A Polícia do Distrito Urbano do Tala Hady apertou o cerco a estabelecimentos que ousam estar abertos acima do horário estabelecidos pelo Decreto Presidencial que declara a Situação de Calamidade Pública em Angola, através do reforço de patrulhamento auto e apeado, acção que está a contribuir para detenção e fecho desses lugares.
Por: Alberto Sebastião
Eram 22h de sexta-feira, dia 4 de Setembro, quando chegámos ao Distrito Urbano do Tala Hady, município do Cazenga, para aferir as denúncias segundo as quais os estabelecimentos naquela zona ficam abertos acima do horário estabelecido pelo Decreto Presidencial que declara a Situação de Calamidade Pública em Angola.
“Os estabelecimentos, aqui no Distrito Urbano do Tala Hady, ficam abertos acima da hora indicada pelo Decreto porque há conivência dos polícias. Podem vir e vão constatar, senhores jornalistas”, denunciou um morador.
No município tido e havido como o mais populoso da capital, chegámos a um estabelecimento no qual se vende bebidas alcoólicas, fazem cabrité e franguité, sito na rua A do actual Tala Alice e dista menos de 800 metros da 12.a Esquadra. Nessa altura o relógio já marcava 23h34.
“Neste período, segundo o Decreto sobre o Estado de Calamidade Pública, é proibido o funcionamento de estabelecimentos comerciais. Será que há uma possível conivência da Polícia?. Olha, o estabelecimento está menos de 800 metros da esquadra e está aberto”, perguntamo-nos.
O que não sabíamos, no entanto, que é a Polícia já havia passado por aí por volta das 22h12 e instou os responsáveis do estabelecimento a atender os clientes que se encontravam no local para depois fechar o mesmo tão logo atendessem todos. Não aconteceu e, por isso, quando chegámos ao local às 23h34 ainda encontrámos aberto. Pedimos meio frango com batata no valor de 1.600 kwanzas. Enquanto aguardavamos o franguité com batata, pedimos duas Eka e, mal demos o segundo gole na cerveja, apareceu a Polícia. Perdemos a sede de continuar a tomar a cerveja.
Jornalistas sentem ‘mãos pesadas’ do rigor policial
“Boa noite, senhores. Passámos por cá quando eram 22h, pedimos aos senhores para não atender mais ninguém, concluir de atender os que aqui se encontravam e depois fechar o estabelecimento, mas os senhores não o fizeram. Portanto, irão todos à esquadra connosco, incluindo os clientes”, disse um dos efectivos da Polícia.
“Meu Deus! Estamos detidos!”, dissemos, olhando para o rosto de cada um. Antes de o cenário se agravar, ligamos ao comandante da 12.a esquadra, Ngola Issenguel, demos-lhe a conhecer sobre o que se estava a passar. Dissemos-lhe que éramos jornalistas e estávamos ali para aferir uma denúncia segundo a qual há estabelecimentos na sua área de jurisdição que ficam abertos acima do horário indicado pelo Decreto sobre o Estado de Calamidade Pública com uma suposta conivência de agentes da Polícia.
O comandante entendeu-nos e louvou a nossa iniciativa, convidando-nos a prosseguir o trabalho para constatar o facto. Os polícias deixaram-nos e prosseguimos o nosso trabalho.
“Companheiro, boa iniciativa. Não há nenhuma conivência com os estabelecimentos comerciais que ficam abertos acima do horário previsto pelo Decreto, podem continuar a fazer o vosso trabalho e, em casos de situações como estas, podem voltar a ligar”, disse-nos.
Deslocamo-nos até a 5.a Avenida, já às 00h26, na qual encontrámos, para o nosso espanto, mais estabelecimentos abertos e demo-nos ao luxo de, mais uma vez, tomar uma cerveja no local para aferir se estava aberto até aquela hora por covinência ou não da Polícia.
Passados 7 minutos, apareceu a Polícia, tendo um dos agentes dito que estávamos todos detidos com sucesso. Tentámos explicar que estávamos a fazer um trabalho, mas sem êxito, mesmo mostrando a nossa identificação.
Enquanto nos pediam para subir na patrulha, insistimos em dizer que estamos a trabalhar, dizendo mesmo que o comandante da área tem conhecimento e que tivemos a pouco uma conversa via telemóvel com ele. “Jovens, mostrem o registo da conversa da chamada que vocês supostamente tiveram com o nosso comandante”, disse um dos agentes, num tom arrogante. Mostramos o registo da chamada e comprovou o facto, ao que nos pediu para terminar de tomar a Cuca e, no fim, se predispuseram a nos convidar para andarmos mais para constar o trabalho deles, mas pareceu-nos desnecessário por razões alheias à nossa vontade.
“Colegas, não me pareceu haver alguma conivência por parte da Polícia quanto aos estabelecimentos comerciais que ficam abertos acima do horário indicado pelo Decreto sobre o Estado de Calamidade Pública”, referiu o nosso fotógrafo em serviço.
Para além do aperto ao cerco dos estabelecimentos comerciais que ousam ficar abertos acima do horário indicado pelo Decreto, a Polícia do Distrito Urbano do Tala Hady, na pessoa do comandante da 12.a Esquadra, Ngola Issenguel, tem estado a redobrar o policiamento auto e apeado naquela circunscrição a fim de manter a ordem e tranquilidade públicas e os moradores aplaudem a medida.