo: será a mesma instituição comercial bancária que consumou a transferência bancária de um bilião de dólares americanos para o exterior? Sendo, qual é o papel do BNA e da Unidade de Informação Financeira (U.I.F.) que não teriam tido a capacidade à altura das suas atribuições?!
Repare que o BNA se rege nos seguintes termos:
Missão: Assegurar a estabilidade de preços e a solidez do sistema financeiro;
Visão: Ser um banco central credível e competente no cumprimento estrito da
sua missão institucional;
Valores:
Espírito de Equipa: os colaboradores do BNA trabalham em conjunto/unidos para um objectivo comum e partilham conhecimento com lealdade e transparência; Transparência: os colaboradores do BNA trabalham no respeito das suas obrigações, prestam contas ao Governo e à sociedade, sem adulterar a verdade; Integridade: os colaboradores do BNA demostram a capacidade de ser incorruptíveis no exercício da sua função; Competência: os colaboradores do BNA demonstram capacidade/habilidade de agregar valor na resolução de determinados assuntos ou tarefas que recaiam dentro ou fora do seu âmbito de actuação; Atitude: os colaboradores do BNA demonstram capacidade de adaptar-se e reagir perante cenários de mudança.
Agora, atenção à nobreza dos termos da UIF:
Missão: Contribuir para a estabilidade, confiança, organização do sistema financeiro e não financeiro, e proteger Angola contra o risco de Branqueamento de Capitais e Financiamento do Terrorismo e proliferação.
Visão: Tornar-se um centro de excelência, fornecedor de inteligência de alta qualidade e reforçar a cooperação nacional, regional e internacional na luta contra o Branqueamento de Capitais e o Financiamento do terrorismo.
Escalpelizar aqui tais valores que sustentam o edifício BNA versus UIF, além de fastidioso, teríamos muito para rir por se concluir anedótico o comunicado ou o que se alude como valores diante da realidade objectiva.
É que, o Governador do BNA, José Massano Júnior, quando idealizou que com o comunicado fugia o c.. à seringa, apenas salpicou o mal pelas aldeias, pois a chuva é tanta que as poças de água se instalaram em seus domínios e o lamaçal não deixou de respingar em “padres, bispos e cardeias”.
Para José Massano Júnior, ressalvada a presunção de inocência, a consequência óbvia e, no mínimo, por brio intelectual e profissional, para não nos socorrermos à lei, seria a de apresentação de demissão. Algo que não constará no dicionário cá da praça, porém, se cobra tento. Não fosse JLO o exímio jogador de xadrez, como dizem os que o conhecem, de todo o modo, cabeças estarão a prémio!
Banco Nacional de Angola segurança armada
A segurança do BNA era constituída por elementos da Unidade de Segurança Presidencial desde 2008, segundo nossas fontes. Os homens que faziam aquele asseguramento ao BNA, sob mais que suspeição de alegada participação no repasto, foram imediatamente substituídos por agentes do SIC em regime provisório. Não será sintomático?
Não se descarta a proposta de, doravante, ser uma força do SINSE a garantir a protecção do consulado do BNA. Entretanto, pela procissão, não é necessário ser Nostradamus para, antecipadamente, ler o desfecho que arreganha.