Embaixador da Guiné Equatorial em Angola: ACUSADO DE INFERNIZAR A VIDA DE SUA TRABALHADORA POR ESTA RESISTIR A ASSÉDIO
Marcos Mba Ondo Andeme, 69 anos, vem acusado, pela sua então cozinheira, Carolina Afonso, de assediá-la e, consequentemente, expulsá-la, por nunca ter cedido aos intentos de que se vê vítima nos últimos vinte meses.
Por: Jaime Tabo
No dia 4 de Julho de 2016, Carolina Afonso dava início aos serviços na residência do embaixador, como cozinheira. Contratada pela governanta, durante um mês foi provada e aprovada pela embaixatriz. Desta forma, com a promessa de subida salarial, passou a auferir o equivalente, em kwanzas, a 700 dólares dos Estados Unidos (USD).
Por dois anos, tudo corria na maior normalidade. Em 2018, quando, depois de uma viagem com a família, o embaixador volta sozinho ao solo angolano. Agora, sem a esposa e os filhos, o diplomata propõe que uma, das suas três trabalhadoras, passasse a dormir em sua residência.
Para esse fim, a governanta se predispôs. Porém, a ideia não foi considerada e Marcos Andeme expressou o desejo de ter Carolina Afonso a coabitar consigo. “Eu não posso viver com o chefe, porque tenho marido”, foi assim que Carolina, subtilmente, rejeitou a proposta, longe de que estava a dar início ao seu calvário. “Desde aquele dia, o trabalho passou a ser um peso”, lembra.
Começou-se, conta ela, uma investida de maltratos morais de muitas maneiras, para que recuasse na sua decisão. No entanto, com a cruz pesada que carregava, viu-se obrigada a acordar com o embaixador que a sua estada na residência passaria a ser até às 20 horas, 4 horas a mais do costume.
Em pouco tempo no novo regime, certo dia, diz, pelas 19 horas, “o embaixador convida-me para irmos a um restaurante, na Ilha de Luanda, alegadamente, com o fim de ver uma sopa que gostou”, disse, acrescentando que, no local, apercebeu-se de que a referida iguaria era igual a que tem confeccionado sempre. “Achei estranha a saída”, confessou.
Na ocasião, convidada a jantar, negou, por estar a cumprir dieta. Assim, aproveitando-se da deixa, o embaixador profere palavras excitantes para ela, como quem pretende fazer um convite para manter relações sexuais. Carolina despista da intenção com palavras como “tu és meu chefe e não podes falar-me isso”.
Descontente com a resposta, o diplomata destrata-a publicamente e, passado cerca de duas horas no espaço, decide deixá-la junto do Prenda, para pegar o táxi para o Rocha Pinto, sua residência, acrescentando-a mais 100 kwanzas.
E a cena continuava… houve dias, avança a nossa interlocutora, em que o chefe a abraçava, sem o seu consentimento. Segundo conta, pedia sempre que tirasse as mãos de si.
Certa vez, relembra, uma das colegas deixou a janela do quarto aberta e o diplomata a chamou para fechar. No entanto, enquanto fechava, “pôs-se no meio da porta, estreitando a saída, para que o meu corpo se unisse ao dele”. Por sorte, disse suspirando, conseguiu livrar-se.
Carolina confessa que o diplomata chegou mesmo a ser frontal: “já que não queres ficar aqui, solicita uma mulher para mim, eu preciso de uma mulher que fique aqui por algum tempo”. Com esse pronunciamento, esta cozinheira de profissão diz que teve maior luz das reais intenções de seu chefe para com ela e, cumprindo com o que este mandou, buscou uma amiga solteira. “Sei que não é certo, mas tive de fazer”.
“Aquele senhor é diabo, não devias ter dado o meu número a ele”, disse a amiga da Carolina, depois do primeiro e único encontro com o embaixador. “No regresso, deixou-me numa rua qualquer, na Samba, e deu-me 300 kwanzas para o táxi, não sei como suportas trabalhar com aquele senhor!”, reproduziu as palavras.
Falhada a intenção com a amiga, o diplomata retoma as mesmas práticas com a cozinheira. “Até agora não queres ficar aqui comigo? Eu vou ajudar-te”, prometeu, ao que, mais uma vez, Carolina nega a proposta do embaixador que, depois, asseverou “assim não vai dar, eu preciso de alguém para mim aqui, assim você vai sair e vou pôr outra pessoa no teu lugar”.
Palavras só não bastaram para tentar convencê-la… Marcos Andeme a levou a um supermercado, onde lhe ofereceu a oportunidade de comprar qualquer coisa por sua conta. Casos desta natureza foram recorrentes, porém, Carolina, de 41 anos, diz nunca ter cedido a todos os actos de assédios, e, assim, o embaixador passou a sentir-se rejeitado por ela e deu início a uma busca por argumentos, com o intento de expulsá-la.
Embaixador forja razões para despedi-la
Segundo Carolina Afonso, o embaixador começou a acusá-la de estar a cheirar mal, pelo que, começou a questionar-se “como é possível trabalhar três anos e oito meses com alguém que cheira mal? Como pode desejar alguém que cheira mal”?
Foi assim que, certa vez, o embaixador chamou a governanta e disse que, em breve, despediria a cozinheira, sob aquele pretexto. Carolina, entretanto, nega a acusação de seu chefe e explica que, por vezes, transpirava, devido à alta temperatura que se instalava na cozinha, que é muito baixa e já chegara a lhe causar a subida da pressão arterial.
Nesta senda, por algum tempo, o embaixador deixou de providenciar dinheiro para a compra de certos ingredientes, tudo para se sentir a falta no sabor da comida. “Cheguei a usar o meu dinheiro de táxi, para que a comida saísse perfeita e preservasse o meu emprego”, revelou.
