Insuficiência de transportes públicos: AGUDIZA SOFRIMENTO DE MILHARES DE CIDADÃOS

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Poeira, sol, calor, chuva, fome, cansaço e assaltos são algumas dificuldades que muitos cidadãos enfrentam, diariamente, em várias paragens de táxis, nas principais artérias de Luanda, numa verdadeira “batalha”, para o trajecto casa-serviço ou escola.

Por: Jaime Tabo

O dia-a-dia dos estudantes e trabalhadores, que necessitam de um transporte público, é um autêntico calvário, pois há dificuldades de várias ordens. Mesmo a saírem cedo de casa, encontrarem as paragens cheias é inevitável.

O preço de um táxi vai de AKZ 150 a 500, pelo que muita gente acaba gastando cerca de AKZ 2.000 por dia, o que fica muito difícil para quem aufere um salário de 45 mil e sustenta uma família.

Ao longo da Avenida Fidel de Castro Ruz, é possível observar as paragens abarrotadas, principalmente no desvio do Zango e no Estádio 11 de Novembro, onde as pessoas cansam-se de esperar pelo táxi com destino final Benfica. Na espera, há quem desiste e regressa à casa ou continua a trilha e atrasa no compromisso.

Nesta avenida, sentido Cacuaco-Benfica, encontrámos, quando eram 07h47minutos, a trabalhadora Joana Albina, que diz estar cansada de esperar o táxi. “Não há táxis em Luanda para tanta população. Aonde vão os autocarros, que sempre noticiam?”, questionou, almejando chegar até ao Benfica, onde trabalha.

A cidadã, de 42 anos, narra que já está na paragem do desvio do Zango desde as 7 horas, pontualmente, pelo que, “mais uma vez, vou atrasar. Daqui a pouco serei demitida do trabalho ou terei de arrendar uma casa perto do serviço”, tendo, depois, concluído “o meu salário não compensa os gastos que faço”.

Neste perímetro, na paragem do 11 de Novembro, encontramos a estudante Eva de Carvalho, que representa dezenas de colegas no mesmo local. “Eu vivo esse drama há algum tempo, desde que passei a estudar numa Universidade, no Talatona”, revelou.

“Tem sido muito difícil pegar um táxi. Os taxistas têm adulterado os preços, elevando-os, sobretudo quando aumenta o número de pessoas nas paragens. Antes, daqui para o Benfica custava 150 kwanzas, agora são 300”.

Eva, no uso da palavra, refere que, na paragem do Camama, o táxi para o Talatona é muito difícil e pode perder uma ou mais horas de espera. Questionada sobre o valor diário que empreende, AKZ 1.200 por dia foi a resposta.

Entretanto, referencia que este percurso gera um cansaço que chega a influenciar no processo de aprendizagem. “Ninguém dá o melhor de si, enquanto tiver cansado”, disse.

“A culpa é, simplesmente, da governação angolana. Tanto lutaram para o regresso às aulas, também deviam, pelo menos, estudar quais são as maiores dificuldades dos estudantes. Se antes desta pandemia já havia problemas de transportes por parte dos estudantes, o Governo sabe bem que devia olhar para este lado, disponibilizando transportes para os estudantes, assim facilitaria todos nós”, opinou.

Já na outra avenida, Deolinda Rodrigues, uma das principais do país, o drama parece pior. As pessoas, literalmente, lutam na concorrência por um lugar no táxi. Empurros, arranhões, quedas e até furtos são eventos previsíveis, quando um “azul e branco” pára diante de uma multidão de passageiros.

A equipa de reportagem do jornal O Crime descobriu que muitas pessoas acabam por largar os seus sonhos e inspirações devido a essa agrura dos transportes públicos. “Minha irmã desistiu da escola, não por falta de possibilidades para pagar as propinas, mas por falta de dinheiro para o táxi” relatou Ana Alfredo, na paragem da Vila de Viana, onde muita gente esperava por um táxi.

Nesta senda, no Kapalanga, ponto final dos autocarros oriundos do Largo das Escolas, é possível ver uma enorme fila que contabiliza cerca de mil pessoas, com um distanciamento físico de escassos centímetros, sendo que, no interior do transporte, o contacto físico entre as pessoas é inevitável, devido à lotação que, em muitos casos, ultrapassa os 75 por cento, actualmente recomendado pelas autoridades.

Recolher obrigatório versus estudantes nocturnos

Ana Handanga vive em Viana e estuda de noite num instituto superior, no Benfica e conta-nos o drama que vive: “só posso dizer que tem sido mesmo difícil. Os preços estão altos e gasta-se muito devido às linhas curtas.

Para sustentar suas palavras, cita como exemplo: “para chegar ao Benfica, a partir do KM 30, tem de pegar Ponte do 25, de 150 kwanzas; desvio do Zango ou 11 de Novembro, 200 kwanzas, e, depois, Patriota, 150”.

E, acima disso, explica-nos Ana, os agentes da Polícia aparecem, alegando que estamos a violar o famoso decreto, que impede andar até às 22 horas e prendem-nos para pagarmos as multas…”.

No mais, o facto mesmo é que, resultante dos dissabores, quanto à questão dos transportes públicos, muitos cidadãos chegam a sofrer assaltos por saírem muito cedo e outros por voltarem muito tarde à casa. Entre estes, está o jovem Aguinaldo da Conceição, que foi vítima no seu bairro, em Viana, depois de chegar por volta das 23 horas, regressando da Universidade.

“A falta de táxi é que me fez chegar muito tarde”, referiu Aguinaldo, para quem, os taxistas deviam ser fiscalizados, para evitar que pratiquem os preços que bem entendem, dificultando a vida dos cidadãos.

Segundo Jackson Garcia, também estudante, “aumentar o número de transportes é um indicador forte, para que se solucione o problema na capital”.

Entretanto, sabe-se que Luanda conta, desde o passado dia 4, com mais 153 autocarros, para diminuir as enchentes nas paragens e melhorar a mobilidade na capital do país, somando, assim, um total de 478, ao contrário dos 4.000 de que se precisa para suportar a demanda populacional.

“Os autocarros serão colocados na via dentro de um mês, de forma paulatina, mas acreditamos que facilitará, significativamente, a vida dos cidadãos, que todos os dias usam os transportes públicos para se deslocarem de casa para os seus locais de serviço e não só”, explicou a governante, Joana Lina.

De acordo com o Ministro dos Transportes, Ricardo de Abreu, o Ministério que tutela, sob orientação do Presidente da República, tem estado a reforçar os transportes públicos e tomado outras medidas para melhorar a mobilidade no país, como a regulamentação dos táxis colectivos e mototáxis.

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