Após executar um menor a tiros: POLÍCIA DETÉM SETE MEMBROS DA FAMÍLIA DO DEFUNTO POR VANDALISMO
Sete membros da mesma família acabaram detidos por actos de vandalismo depois da morte do seu ente, supostamente por um agente da ordem. O caso aconteceu no passado dia 4 de Julho, no município de Cacuaco, em Luanda.
Por: Costa Kilunda
O tumulto aconteceu por volta das 20 horas de sábado, dia 04, no bairro Boa Esperança, no município de Cacuaco, originado pela morte, a tiros, do adolescente Clinton Dongala Eduardo, de 16 anos.
De acordo com relatos dos familiares da vítima, tudo aconteceu quando um grupo de quatro supostos agentes da Polícia Nacional, à paisana, efectuava uma ronda a fim de identificar e capturar um alegado marginal, naquela zona. No decurso da referida operação, contam, os ditos agentes cruzaram-se com o adolescente, de regresso à casa depois de visitar um familiar.
Ali mesmo, segredou ao ‘O Crime’ o pai da vítima, foi atingido com um tiro na região do abdómen, “depois de ter sido confundido com o suposto marginal à caça”. No entanto, depois de abatido, lembrou Dongala Eduardo, “um dos agentes aproximou-se, e, ao revirar o malogrado, apercebeu-se de que haviam alvejado a pessoa errada” — tendo este dito aos demais companheiros, “cometemos um erro”.
Ademais, acrescentou, tendo reconhecido a vítima, o agente, apenas identificado por ‘Chara’, “efectuou outro disparo na cabeça com objectivo de silenciá-lo de uma vez por todas”, notou, ao acrescentar que depois disto o quarteto de supostos agentes da Polícia colocou-se em fuga.
O pai da vítima disse à nossa reportagem que o crime foi testemunhado por alguns moradores que reconheceram o aludido autor dos disparos. “E vieram contar à família o que tinha acontecido”, atestou, para mais adiante dizer, “é o Chara. E estava acompanhado por mais três agentes”.
Na sequência, tios e irmãos do malogrado e outros vizinhos que se solidarizaram com a família enlutada, decidiram vingar-se da morte do seu ente, tendo-se dirigido até à casa do suposto autor dos disparos. “Quando este viu a multidão que vinha atrás de si, fez dois tiros para o ar para dispersar a multidão, mas não teve êxito, de modo que ele e os seus amigos correram em lugar incerto”, afirmou.
Cerca de uma hora depois, contou Dongala Eduardo, o acusado reapareceu, abordo da viatura patrulha da Polícia, acompanhado por outros colegas, “alegando que a sua casa estava a ser vandalizada por marginais”, disse, acrescentado que aqueles tentavam dispersar a multidão e proteger a residência do seu colega.
Mas o caos estava instalado, que mesmo sob ameaças de morte os revoltados arredavam os pés do lugar, acto considerado pelo Comandante da Polícia de Cacuaco por vandalismo, e ordenou detenção dos mesmos. E entre os detidos estão sete pessoas parentes directo do falecido.
Ao que o ‘O Crime’ apurou, para além de se indiciar aos detidos os crimes de desobediência e vandalismo, é-lhes também atribuído a culpa pelo suposto desaparecimento, na residência do agente em causa, de um televisor plasma, um colchão, que segundo apuramos terá sido queimado pelos mesmos, bem como a quebra do vidro do carro do referido agente, de marca Toyota Starlet, estacionado no seu quintal.
“Será por esses bens que ninguém viu e supostamente desapareceram é que vão castigar os miúdos?”, questiona.
Entre os detidos estão Inácio Mampassa Afonso Lázaro, António Mampassa Anfoso Lázaro, Afonso Mampassa Lázaro, Carlos Dongala, José Eduardo, Rui Antunes e Marcelo, com idades compreendidas entre os 18 e 33 anos.
Quanto aos agente da Polícia supostamente envolvidos na morte do adolescente, o pai da vítima confirmou haver dois detidos, num procedimento criminal sob o n.º 9589/2020. Por seu turno, os sete membros da família do falecido responderam foram arrolados no processo n.º 4538/2020.
Todavia, lamenta Dongala Eduardo, apesar de a Polícia reconhecer que um dos seus efectivos terá vitimado o seu ente, a corporação sequer fez deslocar uma comissão, como gesto de reconhecimento e desculpas à família, tão pouco auxiliar com os gastos do óbito.
“A minha maior preocupação nesse instante é que se faça justiça. Exigimos que não apenas os dois, mas que os quatros agentes sejam julgados e condenados pelo crime que cometeram. Quanto aos jovens, são inocentes. Não mataram e tão pouco causaram ferimentos a alguém, por isso, apelamos para sua libertação”, apelou Dongala Eduardo.
Por seu turno, o tio do malogrado, Neves António Miguel, fez saber que o agente ‘Chara’ é um indivíduo cujo histórico é preenchido com acções indecorosas, sendo useiro e vezeiro neste tipo de comportamento. “Ele pertence a uma quadrilha liderada por um efectivo dos Serviços de Investigação Criminal (SIC) que funciona no Comando de Cacuaco”, acusou.
Realçar que a Polícia local demarcou-se das responsabilidades com as despesas do óbito alegando que o agente em causa não pertence àquela jurisdição. Contudo, confirmou que se trata de um agente dos Serviços Prisionais.
Clinton Dongala Carlos foi a enterrar no passado sábado, 11/07, no Cemitério Municipal de Viana.