GENERAL LUDY KISSASSUNDA ACUSADO DE EXPROPRIAÇÃO DE TERRENOS

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Um grupo de camponeses, que reclama a titularidade de uma parcela de terra de pouco mais de 500 hectares, no bairro Vitrona, nas imediações da Barra do Kwanza, em Luanda, acusa o general Ludy Kissassunda, o seu filho, Simeão Kissassunda, administrador da Barra do Cuanza, e um arquitecto, apenas identificado por Sr. Boa, de estarem por detrás de um esquema fraudulento de expropriação de terrenos.

João Feliciano

De acordo com Orlando Emanuel Quissaqui, neto de um dos camponeses, já falecido explicou ao ‘O Crime’ que o esquema para surripiar o terreno começou no recuado ano de 2011 e veio em forma de oferta de bens e serviços da parte do general Ludy Kissassunda.

Segundo ele, para melhor atrair as suas vítimas, o general “vestiu-se de cordeiro”, escondendo o “lobo por debaixo da capa”,  para apresentar e persuadir os camponeses a lhe cederem um espaço, com vista a construção de infra-estruturas como escolas, postos médicos e outros serviços que, futuramente, beneficiariam, também, a eles e suas famílias.

Apresentado que estava o plano de edificação, disse Orlando Quissaqui, de 35 anos, os camponeses maravilharam-se com a imponência do projecto e convenceram-se de que aquele era o melhor caminho a ser tomado, desconhecendo, no entanto, as verdadeiras intenções por detrás daquele “majestoso plano”.

“Eles aceitaram e cederam uma grande porção do espaço ao general Kissassunda”, afirmou o jovem, sublinhado que o terreno em questão era pertença dos seus avós e de outros camponeses desde antes da Independência Nacional.

O terreno, que está localizado no bairro Vitrona, a subir a centralidade do Kilamba, nas imediações da Barra do Kwanza, segundo Orlando, estava inicialmente repartido em 10 hectares para cada camponês, no entanto, hoje são obrigados a contentar-se com qualquer coisa como 200/60 metros quadrados, pouco menos de 2 hectares.

“Estes terrenos foram passando de geração em geração. Estavam, inicialmente, com os meus avós, depois do falecimento deles, a minha mãe herdou o espaço e, agora que está velha e doente, nós, os filhos, é que estamos a gerir”, explicou.

Por outro lado, revelou, depois de alguns anos sem que o projecto proposto pelo general Ludy Kissassunda fosse colocado em prática, os camponeses começaram a levantar suspeições sobre os seus intentos e decidiram reivindicar a titularidade das suas terras, tendo, daí, começado a disputa.

“O senhor Ludy Kissassunda, enquanto general, foi dando voltas e mais voltas aos camponeses, que, por fim, viram-se obrigados a escrever um documento para a então administradora municipal do Kilamba Kiaxi, a senhora Joana Quintas, a participar o assunto”, lembrou, para depois dizer que, em sede da administração, o general concordou em passar um documento, devolvendo parte do terreno aos camponeses.

Ademais, disse serem possuidores de toda documentação que atesta que eles, os camponeses, são os legítimos proprietários do referido espaço, com excepção do direito de superfície, “porque, na altura, quando fomos tratar este documento, o senhor Ludy passou por trás de nós e foi criando uma série de impedimentos com vista a frustrar as nossas intenções”.

“Como ele é quem, portanto, pode fazer as coisas como bem entender, e nós, os pobres, infelizmente, não conseguimos”, prosseguiu, explicando que, dos mais de 500 hectares de terra, pertencentes aos camponeses, grande parte desta ficou com o general Ludy, que conta com a conivência do seu filho, Simeão João Lopes Kissassunda, administrador da Barra do Cuanza, tendo nele construído uma fazenda.

“Fomos obrigados a concordar com o acordo que ele propôs, já que ele é general e víamos que não teríamos chances nenhuma contra ele, tendo em conta a forma como ele resolvia o caso”, notou Orlando.

Para além do filho, denuncia, o general Kissassunda conta também com a colaboração de um cidadão, apenas identificado por Sr. Boa, um arqueitecto a quem o general confiou a responsabilidade de talionar os terrenos. Como contrapartida pela sua participação no negócio, explicou, do espaço que o general havia cedido aos camponeses, foram extraídas duas partes, sendo uma para o referido arquitecto e outra para a administração. “Este arquitecto vendeu a parte que lhe tinham sido cedida, e agora está a vender, também, a parte dos camponeses, o que nos deixou novamente revoltados, fomos à administração, mas eles nunca aparecem”, contou.

Aliás, disse, em certas ocasiões, valendo-se pelo seu status, o general Ludy Kissassunda mandava-os prender, sempre que fossem reclamar a titularidade.a titularidade. “Hoje ele é o dono de quase todo o bairro Vitrona, onde tem uma fazenda e, mesmo assim, não se sente satisfeito. Agora que foi nomeado como o administrador da Barra do Kwanza, está a fazer novamente confusão com os camponeses, para receber o pouco espaço que lhes sobrou”.

Outrossim, disse que têm marcado um encontro com o general e seus pares, na Administração do Patriota, mas que receiam que venham, novamente, a ser presos, à semelhança do que aconteceu em outras ocasiões. “Ele é o administrador da Barra do Kwanza, é general e, normalmente, usa as forças da Polícia Nacional e das FAA para nos reprimir. Nós não queremos mais marimbondagens e viemos participar este assunto na imprensa, para que se possa travar estas acções”, apelou, para depois dizer que a decisão de recorrer à imprensa é uma forma de chamar, também, a atenção do Presidente da República.

Filho do general diz desconhecer o caso

Em contacto, via telefone, mantido com o filho do general Ludy Kissassunda, Simeão João Lopes Kissassunda, este começou por dizer que desconhecia o caso em questão, e que tampouco conhecia o denunciante. Todavia, à medida que a conversa fluía, o mesmo revelou-se a par da situação, tendo, inclusive, referido que este é um caso já “prescrito”, dada a sua longevidade.

Por outro lado, questionou à nossa reportagem se o denunciante havia apresentado documentos que confirmam a titularidade do referido terreno e se eram documentos legíveis e passados pela administração. Ademais, sugeriu que lhe fosse fornecido o terminal telefónico do denunciante, o que não aconteceu. Posteriormente, referido que antes de o mesmo procurar a imprensa para participar o caso, deveria tê-los telefonado para, em fórum próprio, resolverem a questão.

No entanto, garantiu fornecer os nossos terminais telefónicos ao seu mandatário, para que, com aquele, pudéssemos ter mais e melhores informações sobre o assunto em questão. Questionado se tal pudesse vir a acontecer até antes do fecho da presente edição, Simeão Kissassunda descartou esta possibilidade, adiantando, apenas, que em tempo próprio entrariam em contacto com o jornal O Crime.

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