Efectivo da FAN morto no interior da esquadra: AGENTES DA PNA E SIC SUSPEITOS DE ENVOLVIMENTO NA MORTE
Cerca de 15 agentes, da PNA e do SIC, estão a ser associados ao assassinato, no interior de uma esquadra, no bairro Huambo, arredores do Rocha Pinto, em Luanda, de um militar da Força Aérea Nacional (FAN).
Nzinga Manuel
O caso ocorreu no dia 24 de Junho, no bairro Huambo, arredores do Rocha Pinto, distrito urbano da Maianga, município de Luanda.
Segundo Luís Cube, irmão de Aspirante Kaminho Cube, de 32 anos, soldado da Força Aérea Nacional, até à data da sua morte, regressava à casa, sozinho, por volta das 21 horas do dia 18 do mês passado, depois de um convívio com amigos, quando deparou-se com alguns jovens que pretendiam agredi-lo. Uma vez armado, como costumava ser hábito, decidiu efectuar um disparo, de modos a inibir os pretensos agressores.
No entanto, explicou Luís Cube, esse disparo acabou por atingir a perna de uma menina que estava ao lado e, de seguida, o militar colocou-se em fuga, sob alegação de que estaria a evitar uma revanche dos familiares da menor. Aliás, acresceu, aquele não foi para sua casa, procurou abrigo junto de um amigo seu, já que ele, Aspirante, conhecia o pai da menor e sabia que era agente da Polícia.
O aludido agente da PNA, no entanto, apenas identificado por António, pai da menor alvejada, terá mobilizado um grupo composto por 15 agentes da Polícia Nacional e do SIC, com ordens de localizar o militar e dar-lhe um correctivo. “Era por volta de zero hora, quando o grupo bateu a porta da casa do meu irmão que, por sorte, não estava”, explicou Luís Cube.
Já no sábado, 19, por volta das 6 horas, António regressou à casa do militar, mas também não o encontrou, ao que consultou os vizinhos e estes disseram não o terem visto.
Ao aperceberem-se da situação, os colegas de Aspirante Kaminho Cube ligaram para si, tendo ele afirmado que estava a par de tudo e que, na segunda-feira, iria apresentar-se junto da Polícia judicial Militar, para participar o assunto. Em tal dia, 28/06, dois dias antes da sua morte, Aspirante participou o caso ao major Catraio, da PJ que, não tardou, recebeu um telefonema de um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC), identificado apenas por Boneco, pertencente à esquadra da Kapipa, na localidade onde o incidente aconteceu.
Pouco tempo depois, apareceram na Base Aérea o referido agente Boneco, do SIC, dois colegas, assim como o pai da menor e mais uma cidadã que era tratada por “sua excelência”. De seguida, aconteceu uma pequena reunião na presença do major da PJ e demais elementos do SIC, do pai da menor e do acusado, onde se questionou a Aspirante sobre o paradeiro da pistola, tendo respondido que desconhecia, pois, segundo ele, havia caído tão logo se colocou em fuga.
Terminada a reunião, o jovem de 32 anos foi convidado a seguir os agentes do SIC até à referida esquadra. Algumas horas depois, os colegas do malogrado dirigiram-se até à esquadra, tendo encontrado o jovem de calções e camisola, apresentando sinais de sangramento no braço direito e na coluna vertebral e a sua farda colocada por cima da mesa do oficial Boneco.
Preocupados, os colegas procuraram saber o que se estava a passar, tendo o agente Boneco informado que Aspirante foi torturado para dizer onde estava a pistola. Daí, os militares deixaram a esquadra e seguiram de volta para a Base Aérea, onde comunicaram a situação aos seus superiores.
Horas depois, os colegas de Aspirante regressaram à esquadra do Kapipa, mas foram informados que aquele foi transferido para a 8.ª Esquadra, no bairro Prenda, para onde se deslocaram e, novamente, não o encontraram. Depois, foram informados por Boneco, a quem haviam telefonado, que o mesmo se encontrava na esquadra do bairro Huambo.
Já na terça-feira, 29, os colegas dirigiram-se para a referida esquadra, deixaram ficar a refeição, mas não o viram. Regressados à base, constituíram uma delegação, a fim de, na quarta-feira, dia 30, irem à esquadra do bairro Huambo, para obterem mais informações.
Segundo o irmão do malogrado, a comitiva, constituída por um coronel e dois majores ,deslocou-se até aquela esquadra, onde encontraram o seu comandante, identificado apenas por Sabino, de quem solicitaram contacto com o detido, mas este rejeitou, alegando que foi orientado a não permitir nenhuma visita ao detido, enquanto não fosse ouvido.
A orientação, segundo o comandante Sabino, tinha sido baixada por Boneco, o oficial do SIC que estava com o processo. Os oficiais da Força Aérea insistiram, pedindo que, ao menos, o pudessem saudar, mas não tiveram sucesso.
Para satisfazer a curiosidade dos oficiais da FAN, o comandante pegou no seu telefone e mostrou uma foto do detido, que apresentava sinais de tortura, com os olhos avermelhados, informando à delegação que o detido seria ouvido por um procurador na quinta-feira, 01/07.
Chegada a quinta-feira, os oficiais da Força Área ligaram ao comandante Sabino, para confirmar a audição naquele dia, tendo daquele ouvido que o procurador não tinha chegado, mas que o acto passaria para sexta-feira, 02, quando, na verdade, o jovem militar havia falecido na quarta-feira, 30.
“Detido teve choque medular”
Ao tomarem conhecimento da morte do seu ente, os familiares deslocaram-se até à esquadra para confirmar se o cadáver em questão era, de facto, de Aspirante Cube, mas foram informados que o mesmo já tinha sido transportado para a morgue do Hospital Maria Pia.
Na segunda-feira, os familiares dirigiram-se para a morgue, a fim de realizarem a autópsia que, depois de concluída, veio a revelar que o detido teve um choque medular, uma fractura da coluna vertebral, sugerindo fora agredido fisicamente com objectos contundentes.
Contudo, vários são os questionamentos que agora fazem os familiares da vítima, desde as razões que levaram o major da Polícia Judicial Militar a “entregar” o seu familiar aos agentes do SIC, e por que aquele foi transferido da esquadra do Kapipa para o bairro Huambo.
Aspirante Kaminho Cube, de 32 anos, deixa viúva e três filhos.