ENSINO PRIVADO EM LUANDA: PROFESSORES ACORREM A CASAS DE APOSTAS PARA SOBREVIVEREM: BAIXO SALÁRIO É O PRINCIPAL MOTIVO

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O baixo salário praticado a nível das escolas privadas, em Luanda, tem “atirado” vários professores do ensino geral a casas de apostas, no sentido de colmatar as necessidades diárias.

Leal Mundunde

Acriação de melhores condições de trabalho e aumento salarial têm sido uma luta constante dos profissionais que têm a missão de formar quadros qualificados para a condução dos destinos do país. Os homens do “giz” (professores), para além de auferirem “míseros kwanzas”, são muitas, vezes, obrigados a leccionar as disciplinas com materiais próprios, que, por lei, deviam ser fornecidos pelas instituições onde ministram as aulas. Para se ter uma ideia da gravidade da questão, existem professores que ganham mensalmente entre 5 a 12 mil kwanzas, valor ínfimo se comparado a um atendente de loja ou supermercado que aufere entre trinta (30) a noventa (90) mil kwanzas.

“Os pais e encarregados de educação pensam que temos bons salários e, nem fazem ideia das grandes dificuldades que passamos no processo de ensino e aprendizagem”

Por conta disto, vários professores são obrigados a leccionarem várias disciplinas e em mais de duas escolas, para no final ter um rendimento maior, que face as despesas e ao elevado preço dos variados produtos da cesta básica não tem servido para quase nada, atirando-os de qualquer forma para as casas de apostas onde os rendimentos parecem maiores dependendo da sorte. “Há instituições privadas que pagam entre duzentos (200) a quatrocentos (400) kwanzas por cada tempo de aula, que corresponde a 45 minutos”, anuiu Domingos André, professor do ensino geral há sete anos. O docente revela ainda que tem sido um grande desafio leccionar nestas condições e que são vários os professores que ministram em vários períodos durante o dia para no final do mês somar trinta ou quarenta mil kwanzas (40.000kz) para o sustento das famílias.
Nesta ginástica diária dos professores, praticada pela necessidade de sobrevivência, são muitos os que decidiram abandonar o “giz” e se firmarem apenas em apostas desportivas (Angofoot, Premierbet e Bantubet) que, segundo os intervenientes tem gerado mais lucro do que estar numa sala de aula. “Ganho mais nas apostas do que dando aulas; mais vale ficar em casa e ganhar dinheiro apostando do que se sacrificar para, no final, ganhar 12 mil kwanzas”, declarou Domingos André.
Outro sim, a falta de alternativas e elevada taxa de desemprego no país, tem feito com que muitos professores aceitem leccionar nestes moldes, que, segundo o professor do II ciclo, António Clemente, é humilhante, pese embora algumas instituições justificam o mísero salário por incapacidade financeira reflectida no número reduzido de alunos e nos baixos preços da propina e outros emolumentos.
Em declarações, Moisés Fernando, docente há dez anos, presume ser má fé dos gestores das unidades escolares, a razão do salário precário e espera mais valorização da classe que tem a nobre missão de formar uma sociedade. Por sua vez, Nonas Mateus, docente, apela ao Estado maior seriedade e aposta no sector da educação e incentiva outros professores a reivindicarem seus direitos, sem medo, a fim de se reverter o quadro.
O quadro é crítico e o mísero salário em vigor em algumas escolas privadas, tem dificultado vários professores a se apresentarem condignamente na sala de aula, fazendo com que redobrem esforços, de maneiras a obterem outras fontes de rendimento, muitas delas, nas casas de apostas, como testemunhamos.
Para os profissionais desta classe afecto ao Ministério da Educação, o baixo salário tem sido um dos factores que cimenta a corrupção no sector, daí o crescente número de professores corruptos, que em troca de valores monetários atribuem notas aos alunos com baixo desempenho escolar. E para escapar desta acção reprovável (corrupção), muitos docentes são vistos regularmente em vários pontos de Luanda a “baterem ficha”, vulga expressão criada pelos apostadores, referindo-se ao acto de elaboração de uma selecção de jogos onde se presume o resultado dos jogos ou outros momentos que compõem uma partida. Alguns ainda apostam ao lado de alunos, porém não se intimidam, pois, a luta pela sobrevivência os coloca nesta vergonhosa situação.
“Os pais e encarregados de educação pensam que temos bons salários e, nem fazem ideia das grandes dificuldades que passamos no processo de ensino e aprendizagem”, esgrimiu Domingos André, que também reconhece existir em Luanda instituições privadas com altos salários no corpo docente e apela aos demais gestores escolares a criação de melhores políticas salariais.
Rafael José, o único Director Geral que cedeu entrevista sobre o assunto, reconhece o problema dos baixos salários e refere que a par do número reduzido de alunos e baixo valor da propina, a má gestão e ambição dos gestores têm contribuído neste que considera um “caos salarial” do corpo docente. E acresceu ainda que o comportamento, nível académico, “amiguismo”, número de disciplinas, tempo de aula e popularidade do professor determinam o vencimento mensal. Por último, o interlocutor recomenda as entidades de direito, a criação de políticas eficazes para a mudança do panorama, pois, admite que o país sai a perder, com a saída de quadros para outros sectores.

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