1º parte: Neto de José Eduardo dos Santos denuncia: “Altas figuras da Lunda-Norte pretendem receber-nos a mina de diamante”
Júlio Ngoi, filho de Nguituka Josefa, primogénita do ex-Presidente da República, José Eduardo Santos, reaparece, doze anos depois, para denunciar que altas figuras da província da Lunda-Norte pretendem ficar com a mina de diamante que partilha com a sua mãe há 4 anos. Aumentando o tom da crítica, ele acrescenta que João Lourenço não faz qualquer intervenção, como espera que venha a acontecer.
Júlio Ngoi, filho de Nguituka Josefa, procurou este jornal quatro anos depois de um direito de resposta relativo a uma matéria que dava conta de que o actual Presidente da República, João Lourenço, teria recebido uma mina de diamante que José Eduardo dos Santos teria dado à sua mãe no período em que esta surgiu a reivindicar reconhecimento da paternidade. Mas o assunto em destaque é outro.
Júlio Ngoi apresenta-se como director da Cooperativa JEFRM TRADING.S.À, sita na província da Lunda-Norte. A localidade é Sombueji, município de Cambulo, sector do Muca.
A cooperativa funciona naquela localidade desde 2017, ano em que, segundo o nosso interlocutor, lhes foi cedida a mina de diamantes pelos sobas daquela região, e não pelo antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, como noticiado por alguma imprensa. “Não foi o avô José Eduardo que deu esta mina à mamã, que já tratou da legalização. Muitos pensam que a mamã é congolesa, mas a mamã é lunda”, indica, admitindo que o facto de ser filha de quem é possa ter pesado na decisão dos sobas.
Foi o resultado, acrescenta, da aparição da sua mãe nos órgãos de comunicação social como filha de José Eduardo dos Santos.
“Muitos não sabem que nós viemos de uma família de sucesso, o meu pai, no ano de 2000, foi um dos homens mais ricos da Lunda-Norte e isso é que causou a sua morte. O meu pai era um empresário da UNITA, chamado Adriano Ngoi, mais conhecido por Frize, e morreu vítima de envenenamento. Nós não somos pedintes, como muitos pensam, e que tudo que temos hoje foi o ex-presidente que nos deu”, esclareceu.
Lançados estes elementos, foi categórico ao assinalar que membros do Governo pretendem receber a mina por causa de uma pedra de 250 quilates. O director da cooperativa JEFRM TRADING.S.À, Júlio Ngoi, revela que a pedra que move dirigentes da província da Lunda-Norte terá sido encontrada naquela mina.
“Sumiu de forma misteriosa. É bom ter em conta que todas as cooperativas nas lundas devem dar uma comissão aos dirigentes da província. Presume-se que um lavador e um segurança tenham desviado e vendido a pedra na África do Sul. Nesta altura eu estava doente e o meu padrasto tinha mudado a nossa equipa de funcionários de confiança, inclusive os seguranças, pelo que se terão aproveitado dessa situação para fazerem das suas”, lembrou.
Acrescenta que até a sua mãe se manifestou surpreendida, procurando saber do sucedido, após ter sido informada pelo administrador sobre o sumiço da pedra.
“Toda pedra de diamante que encontramos vendemos na Sodiam, mas sobre esta, infelizmente, não tivemos conhecimento”, prossegue.
Ele conta que o governador, enfurecido, mandou encerrar a mina sem qualquer aviso prévio. “Por volta das 18 horas surgiu no nosso estaleiro uma comissão da administração encabeçada pelo administrador, com alguns elementos do SIC e da polícia nacional, a exigirem para abandonarmos o local”, denuncia.
Júlio Ngoi disse que a equipa de trabalho recusou porque a empresa tem todos os documentos legais que habilitam a fazer explorações.
“Alguns documentos foram assinados pelo próprio administrador. Eu fiz lembrar isso , tendo ele lembrando-se que foi obrigado a fazê-lo, na altura, por causa do meu avô que estava no poder”, assinala.
Cascalho em disputa
O suposto neto de José Eduardo dos Santos diz que, hoje por hoje, trava, ao lado da mãe, uma luta em função do cascalho que se encontra em cinco camiões. O caso está na justiça e o tribunal deu razão à Cooperativa JEFRM TRADING.S.A.
“Mas, espantosamente, o cascalho foi recentemente entregue a altas figuras do governo da Lunda-norte. No final do mês passado, prenderam os nossos homens e meios a mando destas figuras”, prossegue.
Ngoi esclarece também que “a mamã nunca viveu à custa do administrador, muito menos na casa protocolar”.
O jovem adianta que o governador colocou uma outra empresa, a seu favor. “Além desta mina, nós temos uma outra, em Saurimo, e passou na televisão, quando nos foi entregue a licença pelo próprio presidente João Lourenço”, recorda.