Além daquela acusação, o embaixador criou outros argumentos que, na visão de Carolina, são descabidos, pois, depois de muitos anos a degustar da alimentação confeccionada por uma cozinheira de que gostava de ter por perto, começou a propalar que esta não sabe cozinhar e que não precisava mais de cozinheira. Quando questionou sobre a conservação do emprego, a resposta foi: “não sei, você não se decide até agora”.
Finalmente, após um incidente na cozinha, derivado do facto de a colega de Carolina colocar pães no forno, sem o seu consentimento e, alegadamente, por distracção, os pães queimarem, o que provocou uma fumaça na cozinha e na sala, o embaixador, encontrou a razão perfeita.
Foi então que convocou, para uma reunião, o seu conselheiro, a secretária, a governanta e a cozinheira, no caso, Carolina. Realizada em Março último, o embaixador informou que estava a perder peso, devido à má alimentação, acrescentando que a cozinheira não tinha higiene e cheirava mal e que, por isso, deveria ser despedida.
Após isso, mais tarde, para acalmar os ânimos de Carolina, confidenciou-lhe que não se tratava de um despedimento, mas de uma repreensão e que ligaria, no final do mês, para retornar ao serviço. Entretanto, segundo colegas, uma jovem, sobrinha da namorada do embaixador, estava a fazer teste no local, para ser a nova cozinheira.
Diante do facto, por três vezes, Carolina voltou ao serviço, para ver esclarecida, junto do embaixador, a situação do seu emprego, pelo que, na última vez, o diplomata respondeu “já não há emprego para ti, já tenho uma nova cozinheira que aceitou viver comigo, coisa que nunca aceitaste”.
Assédio é prática corrente na casa do embaixador
Inconformada com a decisão do seu então patrão, Carolina recorreu à Inspecção Geral do Trabalho, no dia 10 de Junho, onde informou tudo o que passou, inclusive as cenas de assédio, conforme consta de um acordo de mediação da IGT.
O embaixador, representado pela sua secretária, Madalena Flora, ficou concordou que Carolina Afonso seria indemnizada com um valor de 2.202.000,00 (dois milhões e duzentos e dois mil kwanzas), uma semana depois daquela mediação, por via de uma transferência bancária.
Todavia, semanas após semanas, o tempo passava e o dinheiro nunca chegou à conta bancária de Carolina Afonso que, inquieta, solicitou, numa carta, a intervenção do Ministério das Relações Exteriores (MIREX), mas, até à data presente, não se resolveu. Por isso, deu entrada, no mês passado, a um processo ao tribunal que até aqui não tem número.
Carolina não é o primeiro caso de assédio naquela residência. Conforme nos conta, à antiga lavadeira, foi feita a promessa de ser levada a outro país, aquando do seu próximo mandato. No entanto, ao rejeitar as atitudes de Marcos Andeme, foi expulsa. Outras pessoas, que preferiu não mencionar, tiveram o mesmo destino.
Carolina Afonso denuncia, ainda, certa impunidade deste diplomata que, sem motivos plausíveis, tem despedido funcionários. Há dois anos, despediu o motorista que, seguidamente, queixou-se à imprensa, mas, destemido, o embaixador garantiu que não haveria nada.
Em busca do contraditório, o Jornal O Crime tentou contacto com o embaixador Marcos Andeme, tendo este pedido que aguardássemos por cinco minutos, na primeira chamada. Quando voltamos à ligação, fomos atendidos por uma suposta secretária, que nem aceitou se identificar.
Questionada sobre os assédios a que Carolina denunciou ter sido vítima, diz que nada sabe a respeito, muito menos ainda sobre a indeminização a favor daquela.
Inconformada com a decisão do seu então patrão, Carolina recorreu à Inspecção Geral do Trabalho, no dia 10 de Junho, onde informou tudo o que passou, inclusive as cenas de assédio, conforme consta de um acordo de mediação da IGT.
O embaixador, representado pela sua secretária, Madalena Flora, ficou concordou que Carolina Afonso seria indemnizada com um valor de 2.202.000,00 (dois milhões e duzentos e dois mil kwanzas), uma semana depois daquela mediação, por via de uma transferência bancária.
Todavia, semanas após semanas, o tempo passava e o dinheiro nunca chegou à conta bancária de Carolina Afonso que, inquieta, solicitou, numa carta, a intervenção do Ministério das Relações Exteriores (MIREX), mas, até à data presente, não se resolveu. Por isso, deu entrada, no mês passado, a um processo ao tribunal que até aqui não tem número.
Carolina não é o primeiro caso de assédio naquela residência. Conforme nos conta, à antiga lavadeira, foi feita a promessa de ser levada a outro país, aquando do seu próximo mandato. No entanto, ao rejeitar as atitudes de Marcos Andeme, foi expulsa. Outras pessoas, que preferiu não mencionar, tiveram o mesmo destino.
Carolina Afonso denuncia, ainda, certa impunidade deste diplomata que, sem motivos plausíveis, tem despedido funcionários. Há dois anos, despediu o motorista que, seguidamente, queixou-se à imprensa, mas, destemido, o embaixador garantiu que não haveria nada.
Em busca do contraditório, o Jornal O Crime tentou contacto com o embaixador Marcos Andeme, tendo este pedido que aguardássemos por cinco minutos, na primeira chamada. Quando voltamos à ligação, fomos atendidos por uma suposta secretária, que nem aceitou se identificar.
Questionada sobre os assédios a que Carolina denunciou ter sido vítima, diz que nada sabe a respeito, muito menos ainda sobre a indeminização a favor daquela.